Deus e a chuva não
são culpados.
Frei Gilvander Luís Moreira[1]
Diante dos deslizamentos de terra e das
inundações, é nojento ouvir jornalistas na grande imprensa dizerem: “a chuva
está castigando ...”. “A chuva está causando estragos ...” Não é a chuva e nem
Deus que deve ser condenado. Colocar a culpa na chuva e em Deus é encobrir
o real – ideologia –, é criar uma cortina de fumaça que ofusca a realidade
beneficiando somente os adoradores do capitalismo – grandes empresários,
políticos profissionais (uma corja) e ingênuos sustentadores da engrenagem que
continua a trucidar vidas em progressão geométrica.
A chuva é benfazeja, cai sobre justos e
injustos, diz o evangelho de Mateus (Mt 5,45). A chuva é reflexo da bondade de
Deus, que é infinito amor. Deus rega com a chuva a terra que deu como herança
ao seu povo (I Rs 8,36). “Mandarei chuva no tempo certo e será uma chuva
abençoada (Ez 34,26)”, assim o profeta Ezequiel consola o povo em tempos de imperialismo
e de exílio, em tempos de escassez de chuva. A sabedoria do povo da Bíblia
reconhece que Deus, solidário e libertador, “através da chuva, alimenta os
povos, dando-lhes comida abundante (Jó 36,31).” Na Bíblia se fala de chuva mais
de cem vezes. Até no dilúvio, a chuva é vista como purificadora (cf. Gênesis 6
a 9). Sob o imperialismo dos faraós no Egito, a chuva de granizo é vista como
uma praga que fustiga os opressores, ao mesmo tempo que é uma dádiva de Deus
que liberta da opressão (cf. Gênesis 9 e 10).
A chuva não castiga e nem desabriga ninguém,
apenas revela uma injustiça socioeconômica e política existente anteriormente.
Dizer que “a chuva castiga” é mentira, é reducionismo que esconde o maior
responsável por tanta dor e tanto pranto: o sistema capitalista e a classe dominante,
que descartam as pessoas e as condenam a sobreviverem em encostas e áreas de
risco. Quem é atingido quando a chuva chega exageradamente, salvo exceções, são
as famílias que tiveram seus direitos humanos fundamentais – direito à moradia,
ao trabalho, à educação, a um salário justo, ao meio ambiente equilibrado e à
dignidade – desrespeitados pelo capitalismo neoliberal e por pessoas que adoram
o deus capital, o maior ídolo da atualidade.
Logo, gratidão eterna à chuva e ao Deus da
vida, mas ira santa e rebeldia diante dos que de fato desabrigam e golpeiam os
injustiçados.
[1] Padre da Ordem dos Carmelitas. Bacharel e
licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia, mestre em Exegese
Bíblica, doutorando em Educação na FAE/UFMG. Assessor de CEBs, CPT, CEBI e SAB.
E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.freigilvander.blogspot.com.br – face: Gilvander Moreira
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