Carta
da Lapa: Bispos da Bacia do São Francisco se posicionam em defesa do ‘Velho
Chico’
Representando as 16 dioceses banhadas pelo rio São
Francisco, nos estados de Pernambuco, Minas Gerais, Bahia e Ceará, os dez
bispos de sua bacia lançaram hoje a “Carta da Lapa”, resultado do
I Encontro dos bispos da Bacia do Rio São Francisco, realizado em Bom
Jesus da Lapa. Segue o documento na íntegra:
“À luz do Evangelho, em comunhão com o Papa Francisco e
inspirados pela carta encíclica “Laudato Sí”, nós, bispos da bacia do Rio São
Francisco, representando onze das dezesseis dioceses, diante do processo de
morte em que este Rio se encontra e das consequências que isto representa para
a população que dele depende, assumimos de forma colegiada a defesa do Velho
Chico, de seus afluentes e do povo que habita sua bacia. Como pastores a
serviço do rebanho que nos foi confiado, constatamos, com profunda dor:
(a) o sumiço de inúmeras nascentes de pequenos
subafluentes e, em consequência, o enfraquecimento dos afluentes que alimentam
o São Francisco;
(b) o aumento da demanda da água para a irrigação,
indústria, consumo humano e outros usos econômicos, sem levar em conta a
capacidade real dos rios de ceder água;
(c) a destruição gradativa das matas ciliares expondo os
rios ao assoreamento cada vez maior;
(d) a decadência visual dos rios e da biodiversidade;
(e) o aumento visível dos conflitos na disputa pela água
em toda a região;
(f) empresas sempre fazem prevalecer seus interesses e o
Estado acaba por ser legitimador de um modelo predatório de desenvolvimento.
Tudo isso vem gerando a destruição lenta e cruel da
biodiversidade do Velho Chico e, consequentemente, sua morte gradativa. Diante
dessa triste realidade, enquanto bispos da bacia do Rio São Francisco e
pastores do rebanho que nos foi confiado, propomos:
Sermos uma “Igreja em Saída”: Ir ao encontro do povo e,
como pastores, convocar os cristãos e as pessoas sensíveis à causa, para juntos
assumirmos o grande desafio de salvar o rio da morte e garantir a vida humana,
da fauna e da flora que dele dependem;
2. Sermos uma “Igreja Missionária”: Realizar visitas às
nossas comunidades, missões, peregrinações, romarias e estabelecer um diálogo
aberto com as pessoas para que entendam e assumam, à luz da fé, o cuidado com a
“Casa Comum”, particularmente, a defesa do nosso Rio;
3. Sermos uma “Igreja Profética”: Elaborar subsídios
educativos sobre meio-ambiente e o modo de preservá-lo. Utilizar os meios de
comunicação, rádios, periódicos diocesanos para levar ao maior número de
pessoas a boa nova da preservação da vida;
4. Sermos uma “Igreja Solidária”: Reforçar as iniciativas populares de recomposição florestal, recuperação de nascentes, revitalização de afluentes; incentivar a ética da responsabilidade socioambiental capaz de gerar um modo de vida sustentável de convivência com a caatinga, o cerrado e a mata atlântica; defender políticas públicas para implementação do saneamento básico, apoio à agricultura familiar, manutenção de áreas preservadas, a exemplo dos territórios das comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, etc.
4. Sermos uma “Igreja Solidária”: Reforçar as iniciativas populares de recomposição florestal, recuperação de nascentes, revitalização de afluentes; incentivar a ética da responsabilidade socioambiental capaz de gerar um modo de vida sustentável de convivência com a caatinga, o cerrado e a mata atlântica; defender políticas públicas para implementação do saneamento básico, apoio à agricultura familiar, manutenção de áreas preservadas, a exemplo dos territórios das comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, etc.
Finalmente, declaramos nossa posição em defesa do
“Repouso Sabático” para os nossos biomas a fim de que possam se reconstituir.
Particularmente, uma moratória para o Cerrado, por um período de dez anos.
Durante esse período não seria permitido nenhum projeto que desmate mais ainda
o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica, biomas que alimentam o Rio São
Francisco e dele também se alimentam.
Nesse sentido chamamos as autoridades federais, os
governadores, prefeitos, deputados, senadores, o Ministério Público, para que
assumam sua responsabilidade constitucional na defesa do Velho Chico e do seu
povo.
Que São Francisco, padroeiro da Ecologia e do Rio que
traz o seu nome, nos inspire a cuidar da Criação. Que o Bom Jesus da Lapa, de
cujo Santuário provém a água da torrente, abençoe e dê vida ao nosso Velho
Chico e ao povo do qual ele é pai e mãe. Bom Jesus da Lapa, 1º Domingo do
Advento de 2017.
Bispos Participantes:
Dom José Moreira da Silva – Bispo de Januária (MG)
Dom José Roberto Silva Carvalho – Bispo de Caetité (BA)
Dom João Santos Cardoso – Bispo de Bom Jesus da Lapa (BA)
Dom Josafá Menezes da Silva – Bispo de Barreiras (BA)
Dom Luiz Flávio Cappio, OFM – Bispo de Barra (BA)
Dom Tommaso Cascianelli, CP – Bispo de Irecê (BA)
Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM – Bispo de Juazeiro (BA)
Monsenhor Malan Carvalho – Administrador Diocesano de Petrolina (PE)
Dom Gabriele Marchesi – Bispo de Floresta (PE)
Dom Guido Zendron – Bispo de Paulo Afonso (BA)
Dom José Roberto Silva Carvalho – Bispo de Caetité (BA)
Dom João Santos Cardoso – Bispo de Bom Jesus da Lapa (BA)
Dom Josafá Menezes da Silva – Bispo de Barreiras (BA)
Dom Luiz Flávio Cappio, OFM – Bispo de Barra (BA)
Dom Tommaso Cascianelli, CP – Bispo de Irecê (BA)
Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM – Bispo de Juazeiro (BA)
Monsenhor Malan Carvalho – Administrador Diocesano de Petrolina (PE)
Dom Gabriele Marchesi – Bispo de Floresta (PE)
Dom Guido Zendron – Bispo de Paulo Afonso (BA)
Obs.: Foto de João Roberto Ripper.
Fonte: https://racismoambiental.net.br/2017/12/03/carta-da-lapa-bispos-da-bacia-do-sao-francisco-se-posicionam-em-defesa-do-velho-chico/
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