sábado, 1 de fevereiro de 2025

NOTA DE REPÚDIO - UFOP, A ESCOLA DE MINAS ESTÁ RENDIDA ÀS MINERADORAS? ATÉ QUANDO?

Indignados/as estamos, cidadãos e cidadãs de Minas Gerais que entendem que uma Universidade Pública como a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) é patrimônio indiscutível de todos nós e deveria com acuidade e retidão manter as pesquisas, a formação e a educação de seus estudantes e relacionamento com a sociedade de forma participativa, colaborativa, humanizada, respeitosa e transparente, cujos projetos, eventos científicos e atividades acadêmicas deveriam ter compromissos voltados única e exclusivamente para os interesses públicos e a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Isso é o que se espera de uma Universidade Pública que é mantida com orçamento público, fruto dos impostos que o povo paga.

Criada em 1876, a Escola de Minas deveria continuar a ser importante balaústre destes preceitos, por sua antiguidade e sua longa história na formação acadêmica, situada ainda em sítio histórico magnífico, considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO, chamando para si um importante legado científico, devido a sua grande visibilidade em nível internacional, que deveria ser severamente prezada.  A Escola de Minas é, portanto, importante herança cultural e científica e não podemos nos calar frente a atitudes medíocres e oportunistas que possam estar orbitando na mesma.

Causou-nos revolta e muitas indagações uma frase, transcrita abaixo, relacionada às “orientações gerais e regras de evento acadêmico” divulgada pela comissão organizadora para seus participantes, a ser realizado na primeira semana de fevereiro de 2025[1], cujo print foi amplamente divulgado nas redes sociais:

 

“A Organização da XXII SEMANA DE ESTUDOS DA ESCOLA DE MINAS cujo tema é: ‘Construindo Pontes para a Inclusão, Diversidade, Desenvolvimento Sustentável e Inovação na Era da Tecnologia’, que ocorrerá entre os dias 03 e 07 de fevereiro de 2025, e seus Patrocinadores, pedem aos membros presentes na mesa redonda para evitar de trazer e comentar assuntos pertinentes sobre os acidentes dos rompimentos das barragens de mineradoras, questões judiciais, aspectos sociais, sobre as vítimas, questões sobre o meio ambiente e demais assuntos voltados a esse tema”. (O grifo e caixa alta foi deles.)



Fica notória a censura e a limitação no âmbito da discussão do tema proposto. Como debater de forma minimamente qualificada o temário da mesa, envolvendo inclusão, diversidade e desenvolvimento sustentável, sem mencionar os “rompimentos das barragens de mineradoras” e “as vítimas”, por exemplo?  Isto pode ser interpretado como assédio por parte dos organizadores do evento e patrocinadores, aliás, com a anuência e complacência de seus gestores.

Não podemos permitir que tentáculos de eventuais colaboradores e patrocinadores possam incutir em limitação de conteúdo e metodologias de pesquisa dentro de uma instituição pública, atendendo aos interesses privados ou de grupos empresariais, e interferir ou cercear a formação de estudantes que deveriam ser estimulados a análises críticas, profundas, solidárias, humanitárias e muito bem contextualizadas no âmbito socioambiental. Pedimos respeito a todas as vítimas dos crimes/tragédias causados pelas mineradoras.

Exigimos que todas as autoridades que têm responsabilidade a respeito, coloquem em prática as medidas cabíveis, sejam administrativas ou judiciais, para impedir que este descalabro e esta afronta aos direitos humanos aconteçam na UFOP. Exigimos posição da Reitoria da UFOP anulando e cancelando evento tão danoso ao espírito crítico, plural, democrático e coletivo de uma Universidade Pública. Solicita-se ainda que o Ministério Público Federal-MPF apure as eventuais violações aos direitos que estão ocorrendo neste lastimável evento, verificando a sua “programação”, que parece visar a difusão da ideologia dominante das mineradoras e de suas empresas dentro de uma instituição pública para jovens estudantes e pesquisadores.  

Aguardamos explicações por parte da UFOP, esperando que, de uma vez por todas, não se permitam mais interferências de eventuais organizadores e “patrocinadores” particulares em conteúdo e programação acadêmica em instituições públicas.  

         Ouro Preto,  1º de fevereiro de 2025.

Assinam esta nota:

1 - Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais - CPT/MG

2 - Associação de Proteção Ambiental de Ouro Preto - APAOP

3 - Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva - CEDEFES

4 - Unidade Popular pelo Socialismo - UP em Minas Gerais

5 - Povo Indígena Borum-Kren

6 - Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

7 - Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Conflitos em Territórios Atingidos (Conterra)

8 - Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e Agrários – NEPRA UNIMONTES

9 - "Escola" de Direito Agrarioambiental e da Jusdiversidade

10 - Centro Acadêmico Livre de Medicina Márcio Galvão (CALMED), da UFOP

 11 - Lucimar Muniz - Atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana

12 - Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – GESTA, da UFMG

13 - Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM

14 - Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas – IHGC, de Congonhas, MG

15 – Conselho Indigenista Missionário – CIMI Leste 2

16 - Associação Nacional de Ação Indigenista - ANAI

17 - Coletivo de Teatro Político da UFOP – MOTIM

18 - Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais - GEPSA/UFOP

19 - Instituto Guaicuy

20 - COLETIVO OUTRO PRETO

21 - Assessoria Jurídica Comunitária- AJC/UFOP

22 - Núcleo de Direitos Humanos - NDH/UFOP

23 - Projeto de extensão Direitos da Pessoa com Deficiência - DPD/NDH

24 - Projeto de Extensão Ouvidoria Feminina - NDH

25 - Grupo de Pesquisa: Formação de Professores Relações Étnico -Raciais e Alteridade - Forprera-UFOP/ Cnpq

26 – Prof. Dr. Daniel de Faria Galvão, Doutor em Direito, Professor Efetivo da Universidade Federal do Acre

27 - Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental – NIISA, da UNIMONTES

28 - Associação Quadrilátero das Águas - AQUA

29 - Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana - AMAU

30 - Caritas Brasileira Regional MG

31 - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Ouro Preto (NEABI-UFOP) 

32 - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Desenvolvimento Econômico e Social da UFOP 

33 - Marcha Mundial das Mulheres - MMM

34 - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens - NACAB

35 - Comissão Regional de Enfrentamento a Mineração na Serra do Brigadeiro/Serra dos Puri.

36 - Partido Comunista Brasileiro  (PCB),  em Mariana

37 - Movimento pela Universidade Popular – MUP

38 - União da Juventude Comunista (UJC), de Mariana-Ouro Preto 

39 – Projeto Juntos para Servir, Mandatos Coletivos do Dep. Padre João Carlos e Dep. Leleco Pimentel

40 - Movimento pelas Águas do Serro e Santo Antônio do Itambé - MG

41 - Associação Brasileira de Antropologia - ABA

Obs.: Outros Movimentos Sociais e Entidades de luta por Direitos Humanos e Socioambientais que quiserem assinar esta Nota, favor enviar e-mail para frei Gilvander - gilvanderlm@gmail.com 


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