NOTA DE REPÚDIO - UFOP, A ESCOLA DE MINAS ESTÁ RENDIDA ÀS MINERADORAS? ATÉ QUANDO?
Indignados/as estamos, cidadãos e cidadãs de Minas Gerais que entendem que uma Universidade Pública como a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) é patrimônio indiscutível de todos nós e deveria com acuidade e retidão manter as pesquisas, a formação e a educação de seus estudantes e relacionamento com a sociedade de forma participativa, colaborativa, humanizada, respeitosa e transparente, cujos projetos, eventos científicos e atividades acadêmicas deveriam ter compromissos voltados única e exclusivamente para os interesses públicos e a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Isso é o que se espera de uma Universidade Pública que é mantida com orçamento público, fruto dos impostos que o povo paga.
Criada em 1876, a Escola de Minas
deveria continuar a ser importante balaústre destes preceitos, por sua
antiguidade e sua longa história na formação acadêmica, situada ainda em sítio
histórico magnífico, considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO, chamando para
si um importante legado científico, devido a sua grande visibilidade em nível
internacional, que deveria ser severamente prezada. A Escola de Minas é, portanto, importante
herança cultural e científica e não podemos nos calar frente a atitudes
medíocres e oportunistas que possam estar orbitando na mesma.
Causou-nos revolta e muitas indagações
uma frase, transcrita abaixo, relacionada às “orientações gerais e regras de evento
acadêmico” divulgada pela comissão organizadora para seus participantes, a ser
realizado na primeira semana de fevereiro de 2025[1], cujo print foi amplamente
divulgado nas redes sociais:
“A Organização da XXII SEMANA DE ESTUDOS DA ESCOLA DE MINAS cujo tema é: ‘Construindo Pontes para a Inclusão, Diversidade, Desenvolvimento Sustentável e Inovação na Era da Tecnologia’, que ocorrerá entre os dias 03 e 07 de fevereiro de 2025, e seus Patrocinadores, pedem aos membros presentes na mesa redonda para evitar de trazer e comentar assuntos pertinentes sobre os acidentes dos rompimentos das barragens de mineradoras, questões judiciais, aspectos sociais, sobre as vítimas, questões sobre o meio ambiente e demais assuntos voltados a esse tema”. (O grifo e caixa alta foi deles.)
Fica notória a censura e a limitação no
âmbito da discussão do tema proposto. Como debater de forma minimamente
qualificada o temário da mesa, envolvendo inclusão, diversidade e
desenvolvimento sustentável, sem mencionar os “rompimentos das barragens de
mineradoras” e “as vítimas”, por exemplo?
Isto pode ser interpretado como assédio por parte dos organizadores do
evento e patrocinadores, aliás, com a anuência e complacência de seus gestores.
Não podemos permitir que tentáculos de
eventuais colaboradores e patrocinadores possam incutir em limitação de
conteúdo e metodologias de pesquisa dentro de uma instituição pública, atendendo
aos interesses privados ou de grupos empresariais, e interferir ou cercear a
formação de estudantes que deveriam ser estimulados a análises críticas,
profundas, solidárias, humanitárias e muito bem contextualizadas no âmbito
socioambiental. Pedimos respeito a todas as vítimas dos crimes/tragédias causados
pelas mineradoras.
Exigimos que todas as autoridades que têm responsabilidade a
respeito, coloquem em prática as medidas cabíveis, sejam administrativas ou judiciais, para impedir que este descalabro e esta afronta aos direitos humanos
aconteçam na UFOP. Exigimos posição da Reitoria da UFOP anulando e cancelando evento
tão danoso ao espírito crítico, plural, democrático e coletivo de uma
Universidade Pública. Solicita-se ainda que o Ministério Público Federal-MPF
apure as eventuais violações aos direitos que estão ocorrendo neste lastimável evento,
verificando a sua “programação”, que parece visar a difusão da ideologia
dominante das mineradoras e de suas empresas dentro de uma instituição pública
para jovens estudantes e pesquisadores.
Aguardamos
explicações por parte da UFOP, esperando que, de uma vez por todas, não se
permitam mais interferências de eventuais organizadores e “patrocinadores” particulares
em conteúdo e programação acadêmica em instituições públicas.
Ouro Preto, 1º de fevereiro de 2025.
Assinam
esta nota:
1
- Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais - CPT/MG
2
- Associação de Proteção Ambiental de Ouro Preto - APAOP
3
- Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva - CEDEFES
4
- Unidade Popular pelo Socialismo - UP em Minas Gerais
5 - Povo Indígena Borum-Kren
6
- Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
7
- Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Conflitos em Territórios Atingidos (Conterra)
8
- Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e Agrários – NEPRA UNIMONTES
9
- "Escola" de Direito Agrarioambiental e da Jusdiversidade
10 - Centro Acadêmico Livre de Medicina Márcio Galvão (CALMED), da UFOP
11 - Lucimar Muniz - Atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana
12 - Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais –
GESTA, da UFMG
13 - Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM
14 - Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas –
IHGC, de Congonhas, MG
15 – Conselho Indigenista Missionário – CIMI Leste 2
16 - Associação Nacional de Ação Indigenista - ANAI
17 - Coletivo
de Teatro Político da UFOP – MOTIM
18 - Grupo de Estudos
e Pesquisas Socioambientais - GEPSA/UFOP
19 - Instituto
Guaicuy
20 - COLETIVO OUTRO
PRETO
21 - Assessoria
Jurídica Comunitária- AJC/UFOP
22 - Núcleo de
Direitos Humanos - NDH/UFOP
23 - Projeto de
extensão Direitos da Pessoa com Deficiência - DPD/NDH
24 - Projeto de
Extensão Ouvidoria Feminina - NDH
25 - Grupo de
Pesquisa: Formação de Professores Relações Étnico -Raciais e Alteridade -
Forprera-UFOP/ Cnpq
26 – Prof. Dr. Daniel
de Faria Galvão, Doutor em Direito, Professor Efetivo da
Universidade Federal do Acre
27 - Núcleo Interdisciplinar de Investigação
Socioambiental – NIISA, da UNIMONTES
28 - Associação Quadrilátero das Águas - AQUA
29 - Articulação
Metropolitana de Agricultura Urbana - AMAU
30 - Caritas
Brasileira Regional MG
31 - Núcleo de
Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Ouro Preto
(NEABI-UFOP)
32 - Núcleo de
Pesquisa e Extensão em Desenvolvimento Econômico e Social da UFOP
33 - Marcha Mundial
das Mulheres - MMM
34 - Núcleo de
Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens - NACAB
35 - Comissão Regional de Enfrentamento a Mineração na Serra do Brigadeiro/Serra dos Puri.
36 - Partido Comunista Brasileiro (PCB), em Mariana
37 - Movimento pela
Universidade Popular – MUP
38 - União da
Juventude Comunista (UJC), de Mariana-Ouro Preto
39 – Projeto Juntos para
Servir, Mandatos Coletivos do Dep. Padre João Carlos e Dep. Leleco Pimentel
40 - Movimento pelas
Águas do Serro e Santo Antônio do Itambé - MG
41 - Associação Brasileira de Antropologia - ABA
Obs.: Outros Movimentos Sociais e Entidades de luta por Direitos Humanos e Socioambientais que quiserem assinar esta Nota, favor enviar e-mail para frei Gilvander - gilvanderlm@gmail.com
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