ITABIRA:
A OCA NA ECO/92
Pelo 1º
bispo de Itabira, MG: Dom Marcos Noronha.
Itabira assistiu, passivamente, à saída
de sua riqueza rolando pelas encostas do Cauê, Esmeril e Conceição.
Itabira viu, silenciosamente, o fino
cobrir suas várzeas e ilhou-se nas represas.
Itabira assistiu, pacificamente, à
desfiguração de suas serras, à eliminação de sua vegetação natural e à
intromissão de um reflorestamento alienígena.
Itabira presenciou, lentamente, à
agonia de seus mananciais. O ar de Itabira misturou-se ao pó de sua riqueza.
Itabira cresceu e também cresceram os
problemas sociais.
A cidade há muito se alimentando das
dívidas do minério de ferro, percebe que um dia ele morrerá. A enganosa
prosperidade dos primeiros tempos cede a um movimento que a miséria toma a seu
cargo e acelera.
Triste contradição: o potencial de
recursos existentes, a euforia do crescimento acelerado, mas sem diminuir o
estado de pobreza da maioria da população.
Itabira é hoje, nesta reunião
internacional, a Oca na Eco/92! E traz para a reunião o ruído das pás, das
britadeiras, dos caminhões e da dinamite de 10h e 30 min. A dinamite arrebenta
um pedaço do chão e um pedaço da gente! Ninguém se acostumou, ainda, com o
tremor das paredes e o grito silencioso da terra.
Como será a economia de Itabira, quando
cessarem todos esses ruídos? COMO SERÁ A EDUCAÇÃO? E a saúde? Como a cidade sobreviverá? Será
tudo comércio? Que será feito do solo? Como serão curadas as feridas? Que se
colocará em lugar daquilo que os vagões levam? Como será a paisagem de amanhã,
sem a formigagem eletrônica dos trens que descem a serra, no carregamento
estudado e planejado para a pressa? Sai de Itabira, a cada dia em minutos, um
pedaço feito na rolagem paciente de séculos. Algo está errado nessa urgência!
Itabira, por todas essas marcas, é o
lugar privilegiado para uma sistematizada terapia de recuperação. A ECO/92 pode
colocar aqui uma ESCOLA NACIONAL DE ENGENHARIA DE RECUPERAÇÃO DO SOLO, uma
ESCOLA NACIONAL DE ECOLOGIA, dentro de Engenharia Sanitária, Geologia de Minas.
Itabira, Centenária, hoje avalia a sua
realidade. Através dos tempos, a relação Homem X Natureza ocorreu pelo processo
social de produção. A mudança no eixo da economia – passando nesse período
agro-pastoril à exploração inicial do ouro para uma indústria centrada na
extração – resultou na migração do campo para a cidade. Assim, da indústria
extrativa do ferro à atual necessidade de diversificação econômica,
gradativamente, o homem foi se desvinculando da natureza.
A Indústria Extrativa iniciou suas
atividades em Itabira há mais de 50 anos, retirando de seu solo acima de 1 (.000.000.000)
bilhão de toneladas de minério de ferro, proporcionando ao país divisas
superiores a 20 bilhões de dólares.
Como consequência, o ambiente do
Município passa por gradativas agressões e alterações, comprometendo o
ecossistema local, como também a qualidade de vida da população.
A reabilitação da terra agredida não conduzirá
por si mesma à recuperação da identidade do homem de Itabira. Itabira quer
recolher os frutos que guardamos de um final de outono, sanzonados da
terra-ferro, irrigados com o suor e lágrimas de todos aqueles que arriscam seu
futuro.
Queremos o estado da sobrevivência, só.
Queremos que o Cauê seja amanhã uma antena de pesquisa nacional, uma captação
de mundo. Queremos Itabira ligada lá longe, na distância criada pelos vagões
emendados pela pressa de extrair!
A cidade inteira será então uma escola,
uma escola no chão e não apenas no nome e no livro. Uma escola ensinando o país
a lidar com o fogo e o vento, a água e a árvore, pois cativar é mais do que
domesticar.
É o ABC de ecologia, o aprendizado do
alfabeto no chão, com infinitas possibilidades que o chão tem para a
subsistência do ser vivo.
Esta escola não virá, é claro, em lugar da
única escola de nível superior existente na cidade. Ela virá para somar e
multiplicar, assim:
- economia na cidade
mineradora
- economia de sobrevivência
na cidade mineradora
- uso criativo do solo na
cidade mineradora
- saúde na cidade mineradora
- EDUCAÇÃO NA CIDADE
MINERADORA
Queremos
uma escola de aprendizado da natureza, o resto virá daí.
Queremos que Itabira seja, na reunião
internacional, o óikos, a concha imensa acolhedora, o lugar de nascimento de
novas criações, a cidade educativa da relação homem x animal, cidade educativa
para a docência de comportamento coletivo e não de elitismo.
Cidade para todos e não para alguns, cidade
para o 1º, o 2º e o 3º graus, docência
de todos os modos de o homem viver no chão, FACULDADE TECNOLÓGICA inovadora, cura
e conserto do chão e das almas.
É este o grito de Itabira: o grito pelo vazio
deixado pelo ouro e o ferro. Sabemos que só a educação poderá reverter este
quadro. Queremos que nossa mensagem seja ouvida pelo mundo todo: Itabira quer
uma FACULDADE TECNOLÓGICA ORIENTADA PARA A ECOLOGIA.
Conferência de dom Marcos Antônio Noronha, em
Itabira, no ano de 1.992, ano em que aconteceu a ECO no Rio de Janeiro.
Itabira – pedra dura, hoje pedra Oca – na Eco
logia.
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