Antério
Mânica no banco dos réus, indiciado como um dos 4 mandantes da Chacina dos
fiscais em Unaí, MG, em 28/01/2004.
Hoje, dia 04/11/2015,
às 21:00h, terminou o 1º dia do Julgamento de Antério Mânica, ex-prefeito de
Unaí, MG, pelo PSDB. Antério está no banco dos réus como um dos quatro
mandantes da Chacina dos fiscais em Unaí, dia 28/01/2004. Em uma manhã de
quarta-feira chuvosa foram barbaramente assassinados os fiscais Eratóstenes de Almeida Gonçalves (o Tote), de 42 anos,
João Batista Soares Lage, 50 anos, e Nelson José da Silva, 52 anos, e o
motorista Aílton Pereira de Oliveira, 52 anos, idades que tinham quando foram
assassinados.
Eis,
abaixo, um pouco do que ouvi no tribunal do júri hoje na parte da tarde durante
declarações de testemunhas de acusação e de defesa.
Segundo
a Polícia Federal (PF), que investigava a chacina de Unaí, após a prisão dos
pistoleiros, os Mânicas se desesperaram e começaram a ordenar sumiço de
documentos. Um Mânica teria dito: “Não adiantou fazer aquilo.” A PF apurou
também que os Mânicas sempre tentaram esconder que havia irregularidades nas
fazendas deles.
A
Polícia Federal, alegando que não tinha tido tempo hábil para investigar tudo e
concluir o inquérito após as prisões dos jagunços, alertou, na conclusão, que o
inquérito era parcial e que mais apurações precisavam ser feitas. Assim o
delegado federal pediu que complementações fossem feitas. Isso está no 19º volume
do processo.
O
Ministério Público Federal denunciou Antério Mânica por não ter dúvida de que ele
é um dos mandantes da chacina de Unaí. O pistoleiro Erinaldo afirmou que viu
Antério Mânica em um Fiat Marea e percebeu: “o patrão está bravo.”
Várias
testemunhas de Antério Mânica eram pessoas com estreito relacionamento de
amizade ou parceiros políticos. Uma testemunha que falou bem de Antério Mânica
também declarou que “Norberto Mânica era uma pessoa trabalhadora, boníssima e
comia junto com os trabalhadores”. Mas Norberto Mânica foi condenado a 100 anos
de cadeia como um dos mandantes da chacina de Unaí.
Antério
Mânica e sua filha Márcia também foram multados pelo fiscal Nelson José da
Silva, uma das vítimas. Uma testemunha disse que os Mânicas romperam a sociedade
naturalmente, sem brigar. Disse que Antério era o líder da família, era o que
administrava tudo, enquanto os outros irmãos produziam. Se não brigaram, se
continuavam sendo irmãos, por que Antério Mânica não admoestou Norberto Mânica,
Hugo Pimenta e José Alberto quando esses tramavam matar o fiscal Nelson?
Uma
testemunha amiga do Antério Mânica declarou ter dito ao fiscal Nelson: “Dr.
Nelson, essa fiscalização vai deixar muita gente sem emprego.” Nelson retrucou
na hora: “Não podemos abrir mão da nossa missão que é fiscalizar.”
Uma
testemunha declarou que Antério Mânica disse durante campanha eleitoral: “Bala
que mata fiscal também mata candidato.”
Em
fevereiro de 2003, o fiscal Nelson apresentou relatório denunciando as ameaças
que estava sofrendo.
Uma
testemunha declarou: “Antério estava muito insatisfeito com as fiscalizações.”
Dia
17/12/2003, 1 mês e 11 dias antes de ser assassinado, o fiscal Nelson José da
Silva fiscalizou e autuou fazenda de Antério Mânica e da filha Márcia, porque
havia trabalhadores ganhando abaixo do salário mínimo, sem carteira assinada,
além de outras irregularidades.
Uma
testemunha de acusação disse que viu Antério Mânica junto com Norberto, Hugo e
José Alberto na véspera da chacina.
Os
pistoleiros e os mandantes seguiram o fiscal Nelson durante uns dois meses para
matá-lo.
O
Ministério Público Federal indiciou Antério Mânica após a Polícia Federal fazer
uma série de complementação de provas.
Antério
Mânica recebeu ligações e ligou duas vezes para a Delegacia Regional do
Trabalho em Paracatu na manhã da chacina para confirmar se todos os fiscais
tinham sido mortos.
Testemunhas
alegaram que Antério Mânica faz assistência social, caridade. Isso me fez
recordar Hannah Arendt que afirmava existir cruel caridade. Servir caridade/assistência
social e servir agrotóxico e trabalho escravo não combinam. Se em Unaí não
tivesse sendo jogado nas lavouras do agronegócio um exagero de agrotóxico, não
haveria tanta gente com câncer. Segundo Relatório do padre João Carlos, da
Comissão contra o uso de agrotóxico da Câmara Federal, em Unaí, em média, a cada
ano cerca de 1.260 pessoas contraem câncer, certamente pelo uso indiscriminado
de agrotóxico. Além do Câncer do agrotóxico, o câncer do latifúndio, do
trabalho escravo e da falta de reforma agrária seguem, de forma disfarçada,
matando trabalhadores. Sobre isso não podemos nos calar.
O
julgamento deve durar três dias. Há seis mulheres e um homem no corpo de
jurado. Que justiça seja feita ainda que tardia!
Abraço
na luta por justiça,
Frei
Gilvander Moreira.
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