Grande Sertão realiza
3ª pré-Romaria da 20ª Romaria da Águas e da Terra de Minas Gerais, em Chapada
Gaúcha, no norte de MG.
Dia 27
de maio de 2017, na cidade de Chapada Gaúcha, norte de Minas Gerais, Diocese de
Januária, aconteceu a 3ª Pré-Romaria da 20ª Romaria das Águas e da Terra de
Minas Gerais, ação preparatória para a 20ª Romaria que acontecerá em Unaí, no
dia 23 de julho de 2017, das 06h00 às 17h00.
A pré-Romaria em Chapada nasceu do desejo de romper com a ideia de
fronteiras territoriais e eclesiais com intuito de construir ações conjuntas para
o bem comum. Essa região é conhecida como Grande Sertão Veredas devido ser
cenário vivo da obra de mesmo nome do escritor João Guimarães Rosa. No romance,
Rosa descreve os rios como caminhos que levam aos pousos seguros da tropa de
Riobaldo e o frescor da vida.
Esse
foi o tom que a Comissão Organizadora trouxe para o evento: o encantamento
pelas águas e com a cultura local para transformação social. Desta forma, mobilizamos escolas, comunidades
tradicionais, comércio local e agentes do poder público compondo um grande rio:
“caminharemos pelas ruas de Chapada nos percebemos como as águas que correm
para o Velho Chico. Desejaremos uma correnteza firme, viva e limpa”, afirmou
uma das coordenadoras antes da saída dos romeiros e romeiras da irmã água e da
mãe terra.
A 3ª
pré-Romaria contou com a participação de 1.000 pessoas do campo e da cidade.
Com representação das comunidades de Ribeirão de Areia, Buraquinhos, Barrocão,
Rio dos Bois e distrito de Serra das Araras, como também, representantes das
cidades de Paracatu, Unaí, Arinos, Capitão Eneias, Januária e Belo Horizonte.
Como
metodologia, a pré-romaria utilizou-se de estações representando os afluentes
do rio São Francisco, ao total, foram sete. A primeira foi aberta pelo
superintendente da Fundação Pró-Natureza, César Victor, com o rio Carinhanha.
Esse é um dos principais afluentes do rio São Francisco livre de barramento e
nasce no Parque Nacional do Grande Sertão Veredas. É berçário de uma natureza
profunda e lugar de vida de muitas comunidades do Mosaico Sertão
Veredas-Peruaçu.
Na 2ª
estação foi trazido o rio Ribeirão de Areia, apresentado pelo ex-prefeito José
Raimundo Ribeiro Gomes e José Adilson, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
(STR). O Ribeirão é tributário da bacia do rio Urucuia. Nessa estação foi
chamada atenção para a concentração de terras e a importância da regularização
fundiária. Foi recordado que a lendária Fazenda Menino foi palco de muitos
conflitos agrários, sendo vários camponeses assassinados, entre eles os
camponeses posseiros Januário Emídio dos Santos e José Natal Romão assassinados
dia 14/11/1990, de emboscada, enquanto trabalhavam na carvoeira, na posse
deles. E, Eloy Ferreira da Silva, presidente do STR do município de São
Francisco, no norte de Minas, assassinado em 16 de dezembro de 1984.
Pelas
águas do rio Acari, Chicão, secretário de Agricultura e Meio Ambiente de
Chapada Gaúcha, apresentou reflexões importantes para a convivência com o semi-árido
e para os leitos já secos. Ainda, sobre a importância de se plantar árvores e
de conhecer a realidade vivida.
Chamando
as águas do rio Pardo, a 4ª estação foi aberta por José Correia Quintal,
conhecido como Zezu, presidente do STR de Chapada Gaúcha. A parada foi na rua
Eloi Ferreira, um dos principais sindicalistas de Minas Gerais. Nessa parada a reflexão
foi sobre a organização e luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais por
terra e por reforma agrária.
A
penúltima estação foi do rio Urucuia, “o rio de mais amor” para Guimarães Rosa.
Aqui foi lembrado a luta das mulheres camponesas representada por Camila
Almeida, de Buritis. A mesma não pode estar presente, mas foi referendada pela
organização como representação das águas pela vida.
A caminhada
pelo grande rio finalizou no rio São Francisco, lugar que encontramos o arco-íris
e a esperança de continuar a seguir nessa travessia proposta pelo movimento de
Romarias das águas e da terra. A Praça Euclésio Gobbi já enfeitada para receber
as romeiras e os romeiros foi povoada por enfeites, música, poesia e palavra de
Deus, a partir da Bíblia e dos clamores da irmã água, da mãe terra e dos filhos
e filhas da terra e das águas. A programação cultural contou com a curadoria de
Daiana Campos e Lili Viana, mesclando tradição e apresentação artística.
Em
seguida, a abertura da celebração da palavra foi feita pelo terno de Folia de
Reis da Comunidade Veredeira de São Joaquim. A oferta da palavra foi realizada
pelo Padre Tiago, pároco da Paróquia de Santo Agostinho, e pelo Frei Gilvander
Moreira, da CPT. Ouvimos o Evangelho da Partilha dos Pães (João 6,1-15), onde
está a pedagogia emancipatória do camponês Jesus de Nazaré. Em seguida, os
participantes foram encantados por uma grande roda mística e ecumênica, lançado
aos corações atentos o chamado do Papa Francisco para cuidarmos da natureza que
habita em nós, que nos rodeia e nos sustenta.
Para
fechar a noite, nas violas do rio Pardo, Zezu e seus filhos, apresentação do
Ponto de Cultura Seu Duchim com uma saudação ao Velho Chico e as brincadeiras
de Reis. O show principal ficou por conta dos artistas Toninho e Batinha de
Serra das Araras, Daiana Campos, Lili Viana e a banda Trio Sertanejo.
A
coordenação geral foi realizada pela Comissão Organizadora formada por
representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Chapada Gaúcha, Câmara
Municipal, Prefeitura Municipal, Paróquia Santo Agostinho, Escola Municipal
Onias Torres Guedes, Escola Municipal Santo Agostinho, Escola Estadual Moacir
Candido, Escola Estadual Dário Carneiro, Escola Estadual Serra das Araras,
Santuário de Santo Antônio, ADISC, Funatura, ICMBio e Instituto Rosa e Sertão.
Quem
participou saiu de Chapada Gaúcha feliz da vida e grato por ter vivenciado um
acontecimento histórico. Que beleza revolucionária!
A 4ª
pré-Romaria será em Arinos dia 09 de junho próximo (2017). Estamos realizando
11 pré-romarias até chegarmos dia 23 de julho de 2017 para a Celebração “final”
da 20ª Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Unaí, o município
campeão do Brasil em área irrigada - em 2104, havia 663 pivôs irrigando 61.151
hectares (Dados da ANA, 2014), mas também em devastação socioambiental. E
depois teremos pós-romaria. Não percam o Trem da Romaria das águas e da terra.
Pule dentro e venha participar. Somos filhos e filhas do Deus da vida, mas também
somos filhos e filhas da terra e das águas. Feliz quem ouve os clamores das águas
e da terra tão violentada pelo capitalismo e pelos capitalistas, com agronegócio
e hidronegócio.
Acompanhe
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