Incêndio
no Museu Nacional/RJ: O descaso com a memória, com a história - Dra. Alenice
Baeta, Cacica Marinalva e Vice-Cacique Merong, ambos do Povo indígena Kamakã
Mongoió, em entrevista a frei Gilvander. 03/9/2018.
A noite do dia 2 de setembro
de 2018 jamais será apagada da mente e da alma dos brasileiros e das brasileiras,
mesmo daqueles que não têm a ideia plena do que se perdeu no incêndio do Museu
de História Natural, da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. "Uma
tragédia!" Dizem alguns, perplexos com a força das chamas que, altas,
anunciavam a noite sombria do domingo. Não, não foi simplesmente uma tragédia,
considerando que tragédia tem a ver com fatalidade, com o inesperado. Podemos
dizer, isso sim, que esse incêndio de tão grandes proporções, foi uma tragédia
anunciada, resultado de um projeto de governo que, tendo como cúmplice, grande
parte da sociedade movida pela ambição do capital e dos capitalistas, despreza
e reduz à insignificância tudo o que é relacionado à educação, à ciência, à
cultura, à história. Para esse grupo dominante só merecem atenção investimentos
que movimentam o deus mercado, que geram lucros às suas ganância e ambição
desmedidas. O mundo pôde assistir ao vivo as chamas que, tornando escura e
longa a noite de 02/9/2018, consumiam coleções e mais coleções e peças de
vários lugares do mundo, bibliotecas, múmias egípcias, registros de pesquisas,
artefatos indígenas... Em meio a tantas raridades, muitas que só havia ali, no
Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Entre as preciosidades históricas, a
“Luzia”, um dos mais antigos esqueletos da humanidade, que teve sua face
reconstituída por profissionais do Museu, e foi consumida pelas chamas, dando
forma à metáfora da vida que vai sendo apagada e destruída pela falta de
políticas públicas que respeitem, de fato, a dignidade humana, pela omissão
dos/das que, podendo fazer, não fazem, negligenciam, e pela triste cumplicidade
dos/das que se calam, como se não fossem parte dessa história e corresponsáveis
pelos rumos a essa história dados. Dói, e dói muito, saber da perda imensurável
do acervo de Línguas Indígenas, as referências etnológicas e arqueológicas das
etnias do Brasil, desde o século XVI. Como se já não bastassem a opressão, a
violência, as injustiças, o desrespeito aos seus direitos, nossos parentes
indígenas veem transformada em cinzas sua memória, sua história... Uma Memória
Histórica de 200 anos foi apagada, foi destruída na noite do dia 02/9/2018. O
Brasil que, sendo de grande extensão territorial, rico de cultura, de tradições
belíssimas, de bens naturais, com grandes avanços na ciência e tecnologia, com
brasileiros e brasileiras que não se deixam abater pelo cansaço da luta e por
tantas injustiças... Esse mesmo Brasil mostrou ao mundo a face que lhe foi dada
pelas chamas desse incêndio que destruiu praticamente todo o Museu Nacional da
Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro: um país que não reconhece em sua
história, em seu patrimônio cultural e científico, elementos fundamentais que
podem orientar para a construção de um país melhor, fraterno, justo e feliz.
Resta saber se saberemos (re)agir e ressurgir dessas cinzas que podem se
espalhar com o vento ou vamos deixar arderem ainda mais as chamas da
destruição. Nesse vídeo, frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI,
conversa sobre esse incêndio criminoso com a Dra. Alenice Baeta, professora,
arqueóloga e historiadora, com a Cacica Marinalva Kamakã e o Vice-Cacique
Merong Kamakã, após participarem de uma Mesa de Negociação do Governo de Minas
Gerais, na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, na luta em defesa da
Retomada Indígena da Aldeia Kamakã Grayra, em Esmeraldas/MG.
Edição de Nádia Oliveira, da
Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 03/9/2018.
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