quarta-feira, 31 de outubro de 2018

CARTA DE JEQUITIBÁ: Povos Tradicionais de um Rio




CARTA DE JEQUITIBÁ: Povos Tradicionais de um Rio
No dia 08 de setembro de 2018 durante o FestiVelhas: Festival de Arte e Cultura do Rio das Velhas, ocorrido na cidade de Jequitibá na ocasião do 30º Festival de Folclore,  aconteceu uma roda de conversa organizada pelo Projeto Manuelzão/UFMG, que tratou sobre os “Povos Tradicionais de um Rio”. Além de inúmeros participantes, destaca-se a presença de representantes indígenas, quilombolas, povos de terreiro, carroceiros, tropeiros, agricultores familiares e benzedeiros.
O encontro foi muito rico valorizando os povos tradicionais e a sua relação harmoniosa com o ambiente. Essas tradições muitas vezes são invisibilizadas, assim como a maioria dos cursos d’água da cidade, como se fossem um entrave ao progresso. Mas, no entanto, os relatos e as práticas demonstram grandes preocupações com as questões ambientais, dos animais e das águas também no ambiente urbano. Nos dias atuais ainda existem números expressivos dessas populações nas periferias dos grandes centros e cidades, e acreditamos na importância do seu reconhecimento.
Esta carta vem reiterar o reconhecimento e o apoio do Projeto Manuelzão à luta das comunidades tradicionais e o direito à dignidade e às diferenças compreendendo que estes povos são os verdadeiros guardiões e protetores da biodiversidade do vale e de suas sagradas águas – munida de um rico patrimônio imaterial, saber-fazer, memórias vividas e compartilhadas.
Sabe-se que foi a partir da luta dos povos tribais e comunidades tradicionais de todo o planeta, que foi construído um arcabouço jurídico internacional que deu sustentação à elaboração de políticas públicas e de gestão voltadas para os direitos humanos e para a alteridade cultural em vários países da América Latina.  O Brasil, em 2004, ratifica, a emblemática Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho-OIT de 1989, que reconhece como critério fundamental os elementos de autoidentificação dos povos e das comunidades tradicionais, bem como, o conceito de terras tradicionalmente ocupadas aliado à noção de territorialidades específicas e etnicamente construídas.
A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial adotada em Paris em evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura-UNESCO, reitera, por sua vez, o respeito ao patrimônio cultural imaterial das comunidades tradicionais, grupos e indivíduos envolvidos, tendo sido em 2006, adotada pelo Brasil por meio do Decreto n o 5.753 de 12 de abril de 2006.
Cita-se ainda a importante Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, assinada em Paris em 20 de outubro de 2005, que reconhece a natureza específica de atividades tradicionais, bens e serviços culturais enquanto portadores de identidades, valores e significados.
Merece também destaque o Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais,  que  estabelece como objetivo geral o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia de seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, seus conhecimentos tradicionais, suas relações de manejo e interação com a  natureza, suas formas de organização socioambiental e suas instituições.
Nutrindo-se do arcabouço legal, ético e normativo acima mencionado, enumera-se abaixo, as principais proposições e orientações do evento:
Lamentou-se profundamente o gravíssimo incêndio ocorrido no dia 02 de setembro de 2018, na edificação histórica tombada, sede do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro-RJ, que destruiu um acervo magnífico e inigualável, estimado em aproximadamente vinte milhões de itens das áreas da mineralogia, petrologia, paleontologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia, provenientes de várias partes do país e do mundo. Destacamos a perda imensurável de vestígios parciais  arqueológicos de Luzia (e total de muitos de seus parentes)- considerado o fóssil humano mais antigo das Américas, com cerca de 12 mil anos, descoberto na década de 1970, na Gruta da Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo, vale do rio das Velhas, Minas Gerais;
Reconhece-se que os povos tradicionais trouxeram, construíram e deixaram hábitos, técnicas, saberes, sabores e culturas para a história social e econômica do vale do rio das Velhas;
Reconhece-se que no vale do rio das Velhas, incluindo a Região Metropolitana de Belo Horizonte, há inúmeros povos e comunidades tradicionais, dentre eles, indígenas, quilombolas, ciganos, tropeiros, carroceiros, quitandeiras, faiscadores, apanhadores de flores de sempre- vivas, povos de terreiro, vazanteiros, geraizeiros, pescadores artesanais, agricultores familiares, dentre outros, que precisam ter seus direitos integrais respeitados e a sua visibilidade social garantida;
Reitera-se que os povos tradicionais são os principais protetores das águas, de suas memórias e da sua biodiversidade – proteger e recuperar o rio passa obrigatoriamente em respeitar e cuidar dos nossos povos tradicionais.

Assina a Carta de Jequitibá:
Projeto Manuelzão - UFMG.
Instituto Guaicuy - SOS Rio das Velhas.

Jequitibá, MG, 07 de setembro de 2018.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Direitos, Resistências e Visibilidade dos Povos Tradicionais na Roça Grande, que é Belo Horizonte. Chega de Intolerância!

A liderança indígena Carliusa Kiriri dando palestra
sobre a ‘Memória das Águas’ no Seminário ROÇA GRANDE
 da UEMG, em Belo Horizonte, MG, onde também relatou
a história da luta do Povo Indígena Kiriri pela terra que habitam,
em Caldas, sul de Minas. Foto: Alenice Baeta, 26/10/2018.


 

Direitos, Resistências e Visibilidade dos Povos Tradicionais na Roça Grande, que é Belo Horizonte. Chega de Intolerância!  

 No Seminário “ROÇA GRANDE - Natureza Cultura da Cidade”, organizado pelo Núcleo de pesquisa KAIPORA - Laboratório de Estudos Bioculturais -, Unidade Ibirité da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e pelo Grupo de Estudos Alteridade e Cidade, da UFMG, que ocorreu nos dias 25 e 26 de Outubro de 2018, em Belo Horizonte, aconteceram várias atividades e rodas de conversas sobre agroecologia, bem como sobre a valorização dos ofícios, saberes, sabores e fazeres dos Povos Tradicionais.
Destacamos a participação de integrantes da Comunidade Indígena Kiriri, que expuseram durante a mesa sobre ‘Memória das Águas’, coordenada pela equipe do Projeto Manuelzão/UFMG, a necessidade de solução justa e pacífica urgentemente da questão da terra onde eles habitam na região de Rio Verde, em Caldas, sul de Minas Gerais, que seria atualmente de propriedade do Estado, todavia ‘doada’ anos atrás para a UEMG, que já possui um campus nessa região. Espera-se que a sinalização por parte da própria UEMG por meio de notícia divulgada no mesmo dia desse evento por sua reitoria realmente proceda, suspendendo inclusive processo judicial de reintegração de posse, indicando que não há mesmo interesse por parte desta respeitada instituição fazer qualquer obra ou projeto nesta propriedade, abandonada há anos, destravando finalmente o processo de regularização fundiária a favor da Comunidade Indígena Kiriri de Caldas.
Nesta mesma mesa foi lida ainda a ‘Carta de Jequitibá’, elaborada na ocasião do FestiVelhas 2018 que ocorreu nos dias 6 e 7 de Setembro de 2018, no município Jequitibá, MG, onde foram  focalizados os povos tradicionais da bacia dos Rio das velhas e suas relações com o território e as águas. Este documento é emblemático, pois esta importante entidade e o Instituto Guaicuy - SOS Rio das Velhas - que os assinam formalizam o apoio à luta e aos seus direitos, se tornando mais uma entidade parceira nesta justa luta!
Na parte da tarde, houve ainda encontros que abordaram a segurança alimentar dos povos tradicionais com a presença de raizeiras, benzedeiras e parteiras. Uma segunda mesa contou com palestras de lideranças que atuam na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tais como, o vice-cacique Merong Kamacã Mongoió, do Sr. Maurício Moreira da comunidade quilombola Mangueiras, das Mãezinhas Rita, Sônia e Dalva representando os povos de terreiro, integrantes da Associação dos Carroceiros e Carroceiras Unidos de Belo Horizonte e Região Metropolitana, além de dois revitalizadores de nascentes e da natureza, no caso, que atuam na bacia do córrego Navio Baleia (Belo Horizonte), o Sr. Nonô e a artista plástica Sra. Mércia Inês do Nascimento, autora da obra: “Resgate Histórico do córrego Navio Baleia”, de 2009. Nesta oportunidade, foram expostas várias telas confeccionadas em ponto cruz, feitas pela artista que ilustram diversos tipos de cenários urbanos, algumas denunciam a degradação ambiental e cultural da capital.
Foi apresentado também o modo de vida dos carroceiros e carroceiras como integrando o patrimônio biocultural das cidades e, especificamente, de Belo Horizonte. O ofício dos carroceiros implica em um profundo conhecimento dos cavalos. A etnoecologia carroceira inclui, entre outros, saberes relacionados às madeiras mais adequadas para fabricação das carroças, uso de plantas medicinais, benzeções e outras formas de cuidado da saúde dos animais, bem como o manejo e a coleta de diversas espécies de gramíneas de crescimento espontâneo nas cidades que compõem parte da dieta oferecida aos cavalos. O modo de vida tradicional de carroceiros e cavalos também envolve formas especificas de sociabilidade, tais como as catiras e as cavalgadas, baseadas na reciprocidade, parentesco e afeto. A luta por respeito à sua história milenar, à sua tradição e à sua dignidade é uma das bandeiras dos carroceiros e carroceiras da RMBH, que estão se movimentando nas cidades no sentido de organizar as suas associações comunitárias ou coletivas, reivindicando oficialmente o seu reconhecimento como povo tradicional a partir de políticas que visam proteger todos os processos acumulativos dos grupos portadores de referência à identidade e à memória.
Os representantes do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES) e da Comissão Pastoral da TERRA (CPT) que participaram deste profícuo debate reafirmaram a necessidade da organização e da luta dos povos tradicionais.  Reiteraram as questões e dificuldades dos povos quilombolas em contexto urbano, tão bem explicitadas pelo líder Maurício cuja família habita tradicionalmente o Quilombo Mangueira, na Mata da Izidora, na capital mineira. Da mesma maneira, reforçaram a reveladora mensagem do indígena Merong, nascido em Contagem, MG, que contou a saga do seu grupo familiar Mongoió na Bahia e depois em Minas Gerais, até tomarem a justa decisão da retomada de uma terra ociosa e abandonada situada em uma fazenda da FUCAM, do Estado no município de Esmeraldas, RMBH. “Precisamos de paz para viver nesta terra... plantar, colher e viver a nossa cultura milenar. É o que queremos...”, comenta Merong.
Reiteraram o grande absurdo no que se refere às denúncias de violências e intolerância relatadas pelas representantes dos povos de terreiros sobre invasões dos seus campos sagrados, desrespeitando os seus rituais e vestes, inclusive com a subtração de atabaques e objetos religiosos, o que é inaceitável e, por isso, repudiamos com veemência. O Brasil é estado laico com liberdade religiosa garantida na Constituição Federal. Logo, discriminar e violentar as religiões de matriz afrodescendentes é inadmissível.
Por último, parabenizamos a organização e a legitimidade dos trabalhadores carroceiros e a sua importância para a história da cidade de Belo Horizonte.
O Grupo de Estudo Kaipora, da UEMG, realizou um evento muito importante, que foi na verdade um verdadeiro encontro de forças vivas tradicionais e do BEM-VIVER, buscando dar visibilidade a elas, e aos seus direitos.

Mesa Redonda sobre Povos Tradicionais com representantes
 dos povos Indígenas, quilombolas, povos de terreiros
e carroceiros. Foto: Alenice Baeta, dia 26/10/2018.
          

Fazendeiro continua invadindo território da Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa, MG.

Celebração de Semana Santa na Comunidade Tradicional
Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha,
em Salto da Divisa, em 2018. Foto: Edivaldo Ferreira.


 

Fazendeiro continua invadindo território da Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa, MG.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) já denunciou por meio de várias Notas que os moradores e moradoras da Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha, no município de Salto da Divisa, MG, vêm sofrendo, desde o ano 2014, diversas formas de ameaças, intimidações e violências, desde que iniciou a tramitação, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) de um Projeto de Lei de autoria do Deputado Estadual Carlos Pimenta – PL 1480/2015 (antigo PL 4.743/2013) - propondo alteração nos limites do Parque Estadual Alto Cariri, nos municípios de Salto da Divisa e Santa Maria do Salto, na região do Baixo Jequitinhonha. O referido Projeto de Lei afeta diretamente o território da Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha. Segundo os comunitários, devido às ameaças e agressões, dezenas de Boletins de Ocorrência (BOs) já foram registrados contra o fazendeiro Olinto Herculano Pimenta, que, por sua vez, alega ter documento das terras, ocupadas há cerca de 70 anos pelas famílias. São tantas ameaças que o Ministério Público de Minas Gerais moveu uma Medida Cautelar em favor da comunidade. Na medida cautelar, datada de 25 de agosto de 2017, o Juiz de Direito da Comarca de Jacinto, André Luiz Alves, determinou que o fazendeiro Olinto Herculano Pimenta e outros ameaçadores ficassem proibidos de se aproximarem a menos de 150 metros das famílias, bem como os proibiu de manterem qualquer tipo de contado, pessoalmente ou por qualquer outro meio com os moradores. Mesmo assim, por diversas vezes, o Olinto Herculano desrespeitou a decisão judicial e foi à comunidade várias vezes, perturbar as famílias. Depois de vários BOs, de denúncias e de ações na justiça, no dia 28 de maio de 2018, nova decisão foi proferida em favor da comunidade, desta vez, pela juíza de direito Soraya Brasileiro Teixeira, da Vara Agrária do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Essa decisão Liminar proíbe o latifundiário Olinto Herculano Pimenta e outros para que se abstenham de praticar qualquer ato que importe em turbação, esbulho ou ameaça à posse enquanto não for julgada e em caso de descumprimento, o latifundiário Olinto deverá pagar uma multa diária de 1.000,00 reais (Hum mil reais). Essa decisão foi ratificada pelo desembargador Arnaldo Maciel do TJMG no dia 05 de julho de 2018. Injustamente e ilegalmente, segundo as famílias, o fazendeiro Olinto tem descumprido tal decisão e tem ido à comunidade com frequência perturbando a paz das famílias. Em outros momentos, quando as famílias vão à cidade de Salto da Divisa, esse mesmo fazendeiro tem proferido palavras ofensivas e caluniosas contra as famílias. Dia 12 de outubro de 2018, o fazendeiro Olinto Herculano esteve de novo na comunidade, em um carro, junto com outras duas pessoas estranhas. Depois, a Comunidade ficou sabendo por terceiros que o fazendeiro Olinto Herculano pretende novamente colocar gado dentro do território que é o Parque Estadual do Alto Cariri.
Novamente, além de repudiar e denunciar as violências impetradas contra a Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha e os danos ambientais ao Parque Estadual Alto Cariri com fazendeiro criando gado dentro do parque, a Comissão Pastoral da Terra também vem N0VAMENTE reivindicar ao Poder Judiciário, ao Ministério Público de Minas Gerais e aos Órgãos do Governo de Minas que tomem providências urgentes no sentido de fazer valer o direito das famílias da comunidade. Exigimos do Governo de Minas Gerais e de seus Secretários/as providências cabíveis para que não ocorra um massacre na comunidade como tem ocorrido em outras localidades por todo país. Exigimos que a ALMG, por uma questão ética, arquive imediatamente o PL 1480/2015. Tal projeto propõe um crime socioambiental contra o Parque e contra as famílias da Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha. É um projeto que está a serviço da mineradora Nacional do Grafite que tem projeto para minerar dentro do Parque e tem aflorado a cobiça de fazendeiros da região que historicamente têm utilizado a violência física e simbólica contra os/as camponeses/as da região.

Belo Horizonte, MG, 30 de outubro de 2018.

Assina essa Nota Pública:
Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)

 Obs. 1: Abaixo, mais informações pormenorizadas sobre esse Conflito agrário e ambiental.

 Dia 15 de setembro de 2017, os fazendeiros Olinto e Renato tornaram a entrar na Comunidade Tradicional da Cabeceira do Piabanha passando de carro em frente a   casa de Nivaldo Morais Nascimento, um dos ameaçados pelos fazendeiros.
No dia 25 de novembro de 2017, às 9h30 da manhã, o fazendeiro Olinto Herculano esteve novamente na Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha fotografando as hortas das famílias e os tanques de criação de peixes. Nesse mesmo dia, Olinto Herculano ele fez denúncia na Polícia e os policiais do Meio Ambiente foram à Comunidade, mas constataram que não tinha nada errado. Diante de mais essa agressão aos direitos da Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha, os moradores fizeram um Boletim de Ocorrência contra o fazendeiro Olinto Herculano.
No dia 19 de dezembro de 2017, às 9 horas da manhã, compareceu na nossa comunidade o oficial de justiça Amaury junto com o vaqueiro do fazendeiro Olinto Herculano e um dos filhos do mesmo tirando fotos das casas e benfeitorias das Famílias da Comunidade Tradicional da Cabeceira do Piabanha. Segundo o oficial de justiça, ele estava a mando do juiz. Mas o oficial de justiça não tinha o direito de trazer filho do fazendeiro Olinto Herculano nem vaqueiro. Quando Marinez, esposa de Nivaldo, falou sobre a decisão judicial que os proibia de se aproximar 150 metros da Comunidade, o oficial de Justiça mandou os dois irem embora. Por diversas vezes, o latifundiário Olinto Herculano não respeitou a lei.
No dia 28 de maio de 2018, a juíza de direito Soraya Brasileiro Teixeira, da Vara Agrária do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) publicou uma Liminar que proíbe o latifundiário Olinto Herculano Pimenta e outros para que se abstenham de praticar qualquer ato que importe em turbação, esbulho ou ameaça à posse enquanto não for julgada e em caso de descumprimento, o latifundiário Olinto deverá pagar uma multa diária de 1.000,00 reais (Hum mil reais). No entanto, desrespeitando essa outra decisão judicial, o dia 03 de julho de 2018, o Olinto Herculano esteve na Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha fazendo fotos das nossas plantações e dos tanques de criação de peixes.
Dia 31 de agosto de 2018, estiveram de novo o fazendeiro Olinto e sua esposa Afonsina Maria na Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha. Desta vez, Olinto desceu do carro, ficou olhando os tanques e bananeiras e quando uma das mulheres da Comunidade se aproximou, Afonsina chamou os moradores que estão na Comunidade há mais de 70 anos de ladrões, disse que as famílias estavam roubando a terra deles.
No dia 12 de setembro de 2018, às 10 horas da manhã, o fazendeiro Olinto Herculano esteve na Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha pela enésima vez desrespeitando decisões judiciais que o proíbe de adentrar na Comunidade da Cabeceira do Piabanha e de se aproximar dos moradores.
Dia 16 de outubro de 2018, por volta das 8 horas da manhã, desrespeitando determinação judicial, o fazendeiro Olinto Herculano e o cunhado Renato Pimenta tornaram a adentrar na Comunidade Tradicional Cabeceira da Piabanha. Passaram em frente à casa de Nivaldo bem devagar e, com os vidros do carro baixo, foram até ao final da estrada. Voltaram tirando fotos de tudo.
Dia 12 de outubro de 2018, o fazendeiro Olinto Herculano esteve de novo na Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha, em um carro estranho, junto com outras duas pessoas estranhas. Depois, a Comunidade ficou sabendo por terceiros que o fazendeiro Olinto Herculano pretende novamente colocar gado dentro do território que é o Parque Estadual do Alto Cariri, onde está a Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha há mais de 70 anos.
Parou umas duas vezes e foi embora.

Obs. 2: Nos links, abaixo, contém uma nota com mais detalhes sobre as ameaças e vídeos disponibilizados na internet fazendo as denúncias das violações aos direitos dos Moradores da Comunidade Tradicional Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa, MG, inclusive vídeos da Audiência Pública ocorrida na ALMG em Belo Horizonte, dia 12/7/2016:

1 - Mineradora Grafite planeja minerar Parque Alto do Cariri e fazendeiros ameaçam posseiros. 12/07/2016.

2 - Posseiros da Cabeceira do Piabanha/MG lutam pelos seus direitos, na ALMG: ameaças, não!

3 - Em defesa da Comunidade Tradicional da cabeceira do Piabanha/Salto da Divisa/MG 2a parte. 08/06/2016.

4 - 76 anos, Sr. Manoel, 63 anos com 12 famílias tradicionais/cabeceira da Piabanha/MG. 08/6/2016.

5 - Comunidade tradicional da cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa/MG. Respeito, exigimos! 08/06/2016.

6 - Ameaças à Comunidade Tradicional da cabeira da Piabanha, em Salto da Divisa, MG, e a CPT. 08/06/2016.


É tempo de reflexão, coragem e criatividade


É tempo de reflexão, coragem e criatividade. 
Por frei Gilvander Moreira[1]



No segundo turno das eleições, dia 28 de outubro de 2018, Jair Bolsonaro obteve 57,7 milhões de votos (39,1%); Fernando Haddad, 47 milhões (31,7%); abstenções, nulos e brancos, 42,4 milhões (28,5%). Logo, 89,4 milhões de brasileiros não votaram em Bolsonaro. Entretanto, de acordo com as regras do jogo, 57,7 milhões de brasileiros elegeram o presidente do Brasil, de 2019 a 2022, e decidiram também levar o povo brasileiro para um tempo de mais cortes em direitos sociais, mais devastação ambiental, mais discriminação etc., uma noite escura, um deserto. Entretanto, “o deserto é fértil”, já dizia o profeta Dom Hélder Câmara. Com Carlos Drumond de Andrade, pergunto: “E agora, José?” ‘Reflexão’, ‘coragem’ e ‘criatividade’ foram as três primeiras palavras que me vieram à mente após o resultado da eleição presidencial. É hora de refletir, ruminar, meditar e recolher as melhores lições sobre tudo o que está acontecendo no nosso querido Brasil com o povo, as igrejas, as pessoas, os biomas, a mãe terra, a irmã água e todos os seres vivos. É hora de coragem, de respirar fundo e manter a luta por todos os direitos, de cabeça erguida e com muito amor no coração. Não podemos deixar que os instigadores de violência nos façam violentos. Só o amor integral liberta. Ético e humano é respeitar a imensa diversidade cultural, religiosa e de orientação sexual, inclusive, e não abrir mão da luta por todos os direitos. É hora de criatividade, “é hora de revirar ...”, conforme canta Zé Vicente, o cantor e compositor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Segundo o livro do Êxodo, na Bíblia, após amargar uns 500 anos de escravidão no Egito, debaixo do imperialismo dos faraós, o povo oprimido e superexplorado de várias culturas, diante de um Decreto do Faraó que mandava matar os meninos ao nascer, o povo se uniu, se organizou e partiu para conquistar terra e liberdade: um sonho bom e invencível. No entanto, no início da caminhada, o povo se viu encurralado pelo Mar Vermelho à frente, atrás a tropa de choque dos faraós e montanhas dos dois lados. Nesse apuro, as mulheres parteiras - Séfora e Fua -, Míriam e Moisés convidaram o povo a dar as mãos e bradaram: “Coragem! Um passo à frente!” O Mar Vermelho se abriu e o povo seguiu a caminhada para conquistar a terra prometida e sem males.
O Deus da vida e Jesus Cristo revolucionário estão vivos em todos os/as injustiçados/as, conspirando conosco e em nós. Sejamos “simples como as pombas, porém espertos como as serpentes” (Mateus 10,16). “O véu do tempo se rasgou” (Mateus 27,51). Falsos cristãos revelaram sua hipocrisia e cinismo. O Deus da vida e Jesus Cristo devem estar indignados por verem os nomes de Deus e de Jesus sendo usado e abusado com fins eleitoreiros e para pavimentar ascensão ao poder. Entretanto, é nos momentos de escuridão e de dificuldade que o Deus da vida existente no humano e em todos os seres vivos se manifesta. “Misericórdia, quero; holocausto, não” (Mateus 9,13), bradava Jesus Cristo. E acrescentamos: tortura, não; ditadura, não! Democracia, sim! Aos que foram seduzidos por fake news (notícias falsas) e por pastores e sacerdotes falsos, promotores da privatização da fé cristã, digo: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fizeram” (Lc 23,34). Arrependerão assim que cair a venda da vista. Atenção! Aprovado pela maioria nas urnas em 28 de outubro de 2018, o sistema do capital está recheado de contradições e inconsistências, é um gigante que parece invencível, mas é vencível, sim, porque tem pés de barro.
Segundo a perspectiva profética da Bíblia, todo momento de opressão e de superexploração é momento de Kairós, palavra da língua grega que significa “tempo propício e favorável” para compreendermos os sinais da ação solidária e libertadora do Deus da vida nas entranhas da história. É nos momentos mais dramáticos, quando parece não haver saída, sem luz no fim do túnel, que podem acontecer as mais inspiradoras e libertadoras transformações. Por exemplo, na ditadura militar-civil-empresarial de 1964, momento de grande repressão no Brasil, nasceram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as pastorais sociais em um cenário de Igreja acumpliciada com a classe dominante e manietada pela ideologia dominante que chegou a fazer as lastimáveis Marchas com Deus, pela Propriedade e contra o Comunismo.
Sandro Gallazzi, biblista do CEBI e da CPT, afirma que “todas as grandes realizações nasceram em períodos de maior escuridão”. No momento em que um faraó do imperialismo egípcio anunciou um Decreto-Lei duro, uma espécie de Ato Institucional, mandando matar todos os meninos que viessem a nascer, nasceu ali o Êxodo, um grande movimento religioso e popular de resistência que levou o povo a se libertar da escravidão no Egito. Foi o momento do Exílio babilônico que fez produzir as partes mais lindas e revolucionárias do Primeiro Testamento da Bíblia. E eram tempos dramáticos em que muitos foram mortos e massacrados. Foi também durante as agruras do Imperialismo Romano, na periferia da Palestina, que nasceu o menino Jesus de Nazaré, que foi compreendido e reverenciado como Cristo, enviado de Deus para testemunhar um caminho de libertação integral.
O padre e monge Marcelo Barros nos aponta um rumo: “Resta-nos agora voltar às bases e preparar as células de resistência (os cenáculos de resistência) na linha das minorias abraâmicas e da reorganização da esperança”. Sigamos, irmanados/as e abraçados/as, na luta pela democracia e por todos os direitos fundamentais, acendendo na luta a esperança, construindo “de baixo para cima e de dentro para fora”, uma sociedade do bem-viver com sustentabilidade eco-social que construa um ambiente viável para as próximas gerações.  Invocado sob tantos nomes, o Deus da vida, os nossos ancestrais, os/as mártires e todos os espíritos bons nos guiam e nos encorajam. Não nos dispersemos. É hora de apoio mútuo e cúmplice. As abelhas isoladas são frágeis, mas em enxame são fortes e conquistam respeito. O lutador uruguaio incansável José Mujica nos aponta o caminho ao ponderar que “os únicos derrotados são os que abaixam a cabeça, se resignam e desistem de lutar. Devemos ter a humildade de fazer autocrítica e aprender com os erros cometidos. Nenhuma derrota é absoluta e nenhuma vitória é absoluta”. É hora de autocrítica radical e consequente para conquistar outros horizontes alternativos. Portanto, é tempo de reflexão, de coragem, de criatividade e de refazer a esperança e a resistência. Esperança do verbo esperançar, que é ação, é movimento. Por amor aos/às explorados/as e discriminados/as, sigamos a luta por direitos, pois a luta gera a esperança.

30/10/2018.

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.

1 - José Mujica, lutador uruguaio incansável nos aponta o caminho. 29/10/2018.



2 - Aos 84 anos Luiza Erundina PSOL faz discurso pela democracia.

sábado, 27 de outubro de 2018

Quem fere a dignidade humana não se parece com Jesus Cristo/Pastor José ...




Quem fere a dignidade humana não se parece com Jesus Cristo. Pastor José Barbosa Júnior, no Programa Palavra Ética, da TVC/BH. Vídeo 1. 11/10/2018.
Em entrevista a frei Gilvander, no Programa Palavra Ética, da TVC/BH, no dia 11/10/2018, que teve como foco o segundo turno da eleição presidencial, especificamente abordando a questão religiosa que envolve essa eleição, o Pastor José Barbosa foi muito claro ao afirmar que propostas apresentadas por candidato que usa o nome de Deus em sua campanha não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré. O Pastor fala da incitação à violência motivada pelas falas do candidato e do perigo do armamento da população. Fala também da incoerência de quem se diz cristão e tem práticas de preconceito, discriminação e defende a tortura, entre outras práticas totalmente contrárias aos ensinamentos de Jesus Cristo, “o Príncipe da Paz”. Pastor José Barbosa Júnior pertence à Comunidade Batista do Caminho, é membro da Aliança das Batistas do Brasil e Coordenador da Frente Estadual dos Evangélicos pelo Estado de Direito – MG.


* Vídeo original completo: Canal TVC BH – Youtube. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 11/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Ato Inter-Religioso pela Democracia e pela Paz, em BH/MG. Mensagem de frei Gilvander: “Felizes os que constroem a paz” (Mateus 5,9). 22/10/2018.




Ato Inter-Religioso pela Democracia e pela Paz, em BH/MG. Mensagem de frei Gilvander: “Felizes os que constroem a paz” (Mateus 5,9). 22/10/2018.

Milhares de pessoas reuniram-se na Praça 7, em Belo Horizonte, nesse 22 de outubro de 2018, segunda-feira, para um Ato Inter-Religioso pela Democracia e pela Paz. Religiosos, religiosas, denominações religiosas de várias matizes e diversas expressões de fé do povo ali estiveram representadas. e nesse encontro de vivência de espiritualidade libertadora, de luta e resistência, fizeram ressoar sua voz, seu canto, seu clamor pela democracia e pela construção de uma cultura de paz. Nesse vídeo, a mensagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI, a partir da palavra de Jesus de Nazaré no Discurso da Montanha: “Felizes os/as que constroem a paz, porque será chamados filhos/as de Deus” (Mateus 5,9), Frei Gilvander lembra o perigo que representa o voto em Bolsonaro, candidato que defende o armamento, discrimina as pessoas, dissemina o ódio e a violência e representa o retrocesso com a implantação de nova ditadura.
*Vídeo original no facebook: Luiz Loz Lula da Silva.



Edição: Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 22/10/2018. * Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Ato Inter-Religioso pela Democracia e pela Paz/BH/MG/Mensagem de frei Gi...





Ato Inter-Religioso pela Democracia e pela Paz, em BH/MG. Mensagem de frei Gilvander: “Felizes os que constroem a paz” (Mateus 5,9). 22/10/2018.

Milhares de pessoas reuniram-se na Praça 7, em Belo Horizonte, nesse 22 de outubro de 2018, segunda-feira, para um Ato Inter-Religioso pela Democracia e pela Paz. Religiosos, religiosas, denominações religiosas de várias matizes e diversas expressões de fé do povo ali estiveram representadas. e nesse encontro de vivência de espiritualidade libertadora, de luta e resistência, fizeram ressoar sua voz, seu canto, seu clamor pela democracia e pela construção de uma cultura de paz. Nesse vídeo, a mensagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI, a partir da palavra de Jesus de Nazaré no Discurso da Montanha: “Felizes os/as que constroem a paz, porque será chamados filhos/as de Deus” (Mateus 5,9), Frei Gilvander lembra o perigo que representa o voto em Bolsonaro, candidato que defende o armamento, discrimina as pessoas, dissemina o ódio e a violência e representa o retrocesso com a implantação de nova ditadura.
*Vídeo original no facebook: Luiz Loz Lula da Silva.
Edição: Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 22/10/2018. * Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


"O perigo do mergulho no banho de sangue:" Padre Manoel Godoy/Palavra Ét...



"O perigo do mergulho em um banho de sangue, e com o voto de “cristãos”", alerta Padre Manoel Godoy no Palavra Ética da TVC/BH - Vídeo 3. 11/10/2018.
Em entrevista a frei Gilvander, no Programa Palavra Ética da TVC/BH, no dia 11/10/2018, que abordou a questão religiosa que envolve a eleição presidencial no Brasil, Padre Manoel Godoy falou sobre a incoerência e as contradições de muitas pessoas que se dizem cristãs ao escolher seu voto, uma vez que essa escolha nada tem a ver com o Evangelho de Jesus Cristo. Enquanto esses ditos “cristãos” apoiam quem exalta a tortura e os torturadores, age com preconceito e discriminação, Jesus de Nazaré teve todos seus ensinamentos e sua prática voltados para a paz como fruto do amor, para a defesa da dignidade humana, para o serviço aos injustiçados e excluídos da sociedade e nos deixou como maior mandamento, o Amor ao próximo! Nesse vídeo, Padre Manoel Godoy fala especificamente da violência pregada e disseminada por um candidato, em total oposição aos ensinamentos de Cristo, e alerta sobre o perigo de o país mergulhar em um “banho de sangue”, se esse candidato for eleito.


* Vídeo original completo Palavra Ética com frei Gilvander e padre Manoel Godoy: Canal TVC BH – Youtube. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 11/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.






terça-feira, 23 de outubro de 2018

Votar na Democracia ou na Ditadura?



Votar na Democracia ou na Ditadura?

Por Gilvander Moreira[1]


“Felizes os que constroem a paz, pois serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5,9), bradou Jesus Cristo no Discurso da Montanha, na palestina, colônia com povo escravizado e explorado pelo Imperialismo Romano. Dia 28 de outubro de 2018, no segundo turno da Eleição para presidente do Brasil, as eleitoras e os eleitores não votarão apenas em Fernando Haddad ou em Jair Bolsonaro, ou anularão ou farão abstenção, mas votarão, principalmente, pelo fortalecimento da nossa enfraquecida Democracia ou assinarão “um cheque em branco” para reingressar o Brasil em outra Ditadura. Óbvio que o Partido dos Trabalhadores (PT) cometeu vários erros e praticou contradições, mas também é inegável que a corrupção não iniciou com o PT – há 518 anos há opressão e corrupção no nosso querido Brasil – e que sob o ponto de vista social, os 13 anos de governo do PT trouxeram ganhos de direitos sociais para o povo brasileiro. Estamos em uma sociedade capitalista, na qual a classe dominante sempre insiste em reproduzir e ampliar a desigualdade social. Quanto mais desigualdade social maior será a violência social. Reprimir essa violência, sem superar suas causas, e aumentar a desigualdade social só faz crescer a injustiça social. Como uma cortina de fumaça, a ideologia dominante – as ideias da classe dominante – e as fake News (notícias falsas) estão embaçando a vista de milhões de pessoas que, mesmo sendo oprimidas e exploradas, estão sendo seduzidas a votar em quem vai governar contra elas. A privatização da fé cristã, dentro e fora da Igreja Católica, com Teologia da Prosperidade, espiritualidades intimistas e moralismos também tem causado um divórcio entre o ensinamento de Jesus Cristo e a prática de muita gente que se diz cristã. Bolsonaro defende torturadores e a tortura, diz que vai liberar o comércio de armas e diminuir a idade penal. Enfim, ele pensa que com repressão resolverá violência social e desigualdade econômico-social. Lego engano. Por outro lado, Fernando Haddad apresenta um programa de governo com “um lápis em uma mão e a carteira de trabalho assinada em outra” e com políticas sociais de inclusão. No entanto, Haddad sofre com o antipetismo disseminado no tecido social.
Neste cenário gravíssimo, convém puxar à memória um pouco do que aconteceu na Ditadura militar-civil-empresarial de 1964 no Brasil. Os capitalistas, abocanhando a terra em propriedade privada capitalista, promoveram a mecanização da agricultura, desde a época da ditadura militar-civil-empresarial de 1964 e, assim, realizaram o que muitos chamaram de ‘revolução verde’, em contraposição ao projeto de sociedade que incluía fazer as reformas de base: reformas agrária, urbana, da educação, tributária e política. Sob o fomento do governo federal, os capitalistas da cidade levaram todo o arsenal industrial de máquinas com pacotes químicos para a produção agropecuária. Assim, “ensejou um modelo agrário/agrícola que mereceu a fina caracterização de “uma agricultura sem agricultores”, produzindo “muitos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra ao concentrar muita terra em poucas mãos” (PORTO-GONÇALVES; CUIN; LEAL; NUNES SILVA, 2015, p. 90). Na época da ditadura, “entre 1967/1978, os latifúndios no Brasil ampliaram sua área em 69,9 milhões de hectares. Foi o período da denominada modernização da agricultura da ditadura militar de 1964, que trouxe consigo o crescimento da concentração fundiária nas grandes propriedades latifundistas” (OLIVEIRA, 2015, p. 30).
A ditadura militar-civil-empresarial de 1964 fomentou também a repressão e o assassinato de lideranças camponesas, conforme demonstra um integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV). “A ditadura ‘terceirizou’ mortes e desaparecimentos forçados de pelo menos 1.196 camponeses e apoiadores, com financiamento do latifúndio. O Estado se omitiu, acobertou e terceirizou a repressão política e social no campo, executada por jagunços, pistoleiros, capangas e capatazes a serviço de alguns fazendeiros, madeireiros, empresas rurais, grileiros e senhores de engenhos, castanhais e seringais” (GILNEY VIANA, ex-coordenador do Projeto Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República).[2]
Durante o século XX, várias ditaduras militares foram fomentadoras de injustiça agrária em vários países da América AfroLatÍndia. A Guatemala, por exemplo, esteve sob as botas dos militares, em ditadura militar, de 1954 até 1996. Durante as quase quatro décadas de chumbo, 40 mil pessoas foram assassinadas pela Ditadura militar na Guatemala. Na Guatemala, de 24 a 29 de novembro de 2004, participando do VII Congresso Missionário Latino-Americano e II Congresso Americano Missionário, pudemos sentir e perceber que o povo guatemalteco ainda está profundamente ferido pela opressão e repressão da ditadura militar. Uma advogada chorou muito, enquanto me dizia: “Há profundas feridas em nosso povo. Sofremos a mais cruel das ditaduras da América Latina. Enquanto eu estudava na Universidade, diversas vezes ficamos sitiados sem poder sair, pois o exército cercava a universidade para pegar os ‘subversivos’. Um dia, nos despedimos de um professor, às 18 horas. Ao chegar em minha casa, às 20 horas, eu soube que aquele professor, competente e profundamente humano, tinha sido assassinado. Isso corta nosso coração de dor. Ainda hoje é arriscado denunciar, pois podemos ser perseguidos. Graças a Deus, está aumentando a pressão internacional reforçando nossa luta pelos Direitos Humanos e Sociais” (Depoimento de uma advogada guatemalteca, durante o VII Congresso Missionário Latino-americano, dia 25/11/2004 na cidade da Guatemala).
Assustador também é que entre as propostas capitalistas de Jair Bolsonaro está acabar com o Ministério do Meio Ambiente e com a fiscalização feita por fiscais do IBAMA, do ICBbio e do Ministério do Trabalho. Isso, segundo ele, “para não incomodar o (grande) produtor”, ou seja: latifundiários e empresários do agronegócio estarão completamente liberados para aprofundar a devastação ambiental e o envenenamento da terra, da água, do ar e dos alimentos. Isso é proposta de exterminador do futuro. Necessário o alerta feito por diversos intelectuais orgânicos na Nota “O futuro da Amazônia passa pelo voto nas eleições de 2018”, que diz: “Sem Amazônia não existe o Brasil, tal qual o conhecemos”. Na Nota, afirmam: “são quatro os serviços que o bioma presta aos amazônidas, ao Brasil e ao resto do planeta.
1º- O ciclo das águas. Hoje, pelo conhecimento científico construído, são os rios voadores que vêm da Amazônia que espalham as chuvas por todo território brasileiro, indo inclusive até ao Uruguai, Argentina e Paraguai. Sem a floresta para injetar mais água na atmosfera, esses rios voadores não se formam. Uma simples Sumaúma, árvore imensa da Amazônia, injeta cerca de mil litros de água por dia na atmosfera. Portanto, sem a floresta Amazônica o Sul e o Sudeste brasileiro, onde estão 70% da riqueza da América Latina, se transformam em um deserto.
2º- O ciclo do carbono. Cada árvore corresponde a toneladas de carbono fixado em sua estrutura. Quando uma árvore dessa é queimada ou entra em decomposição, esse carbono é liberado em forma de gás e vai reforçar o aquecimento global, contribuindo para a mudança do clima em todo o planeta.
3º- A mega diversidade. Cada metro quadrado da Amazônia tem mais biodiversidade que em qualquer lugar do mundo. Daí provêm alimentos fantásticos como o açaí, cupuaçu, castanhas, folhas, raízes etc. Também vêm os fármacos, as essências, os cosméticos, os óleos e outra quantidade incalculável de riquezas que a só a natureza pode oferecer. Trocar essa riqueza por mais algumas cabeças de gado, a exploração de minerais ou algumas toneladas de soja é uma loucura absoluta. Mas, ela pode se tornar real se um candidato for eleito.
4º- Os povos originários. Na Amazônia estão vários povos originários ainda remanescentes do grande genocídio que se abateu e se abate sobre eles até hoje. Eles nos preservaram o que ainda temos de riquezas naturais na Amazônia, a sua biodiversidade, além de nos mostrarem que é possível viver da natureza sem destruí-la. Papa Francisco insiste em ouvir essas populações originárias no Sínodo Panamazônico de 2019 em Roma. Portanto, a destruição da floresta é também o tiro final no coração das nossas populações indígenas remanescentes. Alertamos para propostas que são contrarias à vida e atingem diretamente os povos originários.
Somos contrários a qualquer proposta que leve ao fechamento de órgãos públicos que defendem os direitos que estão a serviço da defesa da vida e do planeta (Ministério do Meio Ambiente, dos organismos de controle como IBAMA e ICMBIO), concessões de obras sem licenciamento ambiental, enfim, uma lista infinita de agressões ao ambiente e aos povos que podem se tornar realidade. Toda essa riqueza fundamental está em jogo. Ou preservamos ou destruímos o que nos resta. Os serviços prestados pela Amazónia são naturais e o conhecimento sobre eles é de ordem científica, mas uma decisão política pode derrubar tudo que a natureza nos oferece em sua infinita generosidade. O futuro da Amazônia passa pelo voto nas eleições de 2018.”
Pelos motivos expostos, acima, e por muitos outros que não há espaço para colocar aqui, a opção ética e cristã é votar em Haddad n. 13 e seguirmos dialogando e construindo a Democracia não apenas representativa, mas direta e participativa. Em nome do Deus da vida, das crianças, das próximas gerações, por amor ao próximo e pela paz, humildemente sugerimos o voto em Haddad, n. 13.

Referências

CNBB. Campanha da Fraternidade de 2017: Os Biomas Brasileiros e Defesa da Vida. Ed.
CNBB. Brasília. 2017.
NOBRE, Antônio. Os rios voadores. https://www.youtube.com/watch?v=34Y93Ar4tCA.
_______. A Máquina de fazer água. https://www.youtube.com/watch?v=HqAvP_hpzTA
Acesso em 15/10/18.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Camponeses, indígenas e quilombolas em luta no campo: a barbárie aumenta. In: Conflitos no Campo Brasil 2015. Goiânia: CPT Nacional, p. 28-42, 2015.
PORTO GONÇALVES, Carlos Walter; CUIN, Danilo Pereira; LEAL, Leandro Teixeira; NUNES SILVA, Marlon. Bye bye Brasil, aqui estamos: a reinvenção da questão agrária no Brasil. In: Conflitos no Campo Brasil 2015. Goiânia: CPT Nacional, p. 86-99, 2015.

Belo Horizonte, MG, 23/10/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o que acontece em tempos de ditadura.

1 - Filme “Batismo de sangue” (adaptação do livro Batismo de Sangue, de frei Betto)



2 – Filme “O Ano em que meus pais saíram de férias”.



3 – Filme “Zuzu Angel”.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Jornal A Verdade, dez./jan./2017, n. 190, ano 17, p. 5. Cf. www.averdade.org.br

Voto de "cristãos" que não bate com o Evangelho de Cristo/Padre Manoel G...



"O voto de muitos dos que se dizem cristãos não bate com o Evangelho de Cristo", diz padre Manoel Godoy no Palavra Ética da TVC/BH - Vídeo 2. 11/10/2018.

Padre Manoel Godoy esteve com frei Gilvander no Programa Palavra Ética, da TVC/BH, no dia 11/10/2018 que teve como centro da entrevista o segundo turno da eleição presidencial, especificamente em relação à questão religiosa, a escolha do voto dos cristãos. Padre Manoel Godoy é pároco em Belo Horizonte, Dr. em Teologia, professor de Teologia na FAJE (Faculdade Jesuíta, em Belo Horizonte), ex-assessor da CNBB por mais de 10 anos e integrante da Ameríndia (Associação de Teólogos da América Latina). Nesse vídeo, Padre Manoel Godoy motiva à necessária reflexão em torno da coerência do voto de quem se diz cristão com o Evangelho de Jesus. É que o voto de muitos dos que se dizem cristãos não bate com o Evangelho de Jesus, já que a prática de Jesus e seus ensinamentos são de defesa da dignidade humana, contra toda discriminação, preconceito e violência.



* Vídeo original completo: Canal TVC BH – Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=lBfpFz3l1k0&t=384s. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 11/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Padre Manoel Godoy: A incoerência no voto de cristãos. Palavra Ética - V...





Padre Manoel Godoy: A incoerência no voto de pessoas que se dizem cristãs. Palavra Ética - Vídeo 1. 11/10/2018.

No Programa Palavra Ética, da TVC/BH, do dia 11/10/2018, frei Gilvander entrevistou o padre Manoel Godoy, tendo como o foco o segundo turno da eleição presidencial. A entrevista abordou a questão religiosa na eleição. Padre Manoel Godoy é pároco em Belo Horizonte, Dr. em Teologia, professor de Teologia na FAJE (Faculdade Jesuíta, em BH), ex-assessor da CNBB por mais de 10 anos e integrante da Ameríndia (Associação de Teólogos da América Latina). Nesse vídeo, Padre Manoel Godoy fala de incoerências e contradições de pessoas que se dizem cristãos em seu voto, especificamente em relação a apoiar a tortura, sendo seguidor de Jesus Cristo, que foi torturado e assassinado com morte na cruz e em relação à defesa da família tida como “tradicional”.
* Vídeo original completo: Canal TVC BH – Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=lBfpF... Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 11/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


domingo, 21 de outubro de 2018

Luta pela conquista da moradia: Ocupação Prof. Fábio Alves/Belo Horizont...



Conquistar moradia digna é direito e dever de todos. Ocupação Professor Fábio Alves, em Belo Horizonte/MG. 3ª Parte. 10/10/2018.

Cerca de 500 famílias ocupam terreno abandonado há séculos na divisa entre Belo Horizonte e Ibirité, ao lado da Via do Minério, entre os bairros Marilândia e Jatobá IV. Vítimas do capitalismo e dos capitalistas que em nome do deus capital seguem moendo vidas, por meio da especulação imobiliária que coloca sobre a classe trabalhadora o peso cruel e desumano da cruz do aluguel, essas famílias lutam pela conquista da moradia digna, direito de todos e todas. O terreno, que por séculos serviu como depósito de lixo de toda espécie, sem cumprir qualquer função social, começa a ter alterada sua paisagem com o serviço de limpeza que está sendo realizado pelas famílias da Ocupação e pelos barracos de lona preta que se espalham pelo terreno. A Ocupação tem o nome do Professor Fábio Alves (in memorian), Advogado Popular que muito contribuiu na luta pelos direitos humanos, na luta por moradia, sempre apoiando os Movimentos Sociais Populares, grande defensor da dignidade humana. O Movimento Luta Popular (LP), a Central Sindical Popular CONLUTAS (CSP CONLUTAS) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) apoiam a Ocupação Professor Fábio Alves e uma grande Rede de Apoio já está se formando para que as famílias da Ocupação recebam a assistência necessária e a Ocupação seja estruturada e organizada de forma coletiva, cuidando da atenção básica às famílias e tenha um projeto urbanístico adequado às necessidades do dia a dia, para exercício pleno da cidadania. *Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 10/10/2018.

Foto divulgação do Movimento Luta Popular.

* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.



Kiriri, que beleza de Povo Indígena na luta pela terra em Caldas, sul de Minas Gerais!

Parte da Comunidade Indígena Kiriri em momento celebrativo,
na terra ocupada em Caldas, no sul de Minas Gerais, em 2018.
Foto: Sandra Paula Silva das Dores.



Kiriri, que beleza de Povo Indígena na luta pela terra em Caldas, sul de Minas Gerais!
Por frei Gilvander Moreira, da CPT.


Não é por acaso que os/as moradores locais do bairro Rio Verde, de Caldas, no sul de Minas Gerais, vêm apoiando e acolhendo como podem as quase vinte famílias indígenas do Povo Kiriri. Chegaram, inclusive, a fazer um Abaixo-Assinado em apoio ao Povo Indígena Kiriri e à sua permanência definitiva no local. “A terra aqui não é da UEMG. A UEMG nunca esteve na posse dessa terra. Quem tem direitos de permanecer nessa terra são os indígenas Kiriri”, afirmou na reunião Sandra Paula Silva das Dores, representante da Comunidade circunvizinha de Rio Verde, no município de Caldas, no sul de Minas.
Oriundo do município de Muquém do São Francisco, na Bahia, o Povo Indígena Kiriri teve que vir para Minas Gerais, em decorrência da busca de condição de vida, visto que o seu território diminuído pelo avanço do latifúndio não comportava toda a população indígena e as condições climáticas na região estão cada vez mais dramáticas. Desde março de 2017, 16 famílias do Povo Kiriri moram em uma área situada no bairro rural do Rio Verde, distante 7 km da sede de Caldas, no sul de Minas Gerais. Lá, os Kiriri já construíram casa de pau a pique, espaço cultural, plantaram lavouras e já constituiu uma Comunidade, lugar bom de viver e conviver.  Infelizmente, sob o terror psicológico da Polícia Militar e da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), com decisão injusta do poder judiciário, sob pressão do Governo de Minas para despejá-los, foram pressionados por funcionários do Governo estadual e da prefeitura de Caldas a deixarem o local em abril de 2018, tendo sido levados para Patos de Minas em cumprimento a uma determinação judicial que determinou a reintegração de posse das terras que eles ocupavam. Mesmo sem título de propriedade da terra e sem estar na posse da área, a UEMG exigiu e conquistou junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) liminar de reintegração de posse, decisão inconstitucional e injusta. Após perceberem que o local indicado em Patos de Minas era, na verdade, uma terra tradicional quilombola e que também estava ocupada por um Acampamento de Sem Terra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os Kiriri, com o apoio da Comunidade de Caldas, resolveram voltar para o mesmo terreno em Caldas, no sul de Minas, e foram carinhosamente acolhidos pela Comunidade circunvizinha de Rio Verde, bairro de Caldas, próximo à terra ocupada pelos Kiriri.
A área onde os Kiriri estão possui cerca de 60 hectares, dos quais informam que estão ocupando apenas 30 hectares. Há mais de dez famílias não índias ocupando a área, com casas de alvenaria muito boa, inclusive. Frise-se que mesmo não tendo título de propriedade, essas famílias não indígenas não foram objeto de liminar de reintegração de posse. Eis uma discriminação a mais aqui. Anos atrás, este terreno pertencia a um fazendeiro que faleceu e, não possuindo herdeiros, o mesmo teria sido transferido para o Estado de Minas em 1996. Segundo informações, a propriedade rural teria sido ‘doada’ de forma duvidosa para a UEMG. Todavia, segundo representante dos moradores locais, a UEMG jamais apresentou projeto algum de usufruto da área. Pelo contrário, até a chegada do Povo Indígena Kiriri, em 2017, o local era utilizado para retirada clandestina de brita e madeira. Entretanto, assim que houve a ocupação da terra pelo Povo Indígena Kiriri, a UEMG entrou com a Ação de Reintegração de Posse para retomar a posse da terra, posse que a UEMG nunca exerceu. Injustamente, vê-se a UEMG, uma instituição de educação e de ensino, dando um péssimo exemplo, pois age com falta de cidadania e solidariedade aos povos indígenas, já tão massacrados e perseguidos ao longo de nossa história – vítimas neste caso, também de uma prática do racismo institucional.
Os Kiriri estão determinados a não mais aceitar despejo dessa terra onde já fincaram raízes: estão já com casas de pau a pique e barro construídas, plantando lavouras na linha da agroecologia sem agrotóxicos, vivendo em comunidade e cultivando a inspiradora mística e espiritualidade Kiriri.
O álbum de fotografias, de Sandra Paula Silva das Dores e Fernanda Borges, abaixo, revelam a beleza da cultura Kiriri e a justeza da luta das famílias Kiriri por território em Caldas, no sul de Minas Gerais. Quem quiser e puder se somar a essa luta justa, urgente e necessária é bem-vindo/a!

Belo Horizonte, MG, 21 de outubro de 2018.


Assista também ao vídeo, no link, abaixo.

1 - Povo Indígena Kiriri em luta e resistência por território em Caldas/MG. 09/10/2018.




Nota: Padres em defesa da Democracia

Divulgação: http://www.cnbb.org.br



Nota: Padres em defesa da Democracia


Nós, padres, convivendo com o povo, atentos às justas preocupações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com as Eleições-2018, ao parecer de estudiosos e aos sinais da conjuntura, julgamos ser nosso dever nos posicionar em defesa da Democracia. Nossa principal motivação é o Evangelho.
A CNBB, percebendo a peculiaridade das eleições deste ano, reafirma sua atitude profética, sintetizada em cinco palavras:
1) defesa incondicional da VIDA, que é um dom de Deus e se manifesta de múltiplas formas;
2) a construção da PAZ, que passa, necessariamente, pela garantia do Bem Comum e pela melhora da qualidade de vida do povo;
3) o fortalecimento das instituições de combate à CORRUPÇÃO e a todo tipo de exploração;
4) a defesa do MEIO AMBIENTE e seu uso social, com prioridade para a demarcação e respeito às terras indígenas e quilombolas;
5) e a defesa da DEMOCRACIA.

Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard e autor do livro COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, afirma: “se um candidato, em sua vida, carreira política ou durante a campanha defende ideias antidemocráticas, devemos levá-lo a sério e resistir à tentação de apoiá-lo, ainda que, diante de circunstâncias momentâneas, parece ser uma opção aceitável”.
Steven propõe, ainda, um teste infalível, com apenas quatro perguntas, para identificar se um candidato a cargo público tem tendências autoritárias. São elas:
1 – Rejeita, em palavras ou atos, regras fundamentais da democracia?
2 – Põe em dúvida a legitimidade de seus oponentes?
3 – Tolera ou incentiva a violência política?
4 – Admite ou propõe restringir liberdades civis?

“A maioria dos autocratas não passa nesse simples teste”, conclui Steven.
Estamos convictos de que a DEMOCRACIA é fundamental em todo processo político, bem como a centralidade da pessoa humana, a liberdade, a tolerância, o respeito, a valorização da vida em todas as suas manifestações e formas. Seguidores de Jesus Cristo, vitimado pela violência, mas modelo e defensor da não violência, assumimos nosso compromisso com o povo, sobretudo com os mais pobres, sofredores e excluídos.

Assinam essa Nota Pública:

Padre Antônio Claret Fernandes
Padre Ernesto de Freitas Barcelos (dioc. Itabira/Fabriciano)
Padre Geraldo Barbosa
Padre Geraldo Martins Dias
Padre João Batista Barbosa (Tista)
Padre João Paulo Silva
Padre José Afonso Lemos
Padre José Antônio de Oliveira
Padre José Raimundo Alves
Côn. Lauro Sérgio V. Barbosa
Padre Marcelo Moreira Santiago
Padre Paulo Barbosa
Padre Wander Torres Costa
Padre Oscar de Oliveira Germano
Padre Márcio Vieira Viana
Frei Gilvander Luís Gilvander Moreira
Padre Nelito Dornelas
Padre Manoel Guto Godoy
Padre Henrique Farias

(Obs.: não tivemos tempo de recolher a assinatura de milhares de outros padres, mas padres que quiserem assinar essa Nota, adicione seu nome e compartilhe/publique essa Nota Pública em Defesa da Democracia, sugerimos.)

Não há dúvida que no segundo turno da eleição para presidente, dia 28/10/2018, votar em Fernando Haddad n. 13 é a melhor opção para continuarmos sob um regime democrático e na luta por direitos sociais. Se Bolsonaro for eleito, o povo terá dado a autorização para reingressar o Brasil em outra ditadura, com tortura, mais violência, mortes e aumento da desigualdade social e econômica, além de uma imensa devastação ambiental que ocorrerá com a anunciada extinção do Ministério do Meio Ambiente, proibição da já pequena fiscalização dos crimes ambientais pelos fiscais do IBAMA e do ICMBIO e com a redução das reservas indígenas. Isso já anunciado por Bolsonaro para agradar aos interesses dos grandes empresários do agronegócio, das monoculturas e da mineração. Isso não pode acontecer, pois será a desertificação do Brasil.

sábado, 20 de outubro de 2018

Bolsonaro ataca a CNBB e o CIMI, mas frei Sérgio Gorgen e Dom Mauro Morelli mostram a legitimidade da CNBB na defesa dos explorados.

Dom Leonardo Steiner, secretário Geral da CNBB:
"Temos duas candidaturas à Presidência, mas somos a favor
 é da democracia. O que pedimos é que o eleitor católico observe
se os candidatos pregam mais ou menos democracia; se buscam
a convivência fraterna com base da educação, no respeito e
na justiça social ou não."



Bolsonaro ataca a CNBB e o CIMI, mas frei Sérgio Gorgen e Dom Mauro Morelli mostram a legitimidade da CNBB na defesa dos explorados.


Jair Bolsonaro disse que a CNBB e o CIMI é a “parte podre da Igreja Católica”. Ataque injusto e covarde. O bispo emérito da Diocese de Duque de Caxias, RJ, Dom Mauro Morelli afirmou: “O candidato Bolsonaro agrediu gravemente e de forma gratuita a Igreja Católica, taxando a CNBB de parte podre da Igreja. De sua boca jorram asneiras e impropérios, revelando um homem desequilibrado e vulgar. Se eleito acabará defenestrado em pouco tempo.” Leia com atenção o texto, abaixo, de frei Sérgio Gorgen: “A Parte Podre da Igreja Católica” e perceba a beleza da missão histórica da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sempre ao lado do povo defendendo com firmeza os direitos dos oprimidos e explorados. E dia 28 de outubro de 2018, no 2º turno das eleições diga Não à ditadura, tortura, militarismo, repressão, comércio de armas e às discriminações. Vote na democracia e no respeito aos direitos sociais.

A Parte Podre da Igreja Católica
Por frei Sérgio Görgen

O candidato fascista à Presidência da República, falando a um grupo de latifundiários que não querem a demarcação de áreas indígenas, ataca o Conselho Indigenista Missionário, CIMI, organização da Igreja Católica que atua junto aos povos indígenas em defesa de seus direitos.
Mas não se atém ao CIMI. No vídeo que chegou ao público brasileiro pelas redes sociais, o candidato da extrema direita vai mais longe: diz que a CNBB é a parte podre da Igreja Católica.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é um colegiado episcopal que representa o conjunto da Igreja do Brasil. É a cabeça de todo o corpo.
A Colegialidade sempre houve no cristianismo em sua tradição católica, desde o tempo dos primeiros apóstolos que se reuniram em Jerusalém depois da Ressurreição de Jesus e decidiam em conjunto como fazer para viver e anunciar o que aprenderam do Mestre.
Mas as formas modernas de Colegialidade, como as Conferências Episcopais nacionais ganharam força com o Concílio Vaticano II realizado entre 1962 a 1965.
Dom Helder Câmara ajudou a criar a CNBB e foi seu primeiro Secretário Geral.
Por sua Presidência passaram bispos de enorme envergadura, como Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheider, Dom Luciano Mendes de Almeida, já falecidos, além de Dom Jaime Chemello, hoje emérito da diocese de Pelotas.
Hoje é presidida pelo Cardeal de Brasília, Dom Sérgio Rocha, homem terno e sereno, homem de escuta e diálogo e de uma espiritualidade forte que transparece a todos que com ele se relacionam.
A CNBB é uma das instituições mais respeitadas pelo povo brasileiro, sempre ao longo da história recente do Brasil, com posições firmes e claras, mas equilibradas, coerentes e solidárias com o povo brasileiro. Não esqueçamos que o grande movimento para a superação da fome e da miséria, que resultou em ações de governo e de estado, nasceu numa Semana Social da CNBB, depois com desdobramentos intensos com Betinho e Dom Mauro Morelli.
O que fez o candidato ao chamar de “parte podre” a CNBB?
Desrespeitou e ofendeu a todos os católicos. Feriu a memória dos grandes que já partiram e presidiram a Conferência e que fizeram pela Nação muito mais que o deputado à trinta anos na Câmara. Ofendeu a honra de todos os ex-presidentes da entidade-cabeça da Igreja do Brasil. Mostrou falta de respeito com o Cardeal atual presidente.
Chamou a CNBB de “parte podre” porque se destaca defendendo os pobres e seus direitos.
Os ataques ao CIMI, à Pastoral da Terra, aos religiosos e religiosas que atuam junto ao povo pobre deste país em defesa de seus direitos, já vem de tempos. Somos vítimas de agressão, desprezo, perseguição e violência há décadas. Muitos testemunharam sua coerência com o Martírio, como Padre Josimo, Irmã Adelaide Molinari, Padre Ezequiel Ramim, Padre João Bosco Burniê, Irmã Dorothy Stang, Santo Dias da Silva, padre Gabriel, só para citar alguns.
O CIMI é o maior testemunho de uma pastoral de risco, evangelicamente solidária com os mais pobres entre os pobres, sinal real do Senhor Crucificado e Ressuscitado entre nós.
Temos casca grossa e sabemos que somos atacados e por que o somos, às vezes até por católicos, que pensam que religião é só rezar para aliviar a consciência sem se envolver com a dor dos pobres de hoje. Ou católicos ricos que usam da Igreja para defender seus interesses de classe e excluir dela os pobres, que então buscam Jesus em outras denominações.
Mas quando se faz um ataque deste quilate à Cabeça da Igreja, é sinal de que o conservadorismo violento deu um passo à frente. Quer intimidar toda a Igreja de Cristo no Brasil.
Lembro uma frase de Jesus: “ se fazem isto ao lenho verde, o que farão com o seco?”
O lenho seco somos nós das pastorais sociais, misturados com as dores, as alegrias e as esperanças dos pobres, os preferidos de Jesus. Se for eleito – luto para que não seja – tristes dias espera o povo e nós com ele.
Responderemos com as atitudes de sempre. Perdoar, mesmo sabendo “que sabem o que fazem” e que interesses defendem. Jesus pediu até o perdão aos inimigos, reconhecendo que o Evangelho do Reino tem inimigos. O perdão cristão pessoal não significa ceder um milímetro na defesa dos pobres e dos perseguidos.
Por que isto, além de amor e paz como referenciais para a vida e a convivência, encontrarão em nós solidariedade com os pobres e destemor e firmeza em sua defesa, mesmo com as todas as implicações que daí virão. Não nos intimidarão, pois Jesus nos diz: “tenham coragem, eu venci o mundo”.
E dirijo humildemente minha prece ao Pai para que os atuais bispos do Brasil se inspirem no nosso único Mestre Comum, Jesus de Nazaré e na memória sempre viva de Hélder, Aloísio, Ivo, Luciano, e tantos outros, nestes tempos difíceis de nossa história nacional.
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Em tempo: FREI BETTO: “TODA A CAMPANHA DE BOLSONARO FOI MONTADA POR SETORES EVANGÉLICOS DOS EUA”.
Sputnik Brasil: “Qual tem sido o papel dos grupos religiosos na promoção da candidatura de Jair Bolsonaro no Brasil?”
Frei Betto: "Toda a campanha de Bolsonaro foi montada por setores evangélicos dos EUA; há um grupo de extrema-direita de origem americana, o Instituto Millenium, representada pelo economista Paulo Guedes, que opera no Brasil para organizar e treinar uma geração de jovens de direita muito beligerante."
Em entrevista à Sputnik Brasil, frei Betto referiu-se às consequências que um eventual governo de Bolsonaro, famoso defensor da última ditadura militar no Brasil, poderia acarretar.
Frei Beto: "Esta onda fascista no Brasil se produz por não ter sido feito aquilo que fizeram na Argentina, no Chile e no Uruguai: condenar os militares responsáveis pela ditadura. Teremos o retorno das mesmas pessoas da ditadura, com a mesma ideia se segurança nacional. Isso vai ter um reflexo claro na política continental e internacional. Todas essas pessoas [apoiantes da ditadura] estão apoiando Bolsonaro".