Homenagem às 272
pessoas mártires em Brumadinho, MG: Natal de 2019. Vale não vale nada. Vídeo 5
– 25/12/2019.
Dia 25/12/2019, às 11 horas, Dom Vicente
Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG e da Comissão de
Ecologia Integral e Mineração, da CNBB, presidiu Missa de Natal no Santuário N.
Sra. Do Rosário, em Brumadinho, MG, com a presença das famílias que perderam
parentes no crime/tragédia da mineradora Vale dia 25/01/2019, a partir das
12h28. Nesse vídeo 5, após a missa presidida por dom Vicente Ferreira, e após a
Caminhada com a Chamada dos/as 272 mártires do crime da Vale e do Estado, em
Brumadinho, MG, no letreiro da entrada da cidade de Brumadinho foi prestada
Homenagem às 272 pessoas martirizadas pelo crime da Vale e do Estado.
Homenagem às 272 pessoas mártires em Brumadinho, MG, martirizadas pelo crime/tragédia da mineradora Vale em conluio com o Estado, dia 25/01/2019, às 12h28: No Natal de 2019, 11 meses do crime, as famílias golpeadas e violentadas por esse crime prestam mais uma vez homenagem às 272 'jóias', como carinhosamente são chamadas. Vale não vale nada. Foto: A. Baeta.
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira,
da CPT, das CEBs e do CEBI. Filmagem e edição: frei Gilvander. Brumadinho, MG,
25/12/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei
Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link:
https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as
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direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte; frei Gilvander e moradores da Comunidade de Ponte das Almorreimas, no município de Brumadinho, MG, dia 27/12/2019, onde a mineradora Vale está devastando mais um território e uma comunidade. Até um muro histórico e arqueológico, ao lado da antiga igrejinha de São Vicente de Paulo, foi demolido pela Vale. Foto: A. Baeta.
Na sociedade capitalista atual, o
processo de desterritorialização acontece de forma sorrateira e, muitas vezes,
onde se menos espera. Até o dia 25 de janeiro de 2019, a comunidade rural de Ponte
das Almorreimas, em Brumadinho, MG, era um lugar tranquilo, bom de viver e
conviver: comunidade simples com as famílias produzindo em regime de
agricultura familiar, com fortes laços de amizade e ajuda mútua, em um bioma
bastante preservado, onde o silêncio durante o dia era a tônica e à noite, tão bela
quanto a vesperata em Diamantina, era a sinfonia do cantar dos pássaros, sapos
e grilos. Ponte das Almorreimas se constituía como um território “espaço de
segurança afetiva, “lar”, “abrigo físico”, “espaço de redes sociais” e “olhares
múltiplos” (SANTOS, 1994 e 2000; HAESBAERT, 2004; SAQUET, 2007).
Um dos vários idosos existentes na
comunidade, o Sr. Norival José Alves, com mais de 100 anos, há quase 50 anos convivendo
e trabalhando em Ponte das Almorreimas, nos diz: “Aqui tinha água pra todo lado, várias lagoas e um córrego com muita
água que desembocava no rio Paraopeba. Depois que chegou a mineração aqui na
região, as águas só vêm diminuindo.” Em um círculo negativo, o
crime/tragédia da Vale e do Estado, iniciado dia 25 de janeiro de 2019, na Mina
do Córrego do Feijão, está gerando muitos outros crimes no município de
Brumadinho, MG, e em muitos outros municípios da bacia do rio Paraopeba.
Conforme Relatórios das CPIs da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais e da Câmara Federal, planejado com
requintes de crueldade, o crime/tragédia da mineradora Vale e do Estado se
iniciou dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28, sepultando vivas 272 pessoas que
estavam trabalhando na mina de Córrego do Feijão ou estavam na Pousada Nova
Estância, logo abaixo da Mina de Córrego do Feijão. É importante frisar que o
crime não é só da Vale, mas também do Estado, pois o Governo de Minas Gerais
concedeu licenciamento ambiental, não fiscaliza como deveria a exploração
mineraria e renovou a licença para a Vale retomar as atividades na Mina de
Córrego do Feijão.
Mesmo não sendo inundada pelos 12,7
milhões de metros cúbicos de lama tóxica que desceram córrego abaixo até
invadir o rio Paraopeba, matando todos os seres vivos da fauna aquática, por
estar acima de Córrego do Feijão, a Comunidade e o Território de Ponte das
Almorreimas perdeu vários parentes e amigos no crime e, pior, a Vale montou na
Comunidade uma fazenda para receber inicialmente os animais feridos encontrados
na lama tóxica. Depois, a Vale comprou a fazenda Lajinha, em Ponte das
Almorreimas, para servir de depósito da lama tóxica retirada, via bombeamento
em uma espécie de mineroduto, do córrego do Carvão, logo abaixo do palco do
crime. Assim, a contaminação está sendo transferida para o território de Ponte
das Almorreimas.
A Vale foi condenada judicialmente a
construir uma nova estação de captação de água no rio Paraopeba, porque com o
rompimento da barragem inviabilizou a captação de água no rio Paraopeba, feita
pelo Governo de Minas Gerais e COPASA e inaugurada em 2015, com promessa de
garantir segurança hídrica para Belo Horizonte e Região Metropolitana (RMBH)
por 25 anos. O rio Paraopeba era responsável por 50% do abastecimento de BH e
RMBH. A Vale, o Governo de Minas Gerais e a COPASA escolheram o território de
Ponte das Almorreimas como local para se construir a nova captação de água para
retardar o colapso hídrico em Belo Horizonte e Região Metropolitana, com 5
milhões de habitantes. “A Vale comete
crimes e nós é que temos que pagar a conta?”, questionam muitas pessoas na
comunidade.
A Vale já comprou várias fazendas na
região. “Para quê? A Vale tem planos de
ampliar a mineração na região?”, perguntam indignados os moradores diante
de vários indícios. A região tem histórico de mineração de ouro por
garimpeiros. Há autorização para pesquisa minerária na região. A Vale demoliu
parte de um grande e extenso muro histórico e arqueológico existente em Ponte
das Almorreimas, ao lado da antiga igrejinha de São Vicente de Paulo. Idosos da
comunidade, como o Sr. Norival e o Sr. Raimundo, 70 anos, atestam que o muro é
muito antigo: do tempo da escravidão. Atestam também que sessenta anos atrás,
ao capinar nas lavouras de milho, feijão e mandioca, volta e meia encontravam
cacos de cerâmica e objetos antigos que os levavam a crer que a região tenha
sido habitada por indígenas antes da chegada nos não indígenas.
A Vale alega que está agindo dentro da
legalidade. De fato, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, expediu decreto de
utilidade pública desapropriando terrenos para a construção de nova captação de
água para a COPASA, que está sendo feita pela Vale. O preço arbitrado na
desapropriação – compra forçada – é injusto e atropela vários direitos das
famílias.
Os moradores estão muito indignados e
revoltados, pois “viver aqui virou um
inferno”. “A Vale invadiu nossa
comunidade e parece que pode tudo e compra todos”. “Barulho ensurdecedor e poeira infernal.” “Até o nosso direito de ir e vir está sendo violado, pois a estrada que
antes era muito simples, agora foi alargada, mas está com trânsito infernal”.
“A Vale está sacrificando nossa comunidade e nosso território”, desabafam
moradores A comunidade de Ponte das Almorreimas se tornou mais uma zona de
sacrifício do “sistema minerário, que é criminoso”, segundo Dom Vicente
Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Essa realidade violentadora nos faz
recordar do pensador camaronese Achille Mbembe que, a partir da teoria do
biopoder de Foucault, ajuda-nos a perceber a relação dos podres poderes do
sistema do capital que determina quem pode viver, quem pode morrer, produz
inimigos e destrói corpos, definindo, enfim, o direito de matar, tudo isso
oficializado como Estado de Direito sob a égide de “interesse social” /
“utilidade pública” até para processo de mineração devastadora que causa inúmeros
processos de desterritorialização. Esse processo visa expurgar comunidades
deixando-as em situação de precarização crescente e de reclusão social. Nessa
dominação dos territórios verifica-se uma necropolítica camuflada de democracia
neoliberal, na prática um processo de nova colonização que impõe violentamente,
mais do que um escravismo, uma política de extermínio.
Enfim, nessa lógica da necropolítica, à
Comunidade e ao Território de Ponte das Almorreimas foi imposto violentamente
pela mineradora Vale e pelo Estado um território de sacrifico ao deus do
capital – “zona de sacrifício” (BULLARD, 2004). Por isso, eis nesse caso
concreto do crime/tragédia da Vale e do Estado injustiça socioambiental gerando
vários outros crimes.
Referências.
BULLARD, Robert. Enfrentando o racismo
ambiental no século XXI. In: ACSELRAD, Henri; PÁDUA, José Augusto de;
HERCULANO, Selene (orgs). Justiça
Ambiental e Cidadania. Delume Lumará, São Paulo, 2004.
HAESBAERT,
R. O mito da desterritorialização: do
“fim dos territórios” à multi- territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2004.
SANTOS,
M. Território globalização e
fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994.
_______. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel,
2000.
SAQUET,
M. A. Abordagens e concepções de
território. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
Belo Horizonte, MG, 30/12/2019.
Obs.: Os filmes e vídeos nos links,
abaixo, versam sobre o assunto tratado acima.
1
- Vale sacrificando o território de Ponte das Almorreimas, em Brumadinho, MG:
violência! Vídeo 1 – 26/12/2019.
2
- "Vale comete crime e nós é que pagamos?" Ponte das Almorreimas,
Brumadinho, MG. Vídeo 2 - 26/12/2019.
3
- "Vale pode tudo e compra todos?" (Cláudia). E Dom Vicente: Ponte
das Almorreimas, Brumadinho/MG. Vídeo 3 – 26/12/2019.
4
- Dom Vicente: "Sistema minerário é criminoso". Vale na Ponte das
Almorreimas, Brumadinho/MG. Vídeo 4 – 26/12/2019.
5
- Dom Vicente: "Não espere outra barragem romper". Vale na Ponte das
Almorreimas/Brumadinho/MG Vídeo 5 – 26/12/2019.
[1]Frei e padre da Ordem
dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em
Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências
Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos
Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
Chamada dos 272 mártires em Brumadinho, MG, no Natal de 2019: "PRESENTE!", bradam todos/as. Vídeo 4 – 25/12/2019.
Dia 25/12/2019, às 11 horas, Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG e da Comissão de Ecologia Integral e Mineração, da CNBB, presidiu Missa de Natal no Santuário N. Sra. Do Rosário, em Brumadinho, MG, com a presença das famílias que perderam parentes no crime/tragédia da mineradora Vale dia 25/01/2019, a partir das 12h28. Nesse vídeo 4, após a missa presidida por dom Vicente Ferreira, segue a Caminhada com a Chamada dos/as 272 mártires do crime da Vale e do Estado, em Brumadinho, MG.
No Natal de 2019, Caminhada das famílias golpeadas pelo crime/tragédia da mineradora Vale e Estado que se iniciou com o rompimento da barragem da Vale, em Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG, dia 25/01/2019, às 12h28, sepultando vivos 272 pessoas. Após missa presidida por Dom Vicente Ferreira, a Caminhada aconteceu do Santuário N. Sra. do Rosário até o letreiro da entrada da cidade de Brumadinho. Durante a caminhada foi feita a chamada dos nomes dos/as 272 mártires da mineração em MG e, após mencionar, um a um, os nomes, todos bradavam: "PRESENTE!". Foto: A. Baeta.
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Filmagem e edição: frei Gilvander. Brumadinho, MG, 25/12/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Oração,
Poesia e Marcha com os 272 mártires no Natal de 2019 em Brumadinho, MG. Vídeo 3
- 25/12/2019.
Dia 25/12/2019, às 11 horas, Dom Vicente
Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG e da Comissão de
Ecologia Integral e Mineração, da CNBB, presidiu Missa de Natal no Santuário N.
Sra. Do Rosário, em Brumadinho, MG, com a presença das famílias que perderam
parentes no crime/tragédia da mineradora Vale dia 25/01/2019, a partir das
12h28. Nesse vídeo 3, durante da missa presidida por dom Vicente Ferreira, o
pronunciamento de Andresa Rodrigues, mãe de Bruno, uma das 272 vítimas do
crime/tragédia da Vale e do Estado, dia 25/01/2019, a partir das 12h28. E
também nesse vídeo 3 o início da Caminhada com a Chamada dos 272 mártires do
crime da Vale e do Estado, em Brumadinho, MG. Videorreportagem de frei
Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei
Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link:
https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as
notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por
direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
"A
Vale enterrou nossos 272 filhos vivos". (Sr. Geraldo). Natal de 2019 em
Brumadinho, MG. Vídeo 2 – 25/12/2019.
Dia 25/12/2019, às 11 horas, Dom Vicente
Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG e da Comissão de
Ecologia Integral e Mineração, da CNBB, presidiu Missa de Natal no Santuário N.
Sra. Do Rosário, em Brumadinho, MG, com a presença das famílias que perderam
parentes no crime/tragédia da mineradora Vale dia 25/01/2019, a partir das
12h28. Nesse vídeo 2, durante da missa presidida por dom Vicente Ferreira, o
pronunciamento de Andresa Rodrigues, mãe de Bruno, e Sr. Geraldo, pai de uma
das 272 vítimas do crime/tragédia da Vale e do Estado, dia 25/01/2019, a partir
das 12h28.
Dom Vicente Ferreira preside missa de Natal de 2019, no Santuário de N. Sra. do Rosário, em Brumadinho, MG, com 272 fotografias dos mártires do crime da Vale e do Estado, ocorrido dia 25/01/2019 a partir das 12h28. Foto: A. Baeta.
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira,
da CPT, das CEBs e do CEBI. Filmagem: Alenice Baeta. Edição: frei Gilvander.
Brumadinho, MG, 25/12/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei
Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link:
https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as
notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por
direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Obra de Ricardo Juliani. Em sua simplicidade e grandeza ele expressa um Presépio Tupiniquim.
É tempo de natal, mas dá para celebrar o natal no meio da fase mais cruel do capitalismo, máquina de moer vidas humanas e vidas de todos os seres vivos, que atualmente não apenas explora, mas superexplora a dignidade humana, a dignidade da mãe terra, da irmã água e de toda a biodiversidade? A realidade está mais para sexta-feira da paixão, porque na última eleição no Brasil foram eleitos para o poder político políticos da pior estirpe, que acumpliciados com o poder econômico das empresas transnacionais, com o capital especulativo, com agronegócio e mineradoras, estão eliminando todas as conquistas de direitos sociais conquistados com muita luta e tendo custado a vida de milhares de mártires, durante as últimas décadas.
Sob a avalanche do antinatal do mercado idolatrado, necessário se faz resgatar o sentido bíblico do Natal de Jesus Cristo, que é inspirador e revolucionário. Faz bem entendermos a narrativa bíblica do Evangelho de Lucas (Lc 2,1-20) que versa sobre o nascimento do galileu que se tornou Cristo. O Evangelho de Lucas não é crônica jornalística escrita sob o calor dos fatos. Escrito na década de 80 do século I da era cristã, o Evangelho de Lucas é Teologia da História a partir dos oprimidos e injustiçados e da sua fé na ressurreição de Jesus Cristo. Para o evangelista Lucas, foram os pastores – os trabalhadores mais discriminados da época – os que, por primeiro, reconheceram a encarnação do divino no humano. Quando nasceu Jesus Cristo? Onde? Em que contexto? Na presença de quem? E foi visitado e acolhido por quem?
Jesus de Nazaré nasceu em tempos de imperialismo romano com o imperador Augusto baixando decreto para aumentar o peso da tributação nas costas do povo, além de manter a superexploração, por meio da escravidão, a quem eram submetidos mais de 60 milhões de pessoas nas muitas colônias do Império Romano. Diz o evangelista Lucas: “Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto ordenando recenseamento em todo o império” (Lc 2,1). Como o pai de Jesus, José, era descendente de Davi e natural de Belém, ele teve que viajar da cidadezinha de Nazaré, na Galileia – periferia e norte da Palestina -, até Belém, na Judeia, mais de 120 quilômetros, a pé ou montando em jumento, com sua esposa Maria que estava na iminência de dar à luz um menino (Lc 2,3-5). Em uma colônia dominada pelo imperialismo romano, por governadores submissos aos interesses imperiais e com a cumplicidade de um poder religioso – o sinédrio – que usava o nome de Deus para excluir e marginalizar a maioria do povo, como trecheiro, estradeiro, “irmão de rua”, migrante, retirante, sem-terra, sem-teto, refugiado, índio, quilombola, migrante e judeu da periferia, nasceu Jesus Cristo na periferia de Belém, pequena cidade do interior. Jesus não nasceu em Jerusalém nem em Roma, capital do império, nem em Brasília, nem na Avenida Paulista e nem nos Estados Unidos. Maria e José tiveram que ocupar um curral na periferia de Belém, porque não encontraram hospedagem na cidade, certamente porque estavam sem condições financeiras de pagar hotel ou hospital particular.
Ao descrever o nascimento de Jesus, o evangelista Lucas estabelece estreito paralelismo com a morte e ressurreição do Messias. De fato, em Lc 2,7a se diz que “Maria enfaixou Jesus e o colocou na manjedoura”; em Lc 23,53a afirma-se que “José de Arimateia enfaixou o corpo de Jesus e o colocou em um sepulcro”. Ou seja, escrevendo uns cinqüenta anos após a crucificação e ressurreição de Jesus Cristo, o evangelista aponta que a missão de Jesus será espinhosa (tinha sido), terá que enfrentar a violência de podres poderes e de opressores (tinha enfrentado ...) - e, por isso, será condenado à pena de morte, crucificado (martirizado) (tido sido ...), mas ressuscitará ao terceiro dia (tinha ressuscitado).
Jesus nasce no meio dos pastores (Lc 2,8), os injustiçados e execrados pela classe dominante (saduceus) onde estão os senhores “de bens” que por cumplicidade reproduzem a desigualdade social. Entre todos os segmentos da classe trabalhadora e camponesa, os pastores e as pastoras eram os/as mais explorados/as, considerados/as impuros/as, principalmente porque não respeitavam as propriedades privatizadas. Para os pastores e pastoras, o território era um bem comum e, por isso, levavam os rebanhos que cuidavam para pastar em outras propriedades. Assim eram considerados invasores de propriedades privadas. Para os pastores e as pastoras, “Terra de Deus, terra de irmãos!”, tema da Campanha da Fraternidade de 1986 que desencadeou a luta social que fez inscrever a função social da propriedade na Constituição Federal de 1988.
“Um anjo de Deus apareceu aos pastores” (Lc 2,9), não apareceu ao imperador, nem ao governador, nem a nenhum sacerdote e nem a nenhuma pessoa considerada pura, integrada à sociedade dos “de bens”. São esses pastores e pastoras que reconhecem o nascimento do menino Deus e vêm ao encontro daquele que iria testemunhar um caminho de libertação para todos/as e tudo, a utopia “vida e liberdade para todos/as e tudo” (Jo 10,10). Hoje podemos dizer que um/a anjo/a apareceu a Marielle Franco, aos indígenas, aos quilombolas e continua aparecendo a todos/as os/as considerados/as impuros/as que se irmanam na luta em defesa dos injustiçados/as.
Nos Evangelhos de Lucas e de Mateus, o nascimento de Jesus não é apresentado de forma neutra diante das contradições e desigualdades sociais. José, Maria, Jesus, os evangelistas e as primeiras comunidades cristãs (autoras dos Evangelhos) fazem opção de classe, têm lado: o lado dos oprimidos e injustiçados. A luz divina foi experimentada pelos pastores e pastoras, em uma noite escura (Lc 2,8-9), – como a noite que se abateu sobre o povo brasileiro com a eleição de Bolsonaro, de governadores, de deputados e senadores, todos vassalos de um capitalismo ultraliberal. A luz e a força divina irromperam naqueles e naquelas que eram os/as mais rejeitados/as na Palestina, colônia do Império Romano.
Nas primeiras comunidades cristãs se lia naquela época o texto do profeta Isaías que dizia: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria” (Is 9,1). A primeira mensagem do anjo aos pastores e pastoras foi: “Não tenham medo! Eis uma ótima notícia para todo o povo explorado. Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2,10). Essa mensagem ganha eloquência se recordarmos que quando se elevava um novo imperador ou rei, arautos do império anunciavam a entronização aclamando o que estava sendo entronizado como novo Salvador (soter, em grego) e Senhor (Kurios, em grego).
As primeiras comunidades cristãs fazem uma revolução copernicana e subvertem a ideologia dominante que divinizava o poder e quem estava no poder. ‘Salvador’ e ‘Senhor’ não será mais o imperador e nenhum rei. ‘Salvador’ e ‘Senhor’ será aquela criança que nasceu no meio dos superexplorados. O anjo alerta: só quem se mistura com os periféricos e com eles convive consegue experimentar o divino se revelando no humano a partir dos porões da humanidade (Lc 2,12). Quem fica distante dos empobrecidos e empobrecidas acumula preconceitos e se desumaniza. Diz o evangelista Lucas que os anjos fazem festa ao experimentar a glória de Deus e a paz (shalom, em hebraico) no meio do povo (Lc 2,14). A glória de Deus brilha quando o humano em todas as pessoas é respeitado e valorizado. Paz como fruto da justiça, shalom, acontece quando os governos com organização popular efetuam mudanças estruturais para superar a desigualdade social e promover a justiça social com respeito à imensa diversidade cultural, aos direitos da natureza, dos animais e toda a biodiversidade existente no nosso país e no mundo.
“Os pastores da região foram a Belém, às pressas, participar do acontecimento” (Lc 2,15-16); não foram a Jerusalém, nem a Brasília, nem às catedrais do deus mercado, nem ao Império do capital, nem ao agronegócio e nem às mineradoras. “E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados” (Lc 2,18). Quem não ouve, não respeita e nem participa da luta dos/as sem-terra, dos/as sem-teto, dos atingidos pelas mineradoras, dos/as migrantes, dos/as refugiados/as, dos irmãos e irmãs em situação de rua, dos/as indígenas, dos/as quilombolas, das mulheres e dos nossos irmãos e irmãs LGBTTQIs[2] não consegue compreender o divino se tornando humano a partir de Jesus Cristo.
Os pastores e as pastoras reconhecem o poder popular nascido na periferia de Belém, cidade do pastor Davi que se tornou rei bom. “É de ti Belém, a menor entre todas as cidades, que virá o Salvador” (Miq 5,1), bradava a profecia inspiradora do profeta Miqueias. Etimologicamente Belém (Betlehem, em hebraico) significa Casa do Pão. Belém é a cidade de Davi, o menor entre os irmãos, aquele que organizou os injustiçados da sociedade para lutar por um governo justo, popular e democrático. O verdadeiro “rei dos judeus” não é violento e sanguinário como Herodes, é um recém-nascido, nascido sem-terra e sem-casa e tendo que se exilar às pressas, logo após o nascimento, como refugiado, para não ser assassinado pelo poder repressor de plantão. Segundo o Evangelho de João, o nascido na “Casa do Pão” se tornou Pão da Vida para todos/as (Jo 6,35-59). Os pastores e as pastoras intuem com sabedoria que o poder democrático, participativo e popular vem da periferia, dos injustiçados, dos pequenos.
O natal trombeteado aos quatro ventos pelos arautos do mercado idolatrado é um antinatal, abusa do nascimento de Jesus Cristo para auferir lucro e acumular capital, promovendo gastança, viagens que resultam em centenas de mortes e comilanças; pior, humilham milhões de pessoas que não podem gastar, viajar e nem promover comilanças. O Papai Noel é um mentiroso, nojento e fantoche do ídolo capital que cumpre uma tarefa suja: seduzir as crianças e as famílias para consumirem ao máximo até se consumirem e se desumanizarem gradativamente. Quem não se alia à luta por direitos de sessenta por cento dos brasileiros que sobrevivem com menos de um salário mínimo por mês não consegue vivenciar o sentido sublime e profundo do Natal de Jesus Cristo, está sendo mentiroso/a, pois não está abraçando o projeto de Jesus, o Cristo libertador e salvador.
Quem é discípulo/a do menino que nasceu como refugiado na periferia de Belém precisa insurgir ao lado de toda a classe trabalhadora e camponesa e das forças vivas que lutam pela superação de todas as injustiças. É hora de acordar do sono imposto por falsos pastores, falsos padres, por fake news e pelas contradições dos Partidos Políticos. É hora de despertar para as lutas de base e massivas. Os poderosos aparentam ser gigantes, mas têm pés de barro, pois estão recheados de contradições e mentiras. O menino Deus nascido na periferia de Belém vive em todos/as que lutam por justiça social, justiça agrária, justiça ambiental, justiça urbana e por direitos humanos fundamentais. Por isso, no Brasil, em 2019, no Natal de Jesus: Deus se fez índio, quilombola ...
Belo Horizonte, MG, 23/12/2019.
Obs.: Os filmes e vídeos nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 - Palavra Ética na TVC/BH: Povo Indígena Kaxixó em Martinho Campos e Pompéu, MG. 07/7/2019
2 - Povo indígena Guarani no Paraná X Itaipu: Palavra Ética/TVC/BH c/ frei Gilvander. 01/12/2018.
3 - Quilombo histórico Lapinha, em Matias Cardoso, norte de MG: 170 famílias ameaçadas de despejo. NEGOCIAÇÃO, JÁ! - Vídeo 1 - 24/7/2019.
[1]Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br – www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III
[2]Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers e Pessoas Intersex.
Igreja evangélica monta presépio com Jesus preso como refugiado nos EUA “como foi feito com mais de 5.500 crianças” (Revista Forum – www.revistaforum.com.br ). Sagrada Família como refugiados na Igreja Metodista de Claremont, na Califórnia, EUA. Foto: Reprodução.
É tempo do natal de Jesus Cristo. Tempo
para reconhecermos e celebrarmos o divino encarnado no humano. Como mistério de
infinito amor, o Deus da vida se apaixonou pela humanidade, largou o céu, desceu
para o planeta terra, nossa única Casa Comum – O divino está também em todo o
universo -, e armou sua tenda no meio dos empobrecidos e injustiçados para anunciar
o projeto de Deus, denunciar toda e qualquer forma de opressão, construir
libertação de todos e tudo e, assim, nos motivar e inspirar na luta pela
concretização de uma utopia: construir “novo
céu e novo terra”, ou seja, libertarmo-nos das ideologias dominantes que
desfilam um monte de mentiras que oprimem e matam o povo e construir novas
condições materiais objetivas que garantam relações sociais sem opressão, para
além do sistema do capital. O Deus da vida faz aliança de amor com o povo
oprimido e superexplorado (Cf. Ap 21,1-5).
Deus se humaniza para revelar que o
divino está no humano. No século II, Irineu, pastor da Igreja de Lyon,
ensinava: “Como você poderá divinizar-se
se ainda nem se tornou humano? Antes de tudo, garanta a condição de ser humano
e, assim, poderá participar da glória divina”. Está enganado quem busca se
divinizar sem se humanizar. Ao assumir a condição humana a partir de uma
criança empobrecida, o Deus da vida nos ensina que, de fato, toda pessoa humana
é “imagem e semelhança de Deus”
(Gênesis 1,27) e “templo do Espírito
Santo” (I Coríntios 6,19).
Os dois primeiros capítulos dos
Evangelhos de Lucas e de Mateus, da década de 80 do século I, apresentam
narrativas bíblicas sobre as infâncias do profeta João Batista e de Jesus de
Nazaré, que de tão humano se tornou Cristo, ungido e enviado por Deus com a
missão de testemunhar um jeito libertador e viver, conviver e lutar pela
salvação de todos e tudo. Os evangelistas Lucas e Mateus afirmam que Jesus
nasceu sem-terra e não latifundiário, nasceu sem-teto e não em mansão dos
enriquecidos que acumulam riquezas, nasceu na periferia e não no centro dos
poderes político-econômico e religioso. Logo após nascer em uma ocupação
promovida por sua mãe, Maria, e seu pai, José, na periferia de Belém (em
hebraico, Betlehem = Casa do Pão), o
menino Deus teve que se tornar refugiado político e fugir para o Egito com
Maria e José para escapar da perseguição do rei Herodes, vassalo do Império
Romano na opressão e repressão ao povo. Abraçando as entranhas do humano a
partir de uma criança de periferia, o Deus da vida nos ensina que
revolucionário é cuidar amorosamente do humano em todas as pessoas, sem exceção,
e seguir lutando para a construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver,
com justiça agrária, justiça socioambiental, justiça urbana e respeito aos
direitos humanos fundamentais. Jesus de Nazaré nasce nas brechas de uma sociedade
escravizada pelo imperialismo dos romanos e discriminada pelo poder religioso
do sinédrio comandado por uma elite econômica – os saduceus - que usava a
religião para marginalizar os empobrecidos e os adoecidos, impondo a covarde
lei da pureza e da impureza, que dividia as pessoas entre ‘puras’ e ‘impuras’. Os
ricos e sadios eram considerados ‘puros’ e, por isso, abençoados, enquanto os
empobrecidos, escravizados, adoecidos, “os órfãos e as viúvas” e os estranhos
eram tidos como ‘impuros’ e, por isso, malditos.
O Evangelho de Lucas fala que os
primeiros a reconhecerem o divino no humano, em uma criança, foram os pastores ao
visitar Jesus, logo após seu nascimento na periferia de Belém (Lc 2,1-20). No
Evangelho de Mateus, em Mt 2,1-12, está a narrativa da visita de magos a Jesus,
passagem exclusiva das comunidades cristãs do evangelista Mateus. Para Mateus
foram os magos os que por primeiro testemunharam a encarnação do divino no
humano. Quem são esses magos? O texto só diz que eles vêm do Oriente, de onde o
dia nasce e a vida recomeça. Os magos são pessoas sábias, porque viram a “estrela
de Belém” que indicava o nascimento do “rei dos judeus”. Os magos têm intenções
contrárias às do rei Herodes, que ficou alarmado e junto com ele toda a cidade
de Jerusalém. Nem pela consulta às Escrituras Herodes, os sumos sacerdotes e os
escribas se dispõem a reconhecer o divino no humano que acaba de nascer no meio
dos injustiçados. Acontece então uma oposição muito significativa: aqueles que
detêm o conhecimento e o poder da religião oficial ignoram Jesus de Nazaré,
enquanto pessoas de outras culturas e práticas, que inclusive seriam condenadas
pela lei judaica, como a consulta aos astros, reconhecem o nascimento daquele
que iria testemunhar um caminho de libertação e salvação de todos e tudo, e vêm
ao seu encontro.
Em Mt 2,1-12 temos o rei Herodes contra
Jesus, Jerusalém contra Belém. Para os magos, estrangeiros do oriente, Jesus é
“rei dos judeus” (Mt 2,2). Os magos reconhecem o poder popular nascido em
Belém, cidade do pastor Davi, que organizou os injustiçados da sociedade para
lutar pela conquista de um governo justo. O verdadeiro rei dos judeus não é
violento como Herodes, é um recém-nascido, nascido sem-terra e sem-casa.
Segundo o Evangelho de João, o nascido em Belém, “Casa do Pão”, se tornou Pão
da Vida para todos. Os magos intuem com sabedoria que o poder democrático,
participativo e popular vem da periferia, dos injustiçados, dos pequenos. A
estrela que guia os magos representa as intuições e os anseios mais profundos
da humanidade sedenta de justiça, paz e fraternidade.
Herodes, o rei sanguinário e opressor,
tremendo de medo de perder o seu poder, tentou cooptar os magos secretamente,
tentou obter informações que o ajudassem a liquidar a vida frágil. Herodes
mentiu e fez propaganda enganosa para tentar descobrir onde estavam as forças
de subversão ao seu poder tirânico. Mas as forças de vida – o divino no humano
– foram mais espertas fazendo os magos voltarem “por outro caminho” e assim
driblaram a armadilha de Herodes. Os magos romperam de uma vez por todas com
Herodes, rei opressor, e com Jerusalém, cidade tratada como se fosse uma
empresa. O sonho dos magos é a inspiração de que do poder opressor nada nasce
de bom para a sociedade.
Atualmente, estamos em contexto de um antinatal
do capitalismo, alardeado pelos arautos do mercado idolatrado, entre os quais
está o Papai Noel, um mentiroso e fantoche do ídolo capital para seduzir as
crianças e as famílias para consumirem até se consumirem e se desumanizarem
gradativamente. Entretanto, ainda está em tempo de construirmos um mundo de
justiça e paz para todos e tudo. Que nesse Natal e na virada do ano possamos
revigorar em nós o desejo e o compromisso de viver e conviver de um jeito parecido
com os magos do oriente e como os pastores de Belém (Lc 2,1-20) que reconhecem
que o que liberta vem dos pequenos e oprimidos. Que não sejamos manipulados
pelo Papai Noel do capitalismo e nem cúmplices dos Herodes de plantão!
Obs.: Os filmes e vídeos
nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 – Natal passa
pelo respeito ao direito à moradia/Ocupação Vila da Conquista/BH/MG/Vídeo 2 -
23/12/18
2 - Natal na Ocupação Esperança, na
Izidora/BH/MG. Almoço Comunitário: A força do amor. 23/12/18
3 - Vem, Senhor, com teu povo caminhar! -
Celebração do Natal-Ocupação Vila Nova -BH/MG - 3a Parte -10/12/2017
4 - Celebração do Natal na Comunidade
Vila Nova, Belo Horizonte. 2ª Parte. União na luta. 10/12/17
Belo
Horizonte, MG, 17/12/2019.
[1]Frei
e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e
bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte,
MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
Mineradora VALE está aumentando o crime em Brumadinho, MG: clamores imensos ... Vídeo 1 - 13/12/2019.
Dia 13/12/2019, aconteceu em Brumadinho, MG, Marcha da Resistência dos atingidos, melhor dizendo, golpeados e violentados pelo crime/tragédia da Vale em conluio com o Estado. A Marcha da Resistência iniciou-se no Letreiro na entrada da cidade, onde houve Ato Público reivindicando mais uma vez todos os direitos de todo o povo atingido, golpeado e violentado pelo crime que, dramaticamente, está crescendo. Depois marchamos até a Câmara de Vereadores de Brumadinho, onde a partir das 10h30 aconteceu Audiência para apresentação das conclusões das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa. Os Deputados André Quintão, Rogério Correia e a deputada Beatriz Cerqueira estiveram presentes e apresentaram os Relatórios das duas CPIs que comprovam que de fato foi CRIME e recomendam centenas de medidas. Cópias dos Relatórios foram entregues a diversas lideranças da luta.
Letreiro na entrada de Brumadinho, MG, lembra as vítimas do crime/tragédia causado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em Córrego do Feijão, dia 25/01/2019 às 12h28. Foto: Raquel Freitas/G1 Minas
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Filmagem e Edição: frei Gilvander. Brumadinho, MG, 13/12/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Ato Público contra reinício de mineração em Ibirité, MG. Fala de frei Gilvander e do Adv. Pedro Cardoso. Vídeo 1 - 09/12/2019.
MINERAÇÃO EM IBIRITÉ, MG, NÃO! EXIGIMOS QUE O PREFEITO DE IBIRITÉ CANCELE A DECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE PARA REABERTURA DE MINERAÇÃO NO MUNICÍPIO.
Após muitas lutas, após um dia inteiro de visita ao manancial Taboões, visita às crateras deixadas pela mineradora Santa Paulina ao lado do manancial Taboões, no município de Ibirité, MG, após uma longa reunião com quase todos os vereadores e com a vereadora de Ibirité, após um GT criado para elaboração de um Projeto de Lei visando preservar o meio ambiente e impedir mineração devastadora, durante reunião da Câmara de Vereadores de Ibirité, com a intenção de protegermos a Serra do Rola Moça da atividade degradadora e devastadora do meio ambiente, que é a mineração, e garantir a água, que é fonte e princípio da vida para a população de Ibirité e Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG (RMBH), ontem, dia 09 de dezembro de 2019, foi lido e apresentado na Câmara Municipal de Ibirité o projeto de lei número 058/19 (PL 058/2019), que institui a área de amortecimento do Parque Estadual Serra do Rola Moça pertencente ao município de Ibirité, como Patrimônio Hídrico e da Biodiversidade de Ibirité. Este é o primeiro de vários projetos de lei que queremos ver aprovados na Câmara Municipal com o intuito de proteger o Parque Estadual Serra do Rola Moça, uma das Unidades de Conservação mais importantes do Brasil. Esperamos que o PL 058/2019 seja aprovado o mais urgente possível. E exigimos que o prefeito William Parreira cancele a Declaração de Conformidade com a reabertura de Mineração da mineradora Santa Paulina no município de Ibirité, ao lado do manancial Taboões, e se some à posição dos vereadores e da vereadora de Ibirité por diversas vezes manifestada em favor de impedir a volta da mineração no município. Em um contexto de crise hídrica e de falta de água em vários bairros de Ibirité, de Belo Horizonte e região Metropolitana, é um absurdo e uma injustiça socioambiental imperdoável autoridades públicas autorizarem reabertura de mineração em Ibirité. O grito repetido muitas vezes durante a sessão da Câmara Municipal de Ibirité ontem pelo povo que manifestou contra a reabertura de mineração em Ibirité é: MINERAÇÃO EM IBIRITÉ, NÃO! QUEREMOS IBIRITÉ, EM MG, TERRITÓRIO LIVRE DE MINERAÇÃO! Pedimos a todos que abracem esta luta conosco, pois só com a união e a participação de todos é que venceremos esta batalha.
Assinam esta Nota Pública:
Movimento Serra Sempre Viva Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)
Centro de Documentação Eloy Ferreira (CEDEFES)
Comissão Ecologia Integral e Mineração da CNBB Ibirité, MG, 10 de dezembro de 2019.
Manifestação na Câmara de vereadores de Ibirité, MG, dia 09/12/2019, na sessão em que foi lido e apresentado o PL 058/2019, que cria o Patrimônio Hídrico e da Biodiversidade na área de amortecimento do Parque Estadual Serra do Rola Moça, no município de Ibirité, na área que a mineradora Santa Paula insiste em reabrir mineração. Foto: A. Baeta.
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
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Lavra de granito irregular instalada no alto de uma Área de Proteção Permanente (APP) em Topo de Morro, na Zona Amortecimento do Parque Estadual Sete Salões (PESS), próximo ao córrego da Lapa e do rio Doce. Município: Conselheiro Pena, Médio Vale do Rio Doce, MG. Foto: A. Baeta/ Ano 2006.
Em 2006, foram observadas
irregularidades graves na lindíssima Serra da Onça, no município de Conselheiro
Pena, leste de Minas Gerais, na margem direita do rio Doce, próximo à divisa do
Parque Estadual Sete Salões (PESS). Foi constatado na ocasião, para nosso
espanto, um novo acesso na subida da serra que culminava em uma lavra de rocha granitoide
com montes de vários blocos detonados e recortados prontos para o transporte. Além
de se situar na zona de amortecimento de uma unidade de proteção integral, esta
lavra ainda se encontra em Área de Preservação Permanente (APP) Topo de Morro,
e por suas características degradantes, tais como, desmatamento de mata nativa,
pilha de estéril, maquinário, utilização de bomba de água no córrego da Lapa, assoreamento,
abertura de estrada, apresentava sinais, na época, de se tratar de atividade clandestina,
ou seja, sem licenciamento ambiental. Fotografias foram tiradas e no dia
seguinte foi feita uma comunicação emergencial aos gestores do Parque Estadual
Sete Salões, que por sua vez, fizeram contato com a Polícia Ambiental e com o
Núcleo Operacional (NO) de Conselheiro Pena, que realizaram na mesma semana
vistoria no local indicado, situado na Fazenda da Lapa, comprovando a já
suspeita irregularidade da lavra.A
mineradora foi então multada e autuada, segundo informações do IEF-MG, dando
retorno imediato à nossa denúncia.
As cicatrizes da retirada
das rochas, pilhas de blocos e a “evolução” da degradação ambiental podem ser notadas
com facilidade visual, pois a mesma se encontra na parte alta de vertente íngreme,
por isto, a lavra pode ser avistada em toda a sua extensão e de muito longe,
prejudicando ainda, e em muito, o paisagismo e a ambiência do Médio Vale do rio
Doce.
O Parque Estadual Sete
Salões, criado
pelo decreto nº 39.908, de 22 de setembro de 1998, possui 12.520,9
hectares que abrange, além de Conselheiro Pena, os municípios vizinhos Resplendor, Itueta e Santa Rita do Itueto. Guarda um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica de
todo o leste mineiro, estando ainda associado a formações de campos rupestres e florestas de candeias. Possui cachoeiras, nascentes e cursos d’água, sítios arqueológicos
pré-coloniais com figurações rupestres (que apresentam um estilo pictural
restrito ao Médio Rio Doce), escarpas, abrigos sob rocha e a famosa caverna
Sete Salões - que deu o nome ao parque. Esta caverna e várias localidades da
região fazem parte de territórios ancestrais indígenas e sagrados para a atual comunidade
indígena Krenak (que habita o Território
Indigena (TI), situado à margem esquerda do rio Doce, no município de
Resplendor). Esta região possui assim forte valor etnográfico, etnohistórico e
imaterial, merecendo atenção especial também sob esta perspectiva (BAETA, 2000).
Em 2016, a própria Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), por meio das equipes da Diretoria de
Gestão da Qualidade e Monitoramento Ambiental e da Gerência de Qualidade do
Solo e Reabilitação de Áreas Degradadas, realizou uma pesquisa intitulada “Reconversão de Territórios Minerários nas
Regiões Sul, Leste e Jequitinhonha em Minas Gerais”, quando fez
levantamento de inúmeras minas inativas abandonadas e irregulares, que
necessitavam de recuperação ambiental prioritária, quando foi mencionada esta mesma
lavra de Conselheiro Pena. Abaixo, segue transcrição a respeito:
“No município
de Conselheiro Pena, foi constatada uma lavra de granito inativa inserida em
APP Topo de Morro, de difícil acesso, localizada em área limítrofe a unidade de
conservação denominada Parque Sete Salões. Identificou-se a presença de
material estéril depositado na vertente, sob vegetação nativa e atingindo a
drenagem local. Registrou-se também, presença de pneus descartados
inadequadamente e vestígio de gado” (SEMAD/FEAM,
2016: 42).
Em 2019, há rumores muito preocupantes
por parte de moradores locais a respeito de interessados em “(re)ativar” essa
mina de granito, que segundo eles estariam tentando “legalizar este negócio”
para 2020, o que demanda alerta de todos e de todas da região e ambientalistas.
Como o dito popular: “Onde há fumaça, há fogo”... Muito necessária a averiguação
se de fato o pedido de ativação desta mina, se é que existe, está mesmo em
curso nos órgãos ambientais. Fundamental alertar à Polícia Ambiental, IEF de
Conselheiro Pena, e, sobretudo, à SEMAD sobre este processo eventual de licenciamento
ambiental, bem como a necessidade de visitas periódicas na localidade, visando
coibir a reativação desta atividade, obviamente incompatível com este tipo de
unidade de conservação de proteção integral, área de proteção permanente topo
de morro, mata nativa e entorno das calhas do córrego da Lapa (já assoreado) e
do rio Doce. Espera-se agora firmeza e eficiência dos atuais gestores dos
órgãos ambientais e de fiscalização, como já ocorrido de forma exemplar no ano
de 2006.
Reitera-se: caso esta mineradora
esteja mesmo tentando adquirir licenciamento ambiental junto aos órgãos
competentes, o que seria lamentável, espera-se que os mesmos não a concedam
tendo em vista que o raso e parco córrego da Lapa não possui vazão para
abastecer água para uma lavra, obviamente. A calha do rio Doce já sofreu um
grande dano devido ao mar de lama tóxica que a assolou em 2015, quando do
crime-tragédia das mineradoras Samarco, BHP Billiton e Vale com anuência do
Estado, com o rompimento da barragem de Fundão, município de Mariana (Alto Rio
Doce). Por isto, proteger os córregos que deságuam no rio Doce é dever e
responsabilidade de todos.
Aliás, muito importante a
proposta da própria SEMAD de um programa de revitalização ou de reconversão de
território do vale da Lapa. Grande absurdo seria a instalação de uma lavra de
granito (que já atuou de forma irregular) no topo de uma zona de amortecimento,
entre uma unidade de conservação e o rio Doce, já tão degradado e penalizado em
toda a sua extensão.
Referências
Bibliográficas:
BAETA,
Alenice. Grutas e Abrigos arqueológicos “Encantados” - Região do Parque Sete
Salões Serra Takrukkrak, Vale do Rio
Doce-MG. In: Revista O Carste,
Vol.12, N. 2, 2000.
SEMAD/
FEAM “Reconversão de Territórios Minerários nas Regiões Sul, Leste e
Jequitinhonha em Minas Gerais” (Relatório Técnico). SEMAD/FEAM, Belo Horizonte,
Junho de 2016.
Álbum de Fotos:
Bomba d’água da lavra de granito clandestina no córrego da Lapa, Zona de Amortecimento do Parque Estadual Sete Salões. Município: Conselheiro Pena, MG. Foto: A. Baeta, Ano 2006.
Vista
de longe da Lavra de granito irregular instalada no alto de uma Área de
Proteção Permanente (APP), em Topo de Morro, na Zona Amortecimento do Parque
Estadual Sete Salões (PESS), próximo ao córrego da Lapa e do rio Doce. Visada a
partir do PESS. Município: Conselheiro Pena, Médio Vale do Rio Doce, MG. Foto:
A. Baeta/ Ano 2006.
AFoto atual da mesma lavra de granito “desativada”, vista de longe, a partir do alto do Parque Estadual Sete Salões. Município: Conselheiro Pena, MG. Foto: A. Baeta, Ano 2019.
No topo do morro de uma área de Preservação permanente (APP) e Zona de amortecimento de Unidade de conservação integral (Parque Estadual Sete Salões (PESS), antiga área de lavra clandestina na fazenda da Lapa. Caso seja reativada poderá causar escassez hídrica no vale do córrego da Lapa e contaminação paisagística e ambiental na UC e região. Município: Conselheiro Pena, MG. Foto: A. Baeta, Ano 2019.
[1]Doutora pelo Museu de Arqueologia e
Etnologia - MAE/USP; Pós-Doutoradono
Departamento deAntropologia/Arqueologia-FAFICH/UFMG; Mestrado na Faculdade de Educação-FAE/UFMG;
Historiadora e Membro do CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da
Silva). e-mail: alenicebaeta@yahoo.com.