CARTA DE REPÚDIO À
AÇÃO TRUCULENTA DA POLÍCIA MILITAR EM OCUPAÇÃO DE “SEM TETO” NA CIDADE DE JEQUITINHONHA,
MG dia 28/05/2015.
Via Campesina Regional Vale do
Jequitinhonha (CPT, MAB, MST), Cáritas, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Jequitinhonha e demais parceiros.
As organizações da sociedade civil
organizada juntamente com os Sem Teto e Sem Terra da cidade de Jequitinhonha,
por meio desta nota, repudiam com veemência, mais um ato de violência através
da polícia militar, ocorrida na cidade de Jequitinhonha.
Em 28 de maio 2015, quinta-feira, por
volta das 10 e 30 horas, enquanto cerca de 60 famílias e 200 pessoas humildes
Sem Teto que se mantinham em atividade no terreno ocupado, foram surpreendidos
pela polícia militar desse município, e de forma truculenta, com alto poder de
pressão psicológica e agressão às pessoas.
Segundo dois agentes Cáritas que
estavam presentes no local no momento, a polícia chegou abordando pessoas que
estavam acampadas, jogando um homem no chão, batendo com o cacetete e apontando
armas de fogo em sua cabeça.
Durante a ação, expulsaram as famílias
do local e, os arames e cordões que estavam marcando os terrenos foram
arrancados pelos policiais, que agiram com abuso de autoridade. Segundo uma das
pessoas que estavam no local, “um policial colocou uma criança de mais ou menos
5 anos de idade dentro do carro, mas quando viu que tinha militantes da Cáritas
presentes, tirou a criança de dentro do carro e entregou para pessoas no local
do conflito”.
Os representantes da Cáritas declaram
ainda que os policiais levaram 12 homens para o batalhão da cidade. Outros
representantes da Cáritas se deslocaram para o batalhão sendo recebidos pelos
policiais de plantão no local, mas após um tempo foram convidados a se
retirarem do recinto. Alguns dos presos foram levados ao hospital para fazer
exame de corpo delito e os demais ficaram acuados e presos no pelotão da
polícia, aguardando para serem autuados e encaminhados à delegacia.
As famílias que estão na ocupação
relatam que querem somente um pedaço de terra para morar, pois moram de aluguel
ou dependem de favor.
Importante salientar que não só os Sem
Teto vem lutando pela terra e moradia, mas também o Sem Terra desse município.
Os Sem Terra no dia 12 de maio 2015, terçafeira, também, com cerca de 300
famílias ocuparam outra propriedade do outro lado do Rio Jequitinhonha ao lado
da cidade. A propriedade ocupada segundo os Sem Terra é terra improdutiva e
medindo cerca de 10 alqueirões ou aproximadamente 200 hectares. A cidade de certo
modo vive essa tensão, de um lado os Sem Teto e Sem Terra querendo terra para
morar e para produzir e de outro, a inércia de órgãos públicos governamentais
em realizar reforma agrária e garantir o direito à moradia.
A situação é extremamente grave e tensa
na cidade! Esperamos que os
responsáveis pela segurança e órgãos
públicos governamentais possam acordar e acompanhar de perto essa situação
calamitosa em Jequitinhonha, os mesmos, responsáveis direto pela quantidade
absurda de conflitos de Sem Teto e Sem Terra nesse país e região.
É preciso ecoar o grito: "Reforma
urbana, Reforma Agrária, Direito Nosso, Dever do Estado". Finalmente, como
lembrou o papa Francisco em um de seus discursos: "Nenhuma família sem
casa, nenhuma família sem teto, e nenhuma família sem direitos". Seguimos
na luta pelos direitos da pessoa humana, pois terra, comida e teto são direitos
fundamentais.
Jequitinhonha/MG, 28 de Maio de 2015.
Cf. vídeo no link, abaixo.
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