Carta da 19ª Romaria das águas e da terra de Minas
Gerais, em Ladainha/MG, no Vale do Muruci, Diocese de Teófilo Otoni, dia 24/07/2016.
Sob a inspiração da
Campanha da Fraternidade de 2016 – Nossa
Casa Comum, corresponsabilidade de todos - nós, cerca de 10.000 romeiras e romeiros da mãe
terra e da irmã água, de várias dioceses do Estado e de todas as paróquias da
Diocese de Teófilo Otoni, dia 24 de julho de 2016, dia também de Romaria da
terra nos Estado do Rio de Janeiro e São Paulo, participamos da 19ª Romaria das
águas e da terra de Minas Gerais, na cidade de Ladainha, ao lado de uma represa
e da Pedra, símbolo da cidade, no Vale do Mucuri, MG, na Diocese de Teófilo
Otoni, com o tema: Somos água, somos
terra, queremos bem viver; e com o lema: Unir povos do campo e da cidade em
defesa das florestas. Terra e água, fonte de vida. Com dança do Vilão, músicas,
poesias, causos e participação de Carlos Farias, a Noite Cultural encantou a
todos.Dezenas de missionárias/os vindas/os de várias regiões de Minas fizeram
uma semana de missão em preparação para a 19ª Romaria em 23 comunidades do município
de Ladainha, no campo e na cidade. Fomos muito bem acolhidas/os pela Paróquia
do Sagrado Coração de Jesus e pelas comunidades de Ladainha. O bispo dom
Aloísio Vitral, da Diocese de Teófilo Otoni, acolheu com alegria e deu todo
apoio à preparação e à realização da 19ª Romaria. As comunidades se prepararam
para a Romaria fazendo três encontros de reflexão a partir de uma Cartilhacom
os temas: 1º) Somos terra e criados para
o bem viver; 2º) Água e terra: fonte
de vida, direito de todos; e 3º) Bem
viver, sonho de todos. As/os missionárias/os voltaram radiantes das missões,
porque experimentaram a presença do Deus da vida no meio do povo, ouviram
muitas histórias, visitaram centenas de famílias, refletiram e celebraram a fé
na luta pela terra e pelas águas. Quanta fé!
Quanta resistência e sabedoria! Hortas nos quintais, piscicultura,
produção de doces, dentre tantas belezas culturais. Ladainha, emancipada em
1949, tem 17 mil habitantes, sendo 75% na zona rural; tem 26 escolas
municipais, sendo apenas uma nucleada; ainda é um dos municípios com um
razoável índice de preservação do Vale do Mucuri, isso porque o que predomina
são pequenas e médias propriedades. Mas as missões também revelaram muitos
problemas e desafios experimentados pelas comunidades rurais: meios de
transporte precário e muito caro para vir à cidade, nascentes e rios secando,
muitas pessoas adoecidas sem atendimento, o povocamponês está sofrendo muito,
há vários relatos de abandono do poder público, principalmente nas áreas de
saúde e no atendimentosos idosos, com poucas oportunidades para geração de
renda, comforte migração de jovens para São Paulo (Só em Ubatuba, SP, há 11 mil
eleitores nascidos em Ladainha), monocultura de eucalipto, desmatamento e
pecuária. Está muito ruim a qualidade da água da COPANOR, que é subsidiária da
COPASA. Já fizeram 3 poços artesianos para captar água para 3 comunidades. A
represa existente ao lado da cidade de Ladainha, represando o rio Mucuri braço
Norte foi desativada pela CEMIG em 2015, porque não tem mais condições de gerar
energia por falta de água por causa do grande número de nascentes e rios que
secaram na região nos últimos anos. A 19ª Romaria das águas e terra foi promovida
pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diocese de Teófilo Otoni, Paróquia Sagrado
Coração de Jesus e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Ladainha, com
apoio da Adveniat, Misereor e da Prefeitura de Ladainha e outros.A 19ª Romaria
aconteceu em uma região rica em manifestações da cultura popular, fruto da
mistura de diferentes povos: migrantes europeus, árabes, negros e indígenas
Maxakali e Mukurin, primeiros habitantes do Vale do Mucuri, que sobrevivem em
pequenas aldeias e lutam pelo resgate de seus territórios e participam juntos
com várias comunidades de remanescentes quilombolasda luta pela preservação da
biodiversidade e da cultura em suas comunidades.A esses povos indígenas se
somam também os povos Aranã, Pataxó e Pankararu, que habitam bem próximo, no
Vale do Jequitinhonha.Com esses parentes nossos povos indígenas nos ensinam que
a terra e as águas são sagradas. A terra é um grande corpo vivo e as águas são
seu sangue. Às 06:00h, as romeiras/os foram acolhidas/os na praça do Pontilhão,
entrada de Ladainha. Após o café da manhã comunitário, iniciamos a 19ª Romaria
com uma caminhada celebrativa com paradas: na entrada da cidade, no novo prédio
do Hospital municipal Dr. Arthur Rausch e na Praça da Alegria. Concluímos com um
grande ofertório ao povo Maxakali, celebração eucarística e almoço comunitário.
Canções de espiritualidade libertadora, tal como “Romaria da terra faz o povo reunir, numa luta sem guerra, lutaremos por
ti ...”, denúncias e anúncios de experiências a serem
cultivadas animaram nossa 19ª Romaria. Na 19ª Romaria também foram denunciados
os golpes aos direitos sociais do povo que estão em curso no Brasil. Repudiamos
o golpe parlamentar, da mídia e do judiciário que, sem crime de
responsabilidade, arrancou a presidenta Dilma do exercício do seu mandato
legitimamente eleita por 54 milhões de eleitores, maioria. Seguiremos na luta
contra os golpes que estão sendo dados no povo brasileiro, cientes de que os
golpistas parecem gigantes, mas têm pés de barro.Com as bênçãos de N. Sra
Aparecida e da Boa Viagem, de São Francisco, do Sagrado Coração de Jesus e das
boas energias e experiências da 19ª Romaria, gratos a todas/os que
participaram,nos despedimos para sermos romeiras e romeiros da terra e das
águas no cotidiano nas nossas comunidades. Comprometemo-nos em continuar na
luta coletiva pela terra e pela permanência no campo e pela preservação das
águas, porque a terra e as águas são nossa vida e nosso futuro. Até a 20ª
Romaria da terra e das águas de Minas em 2017.
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