terça-feira, 28 de julho de 2020

Em “Carta ao Povo de Deus”, 152 bispos profetas encaram o desgoverno federal

Em “Carta ao Povo de Deus”, 152 bispos profetas encaram o desgoverno federal
Por Gilvander Moreira[1]


Em postura corajosa e profética, 152 bispos da Igreja Católica assinaram Carta ao Povo de Deus, divulgada dia 26/7/2020 na Coluna de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, se posicionando contra os desmandos do atual desgoverno federal chefiado por Jair Bolsonaro. Muitos outros bispos poderão assinar esta Carta em breve, pois só cresce o número de bispos e dos padres não apoiam o atual presidente que comanda política autoritária, criminosa, genocida e ecocida. Na Carta, os 152 bispos dizem em alto e bom tom: “Nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta. Essa realidade não comporta indiferença. [...] Temos clareza de que a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência.”
Os bispos alertam que o Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história com “a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.” “Não cabe omissão, inércia e nem conivência diante dos desmandos do Governo Federal”, pontuam os bispos.  Todos devem “combater as mazelas que se abateram sobre o povo brasileiro e a Casa Comum, ameaçada constantemente pela ação inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários e outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos e os da mãe terra.” Os 152 bispos denunciam também “a liberação do uso de agrotóxicos antes proibidos e o afrouxamento do controle de desmatamentos.” “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo que está doente. As feridas causadas à nossa mãe terra sangram também a nós”” (Papa Francisco, Carta ao Presidente da Colômbia por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/6/2020).”
Com a ira santa de Jesus Cristo diante dos vendilhões do templo, lugar sagrado, os 152 bispos denunciam: “Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela COVID-19, tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino, o caos socioeconômico que se avizinha, com o desemprego e a carestia que são projetados para os próximos meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço. Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento Àquele que veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). [...] As reformas trabalhista e previdenciária, tidas como para melhorarem a vida dos mais pobres, mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda mais a vida do povo.”
Profetizam os bispos: “É insustentável uma economia que insiste no neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em detrimento da grande maioria da população”. Como bons pastores que não apenas cuidam das ovelhas feridas, mas enfrentam os lobos vorazes, os 152 bispos denunciam: “O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço. Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência do Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de ele se colocar contra a ciência, contra estados e municípios, contra poderes da República; por se aproximar do totalitarismo e utilizar de expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a democracia, a flexibilização das leis de trânsito e do uso de armas de fogo pela população, e o recurso à prática de suspeitas ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam uma massa de seguidores radicais.”
De forma lapidar e com precisão cirúrgica, os 152 bispos põem o dedo nos desmandos do desgoverno federal: “O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece. Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na escolha da educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da educação e do meio ambiente e do secretário da cultura; no desconhecimento e depreciação de processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil; na repugnância pela consciência crítica e pela liberdade de pensamento e de imprensa; na desqualificação das relações diplomáticas com vários países; na indiferença pelo fato de o Brasil ocupar um dos primeiros lugares em número de infectados e mortos pela pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da Saúde; na desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação do enfrentamento da pandemia; na falta de sensibilidade para com os familiares dos mortos pelo novo coronavírus e pelos profissionais da saúde, que estão adoecendo nos esforços para salvar vidas.”
A idolatria do mercado é denunciada com veemência também pelos 152 bispos: “No plano econômico, o ministro da economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no País, privilegiando apenas grandes grupos econômicos, concentradores de renda e os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.”
Com veemência profética, continuam os 152 bispos: “Fechando os olhos aos apelos de entidades nacionais e internacionais, o Governo Federal demonstra omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres e vulneráveis da sociedade, quais sejam: as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, as populações das periferias urbanas, dos cortiços e o povo que sobrevive nas ruas, aos milhares, em todo o Brasil. [...] O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à COVID-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária, dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais” (Cf. Presidência da CNBB, Carta Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).
Os 152 bispos interpelam nossa consciência: “Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?” Cientes que mudança emancipadora só vem de baixo para cima, a partir dos explorados, os 152 conclamam a todas as pessoas de boa vontade: “Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam. Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz”” (Romanos 13,12).
Esta Carta ao Povo de Deus é tão contundente e profética como os Documentos divulgados por bispos da Igreja Católica nos anos de chumbo da ditadura militar-civil-empresarial iniciada em 31 de março de 1964. Dia 6 de maio de 1973 – ano do milagre econômico -, 18 bispos e superiores religiosos do regional Nordeste II da CNBB lançaram o documento Eu ouvi os clamores do meu povo, que denunciava as práticas assistencialistas da Igreja, pois eram mancomunadas com os dominadores (Eu ouvi os clamores, 1973, p. 10).  Nesse Documento, os bispos do Nordeste analisavam e propunham revisão de postura. Diziam os bispos do Nordeste: “A Igreja tem feito o jogo dos opressores, tem favorecido aos poderosos do dinheiro e da política contra o bem comum. [...] À luz, portanto, de nossa Fé e com a consciência da injustiça que caracteriza as estruturas econômica e social de nosso país, entregamo-nos a uma profunda revisão de nossa atitude de amor pelos oprimidos, cuja pobreza é a outra face da riqueza de seus opressores” (Eu ouvi os clamores, 1973, p. 27).
Seis bispos do Centro-Oeste, da parte mais violentada da Amazônia, também lançaram no mesmo dia, 6 de maio de 1973, o documento Marginalização de um povo – grito das Igrejas, onde se afirmava: “Precisamos apoiar a organização de todos os trabalhadores. Sem isto, eles não se libertarão nunca” (Marginalização de um povo, 1973, p. 42).  Os bispos denunciavam a exploração a que era submetido o povo trabalhador nas contradições do capitalismo: “[...] é um povo que luta e labuta, diário, num trabalho que, se não tira da pobreza os que trabalham, serve para enricar mais ainda os que já são ricos. [...] O latifúndio está crescendo, fica mais poderoso. E tem apoio das autoridades. [...] O sistema capitalista é a fonte de todos os males que assolam a vida do povo” (Marginalização de um povo, 1973, p. 9 e 14). E, mesmo confundindo dinheiro com capital, os bispos do Centro-Oeste compreendiam as contradições do capital e anunciavam uma utopia: “Queremos um mundo onde os frutos do trabalho sejam de todos. Queremos um mundo em que se trabalhe não para enriquecer, mas para que todos tenham o necessário para viver: comida, zelo com saúde, casa, estudos, roupa, calçados, água e luz. Queremos um mundo em que o dinheiro esteja a serviço dos homens e não os homens a serviço do dinheiro” (Marginalização de um povo, 1973, p. 43).
Os bispos e missionários da causa indígena lançaram também em 25 de dezembro de 1973 a declaração Y-juca-pirama – o índio: aquele que deve morrer, que era “documento de urgência”. Nesse se repudiava ‘civilizar’ os indígenas e defendia o reconhecimento das culturas indígenas. Nesse sentido afirmavam: “O objetivo do nosso trabalho não será ‘civilizar’ os índios. [...] Urgente necessidade de reconhecer e publicar certos valores que são mais humanos, e assim, mais evangélicos do que os nossos ‘civilizados’ e constituem uma verdadeira contestação à nossa sociedade” (Y-Juca-Pirama, 1973, p. 21).
Esses documentos assinados por vários bispos deixavam patente a necessidade de uma mudança radical na atuação pastoral da Igreja. No livro O poder do atraso: ensaios de Sociologia da História Lenta, José de Souza Martins aponta a revolução que esses Documentos de vários bispos provocavam: “Esses documentos anunciavam uma verdadeira revolução no trabalho pastoral, e constatavam que, de fato, o capitalismo subdesenvolvido e tributário não levaria à emancipação dos pobres. Ao contrário, o desenvolvimento econômico, que o Estado e o capital levavam adiante, no País, semeava fome, violência, destruição e morte” (MARTINS, 1999, p. 137).
A Igreja muda para contribuir com o processo de emancipação humana da classe trabalhadora e do campesinato ao abraçar a opção pelos pobres, que “é uma opção preferencial pela des-ordem que desata, desordenando, os vínculos de coerção e esmagamento que tornam a sociedade mais rica e a humanidade mais pobre. E ao desatar, liberta” (MARTINS, 1989, p. 57).  Deus levanta os líderes da Igreja para denunciar o mal e anunciar que seu povo e toda a criação devem ser tratados com respeito e justiça, e conclamar a ações libertadoras, transformadoras .  “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Miquéias 6,8). Com o monge Marcelo Barros saudamos “a volta da profecia na voz dos cuidadores do povo de Deus” e esperamos que estas denúncias claras contra o desgoverno federal que nos assola possam continuar por posicionamento claro destes bispos sobre os setores da nossa própria Igreja que apoiam esta iniquidade ou simplesmente ao se omitirem nesta hora a legitimam. Quem tiver ouvidos, ouça o que os 152 bispos dizem e enxergue o caminho que apontam.

Referências.
MARTINS, José de Souza. O poder do atraso: ensaios de Sociologia da História Lenta. 2ª edição. São Paulo: HUCITEC, 1999.
MARTINS, José de Souza. Caminhada no chão da noite: emancipação política e libertação nos movimentos sociais do campo. São Paulo: HUCITEC, 1989.
Documento de Bispos e Superiores Religiosos do Nordeste - Eu Ouvi os Clamores do Meu Povo. Salvador, Editora Beneditina, 1973; Marginalização de um Povo – o Grito das Igrejas, Goiânia, 1973; Y-Juca-Pirama – o Índio Aquele que Deve morrer (Documento de urgência de Bispos e Missionários), s.e., s.l., 1973.

28/7/2020.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.
1 - 3ª Live do Movimento Inter-Religioso do Vale do Aço, MG: Fora, Bolsonaro? – Debate Inter-Religioso.



2 - Live - Fora Bolsonaro e o (des)governo federal? - Debate interreligioso



3 - Live CRISTÃOS TAMBÉM GRITAM: “FORA BOLSONARO”!!! - Frei Gilvander Moreira, Pastor Daniel Elias (Frente de Evangélicos/PT), Renata Miranda (Frente de Evangélicos/MG), Sara Suzan (PJ) e Paulo Amaral.



4 - Padre Nelito Dornelas: Debate Inter-Religioso "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?"- 26/7/2020


5 - Dom Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso, dia 12/7/2020.



6 - Irmã Claudicéa Ribeiro na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso – 12/7/2020.



7 - Padre Ronan: "Fora, Bolsonaro e esse governo de morte!" Eloquência e Profetismo - 12/7/2020



8 - A voz profética de dom Mauro Morelli: Por que "Fora, Bolsonaro"? - 12/7/2020



9 - Padre Edson, de Artur Nogueira/SP reafirma denúncias das opressões causadas por Bolsonaro. 05/7/2020



10 - Frei Gilvander e Dom Mauro Morelli na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Parte I



11 - Frei Gilvander na Live Cristãos também gritam "FORA BOLSONARO e todo desgoverno federal!"- 28/6/2020



12 - Padre José Ailton: Faz carreata contra Quarentena quem não se preocupa com a vida dos trabalhadores





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

domingo, 26 de julho de 2020

Mateus 20,20 28: Festa de São Tiago, apóstolo e mártir. Reflexão bíblica. Frei Gilvander - 25/7/2020.


Mateus 20,20 28: Festa de São Tiago, apóstolo e mártir. Reflexão bíblica. Frei Gilvander - 25/7/2020.


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Dia 25 de julho: Dia da/o trabalhador/a rural, Mulher Negra, Pai Nosso dos Mártires/1,6 ano de crime – 25/7/2020.

Dia 25 de julho: Dia da/o trabalhador/a rural, Mulher Negra, Pai Nosso dos Mártires/1,6 ano de crime – 25/7/2020.


Dia 25 de julho de 2020: Dia da/o trabalhador/a rural, Dia Mulher Negra, 35 anos de criação do Pai Nosso dos Mártires e 1,6 ano do crime/tragédia da Vale e do Estado em Brumadinho, MG, que sepultou 272 pessoas vivas e matou o rio Paraopeba, em Minas Gerais.

Frei Gilvander Luís Moreira

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terça-feira, 21 de julho de 2020

Parábola do semeador e luta por direitos. Por Frei Gilvander

Parábola do semeador e luta por direitos
Por Gilvander Moreira[1]



Uma parábola que está na Bíblia, no Evangelho de Marcos, nos coloca em contato com a situação dos sem-terra da atualidade e dos Sem Terra[2] do primeiro século na Palestina colônia do império romano. Ei-la: “Escutem. Um homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; os passarinhos foram e comeram tudo. Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda. Porém, quando saiu o sol, os brotos se queimaram e secaram, porque não tinham raiz. Outra parte caiu no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram, a sufocaram e ela não deu fruto. Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo; rendeu trinta, sessenta e até cem por um. E Jesus dizia: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Marcos 4,3-9).
É o trabalho dos camponeses que está refletido no enredo da parábola do semeador! Trabalho duro, de sol a sol, dificultado por conta da política praticada pelo poder do Império Romano e pelos seus representantes na Palestina. A situação no campo se tornou de extrema penúria. Havia grandes extensões de terra nas mãos de poucos, particularmente romanos ou seus representantes. As aristocracias das cidades de Tiberíades e Jerusalém eram também proprietárias de muita terra, em geral as mais férteis. A produção visava particularmente à exportação. A parábola do semeador fala de um trabalhador camponês que resiste e não se sujeita a cumprir os papéis subalternos e submissos que o sistema imperial lhe impõe. Seu trabalho se dá no lançar sementes à beira do caminho, na pedra, entre espinhos e, finalmente, em terra boa. A parábola chama a atenção para as duras condições de trabalho dos camponeses pobres explorados e expropriados e nos convoca a perceber como é grave a realidade que é narrada! Aos camponeses que não baixam a cabeça só resta a beira da estrada, o terreno com pedras ou cheio de espinhos, e isso se sobrar. A parábola nos leva a refletir sobre a injustiça da situação concreta vivenciada pelo camponês, mas aponta também para outro horizonte: o da alegria da fartura, o da produção abundante. Na verdade, as três primeiras etapas do trabalho do camponês aparecem em um crescente, apontando para a semeadura em terra boa, com o resultado esperado. A persistência do trabalhador terá sua recompensa. Além disso, deve-se notar que a parábola não declara quem é o destinatário da produção ou se outra pessoa que não o trabalhador camponês se aposse dela. Mas é inevitável pensar sobre isso pois, é sabido que os impostos injustos acabariam por açambarcar  boa parte de sua produção. No horizonte do texto do evangelho de Marcos 4,3-9, da década de 70 do primeiro século da Era Cristã, o destinatário da produção não pode ser senão o semeador quem trabalha a terra! Essa parábola profética se atreve a propor a utopia da terra libertada: sem donos, sem quem se aposse do trabalho de outros, sem que um plante para outro colher. Utopia narrada poeticamente no livro do profeta Isaías: “Os homens construirão casas e as habitarão, plantarão videiras e comerão os seus frutos. Já não construirão para que outro habite a sua casa, não plantarão para que outro coma o fruto” (Isaías 65,21-22a).
No Evangelho de Lucas há duas narrativas de envio de discípulos: Lucas 10,1-12, em que Jesus sugere aos discípulos irem para a missão despojados e desarmados, e Lucas 22,35-38, que trata da hora do combate, da luta, do enfrentamento. Na missão de construção de uma sociedade justa e solidária, ao tomar partido ao lado dos superexplorados e ‘dar nomes aos bois’, explicita-se as divisões e desigualdades sociais existentes na sociedade capitalista. Os incomodados tendem naturalmente a querer silenciar aqueles/as que os estão incomodando. Nesta hora de perseguições exige-se resistência. Por isso, o evangelho de Lucas propõe aos discípulos para o exercício da missão “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no máximo” (Lucas 22,36-38). No artigo “Seguir Jesus, desafio que exige compromisso”, ponderamos: “Resistir não é violência, é legítima defesa. Diante de qualquer tirania e de um Estado violentador, vassalo do sistema capitalista que sempre tritura vidas e pratica injustiças, é dever das pessoas resistir diante das opressões perpetradas contra os empobrecidos, os preferidos de Jesus.” Lucas, em Lc 22,35-38, sugere desobediência civil – econômica, política e religiosa. Em uma sociedade desigual, esse é “outro caminho” a ser seguido por nós, discípulos e discípulas de Jesus, o rebelde de Nazaré.
Os quatro evangelhos da Bíblia[3] relatam que Jesus, próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, indignado, ocupou o templo de Jerusalém, lugar sagrado. O nazareno fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e bois, destinados aos sacrifícios. Derramou pelo chão as moedas dos cambistas e virou suas mesas. Aos que vendiam pombas (eram os que diretamente negociavam com os mais pobres porque os pobres só conseguiam comprar pombos e não bois), Jesus ordenou: ‘Tirem estas coisas daqui e não façam da casa do meu Pai uma casa de negócio’ (João 2,16). O templo era espaço sagrado, lugar do culto e de se humanizar. O templo era uma instituição transformada em uma espécie de Banco Central do país + bancos + bolsa de valores. Atualmente, o território brasileiro com todos seus biomas e com todos os povos são nosso “templo” que está sendo violentado pelos novos ‘vendilhões do templo’, os fascistas e os capitalistas. Feliz quem, possuído por uma ira santa, participar da luta para expulsar os atuais mercadores da vida e que degradam as condições objetivas que a viabilizam. Há que se semear na própria terra e não em terra alheia ou para que usufrua o patrão. O desafio é ser discípulo/a crítico e criativo e lutar de forma coletiva para expulsar os atuais ‘vendilhões do templo’, que insistem em usurpar todas as formas de vida existentes em nosso país: o povo, os biomas e toda a biodiversidade que ela congrega. Tudo isso para que a vida, o que há de mais sagrado, e todas as condições para sua existência sejam garantidas.[4]

21/7/2020.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.
1 - Frei Gilvander contra despejo de famílias Sem Terra do MST em Campo do Meio, sul de MG - 07/7/2020

2 - Sem Terra sobreviventes do massacre de Felisburgo, MG, jamais vão aceitar despejo. Vídeo 2 12/3/20

3 - "Sem medo de ser mulher" e Cruz do Compromisso na IV Romaria/Águas/Terra/Bacia/rio Doce. Vídeo 10

4 - Quem luta coletivamente conquista. Sem Terra, do MTC, em Córrego Danta, MG. Vídeo 7 - 16/8/2019.

5 - Sem Terra produz alimentos saudáveis: MTC em Córrego Danta, centro-oeste/MG. Vídeo 4 - 16/8/2019



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Sem Terra diz respeito aos sem-terra conscientes e organizados que estão na luta pelo acesso à terra e sem-terra são os expropriado do acesso à terra, os explorados.
[3] Mateus 21,12-13; Marcos 11,15-19; Lucas 19,45-46 e João 2,13-17.
[4] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Política ambiental de Ricardo Salles é alvo de críticas de ambientalistas, empresários e ex-integrantes do governo


Política ambiental de Ricardo Salles é alvo de críticas de ambientalistas, empresários e ex-integrantes do governo - Fantástico - 19/7/2020.



 O Ministério Público Federal responsabiliza o ministro pela falta de credibilidade gerada pelo desmonte das políticas ambientais. *Vídeo original: G1 Fantástico - 19/7/2020
 *Divulgação: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares. 
Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. 

Desmatamento continua em ritmo de crescimento no início de 2020, confirmando tendência de 2019. Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2019/12/desmatamento-amazonia-aumenta-212/


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quinta-feira, 16 de julho de 2020

Dom Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso

Dom Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso, dia 12/7/2020.


Para iniciar nosso Debate Inter-Religioso sobre uma pergunta que precisa interpelar nossa consciência: Fora, Bolsonaro e todo o (des)governo federal? O Movimento Inter-Religioso do Vale do Aço, em Minas Gerais, pela Democracia, Justiça, Paz e Vida, promove mais uma Live com o objetivo de contribuir para que as pessoas religiosas se posicionem de forma ética, responsável, justa e coerente com o Evangelho de Jesus Cristo e com a fina flor da sua fé que precisa ser libertadora e jamais conivente com opressões de nenhuma espécie. Quem votou em Jair Bolsonaro e em políticos que estão na prática defendendo posturas contrárias ao bem comum que arrume um jeito de “compensar” esse erro gravíssimo. Conclamamos todos/as ao compromisso com o Movimento de luta pela Democracia, Justiça, Paz e Vida, o que passa necessariamente por FORA BOLSONARO E TODO O (DES)GOVERNO FEDERAL, pois não podemos ser omissos e nem cúmplices diante de um (des)governo genocida que está matando de inúmeras formas. Estão gritando por direitos a mãe Terra, a irmã Amazônia e os outros biomas, a irmã água, os povos indígenas, os quilombolas, os LGBTQIs, os sem-terra, sem-teto, os desempregados, o povo negro, os povos das periferias, os 500 mil irmãos nossos que estão em situação de rua, as mulheres vítimas de feminicídio, o povo ludibriado por falsos pastores, por falsos padres, por falsos líderes religiosos que barganham com um governo fascista e abusam do nome de Deus e de textos bíblicos para acumular dinheiro, se aproveitando das angústias das pessoas com discursos religiosos “sem pé nem cabeça” ... Todos esses gritos ensurdecedores precisam interpelar nossa consciência. Desta Live participaram: 1) Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB; 2) Makota Celinha, coordenadora do CENARAB e do Candomblé; 3) Filipe Gibran, pastor da Frende de Evangélicos pelo Estado Democrático de Direito; 4) Irmã Claudicéa Ribeiro, da Congregação de Filhas de Maria Missionárias; 5) Paulo Amaral, do Movimento Inter-Religioso pela Democracia, Justiça, Paz e Vida e Movimento Negro do Vale do Aço, MG; 6) Frei Gilvander Moreira, da CPT e CEBI. Aqui neste vídeo o pronunciamento do bispo Dom Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso, dia 12/7/2020. Com cabeça erguida, de forma profética, Dom Vicente Ferreira se posicionou exigindo Fora, Bolsonaro e todo o (des)governo federal.


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terça-feira, 14 de julho de 2020

Amós, Oseias e Isaías: injustiça social e idolatria religiosa, NÃO! - Por Frei Gilvander


Amós, Oseias e Isaías: injustiça social e idolatria religiosa, NÃO!
Por Gilvander Moreira[1]

Charge de Latuff sobre a Causa Indígena

 Ao celebrarmos os 45 anos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) - 1975 a 2020 – importante se faz recordarmos os ensinamentos e a atuação dos profetas Amós, Oseias e Isaías. Na Bíblia, no livro de Amós, nos capítulos 1 a 9, de meados do século VIII antes da era cristã, encontramos literatura de protesto e resistência. “O acento principal da mensagem de Amós está na crítica social e no anúncio de um juízo iminente de Deus na história, bem como na tênue, mas clara exigência do restabelecimento da justiça como alicerce das relações sociais” (REIMER, 2000, p. 171). A profecia de Amós constitui-se como uma exigência veemente pelo restabelecimento da justiça social[2]. Segundo Haroldo Reimer, no artigo “Amós – profeta de juízo e justiça”, a profecia de Amós é: “Uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o governo expansionista de Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C.” (REIMER, 2000, 188).
Em outros termos, o profeta Amós não apenas critica pessoas exploradoras, mas também questiona enfaticamente o sistema monárquico que as gera. Não somente as mazelas pessoais estão na mira de Amós, um camponês que entrou para a história como profeta da luta por justiça social. Ele compreendia as causas profundas da injustiça e tinha consciência de que o problema fundamental da iniquidade reinante na sociedade não é fruto somente de fraquezas pessoais, mas tem como causa matriz estruturas sócio-econômico-político-culturais e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas. Na mira do profeta Amós também estão relações comerciais que causam às pessoas endividamento, escravizam e aprisionam  retirando-lhes a liberdade e o direito de serem pessoas humanas.
A profecia de Oseias aconteceu provavelmente entre os anos 755 a 721 antes da era cristã, no reino do Norte, na Palestina/Israel, durante os últimos anos do reinado do rei Jeroboão II  e de Oseias, filho de Ela. No primeiro capítulo do livro de Oseias está uma forte crítica contra a dinastia de Jeú. Os capítulos 2 e 3 de Oseias refletem certa prosperidade de produção no campo e tranquilidade política, marcas do reinado de Jeroboão II. Do capítulo 5 em diante, estão reflexos da crise que se instaura na Palestina/Israel, devido a pressões externas vindas do Império Assírio. Com a chamada guerra siro-efraimita e a subjugação de parte do território pelo rei da Assíria Teglat-Falasar III, por volta do ano 733 antes da era cristã, aumenta significativamente o clima de violência e insegurança interna. Os capítulos finais do livro de Oseias testemunham os acontecimentos em torno do ano 724 antes da era cristã, data do cerco à cidade de Samaria e da destruição do reino do Norte com o consequente exílio do povo para a Assíria, potência imperialista da época. O profeta Oseias identificava os detentores do poder religioso como causadores de violência social. Segundo a profecia de Oseias, os sacerdotes são os grandes culpados pela violência reinante na sociedade. O povo percebe que os sacerdotes haviam se transformado em assassinos e se comportavam como malfeitores: “Como bandidos na emboscada, um bando de sacerdotes assassinam pelo caminho de Siquém e cometem horrores” (Oseias 6,9). Com a participação do profeta Oseias, o povo percebe a ilusão que é acreditar no Império Assírio como caminho de salvação: “Não é a Assíria que nos salvará, não montaremos mais cavalos, jamais chamaremos novamente de nosso Deus a um objeto feito por nossas próprias mãos, pois é em ti, só junto de ti, que o órfão encontra compaixão” (Oseias 14,4). “Não montar mais cavalos” significa não acreditar mais em militarismo e nem em repressão como solução para problemas e injustiças sociais. Guiado pelo profeta Oseias, o povo se desvencilha de idolatrias que na prática resultavam em opressão e superexploração, inclusive dos mais vulneráveis, entre eles, os órfãos. O povo cai na real e consegue ver que os reis e príncipes são insensatos, mentirosos e se matam por disputas internas (cf. Oseias 7,1-7) e por disputas políticas externas (cf. Oseias 5,1-15; 7,8-16; 8,8-14; 10,6-15). Diante dessa dramática máfia religiosa e política, o povo, passando por um processo sofrido de conversão, conclui, voltando-se para o Deus Javé: “... é em Ti que o órfão encontra misericórdia” (Oseias 14,4). A hipocrisia e o cinismo dos sacerdotes na condução do culto fazem o povo descobrir que o caminho para a libertação não passa pelos sacrifícios, mas pela misericórdia. A conclusão é: Misericórdia, sim; sacrifício, não! (Oseias 6,6).
Atuando na Palestina por volta do ano 730 antes da era cristã, o profeta Isaías criticou o latifúndio e a grilagem de terras, porque na sua época, tempo de sistema político monárquico, os latifundiários estavam solapando o projeto comunitário das tribos autônomas sem poder centralizado. No livro de Isaías a grilagem de terras é denunciada com veemência: "Ai dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível, até serem eles os únicos moradores da terra” (Isaías 5,8). E Isaías denunciou, também, as autoridades dos poderes executivo, legislativo e judiciário: "Ai daqueles que fazem decretos iníquos e daqueles que escrevem apressadamente sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos pobres do meu povo, para fazer das viúvas a sua presa e saquear os órfãos” (Isaías 10,1-2)! Isaías anuncia, ainda, uma esperança consistente: "O fruto da justiça será a paz” (Isaías 32,17). Ou seja, para o profeta Isaías é impossível conquistar paz verdadeira sem a justiça.
Como resultado desta breve análise, podemos concluir que os profetas Amós, Oseias e Isaías, irmanados, proclamam: injustiça social e idolatria religiosa, NÃO![3]

Referências
REIMER, Haroldo. Amós – profeta de juízo e justiça. In: Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas releituras. RIBLA 35-36, p. 171-190. Petrópolis: Vozes e São Leopoldo: Sinodal 2000.

14/7/2020.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima, pois são profetas Amós, Oseias e Isaías que viveram ou vivem no nosso meio atualmente.
1 - Padre Antônio Amorst, 85 anos, missionário em Gov. Valadares e Tumiritinga, MG. Parte I

2 - Padre Antônio Amorst, 85 anos, profeta de Deus no Vale do Rio Doce, MG. Parte II - 11/9/2019.

3 - Padre Antônio Amorst foi imprescindível na CPT/MG na luta pela terra no Vale do Rio Doce. 11/9/2019

4 - Tributo ao Padre Ernesto: Um Profeta no meio do Povo - 27/7/2019

5 - Alvimar da CPT por Luciano di Fanti: "profeta, homem de Deus, sábio, palavra de peso. 22/08/16

6 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra em MG. 1a parte.

7 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra. 2a parte. 07/16

8 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra. 3a parte.

9 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra. 4a parte.





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Cf. também SICRE, José Luís. A justiça social nos profetas. São Paulo: Paulus, 1990; REIMER, Haroldo. Leis de mercado e direito dos pobres na Bíblia Hebraica. In: Estudos Bíblicos, n. 69, p. 9-18. Petrópolis, Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 2001.

[3] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.