quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Luta em defesa dos bens comuns na XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 2º Encontro da Cartilha.

Luta em defesa dos bens comuns na XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 2º Encontro da Cartilha.

Diálogo e troca de experiências entre crianças estudantes e missionário indígena do Povo Pataxó, em uma escola na cidade de Romaria, durante a Semana Missionária da XXII Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, dia 06/11/2019. Fotos: Laiza Dutra.
Durante uma Semana de Missão da XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, de 02 a 9 de novembro de 2019, tendo como subsídio uma Cartilha com três Encontros (Roteiros Bíblicos) e uma Celebração, estamos refletindo sobre a mãe terra irmã e a irmã água como bens comuns e dons de Deus. A celebração final da XXII Romaria acontecerá na cidade de Romaria, no dia 10 de novembro desse ano de 2019, um domingo, das 8h30 às 16 horas. Eis, abaixo, um pouco do que consta no 2º Encontro da Cartilha das Missões.
O destino da criação inteira passa pelo mistério de Jesus Cristo, que está presente na natureza desde a sua origem: “Todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele” (Cl 1,16). Deus criou tudo por amor: “Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não as terias criado” (Sab 11, 24). Os bens da natureza são BENS COMUNS, e não do mercado. Contudo, são chamados de “recursos naturais”, reforçando uma ideia de que eles só têm valor em função do uso que fazemos deles. Assim eles se transformam em propriedade privada capitalista. Porém, os bens comuns são condições naturais da própria vida, como a água, os ventos, sol, clima, atmosfera, biodiversidade, solos e sua fertilidade, minerais. Eles são uma herança comum, bens comuns e não podem ficar concentrados nas mãos de poucos. São bens do próprio planeta e não só da humanidade. Como dizia São Francisco de Assis, o nosso planeta é “irmã e mãe, que nos sustenta e nos governa”. O Papa Francisco nos recorda: “Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus. A história da própria amizade com Deus desenrola-se sempre em um espaço geográfico que se torna um sinal muito pessoal, e cada um de nós guarda na memória lugares cuja lembrança nos faz muito bem. Quem cresceu no meio de montes, quem na infância se sentava junto do riacho a beber, ou quem jogava numa praça do seu bairro, quando volta a esses lugares sente-se chamado a recuperar a sua própria identidade” (Laudato Si 84).
Há algumas décadas, muito se falava sobre a situação da mãe terra. Atualmente não se para de falar sobre a irmã água. O que muita gente não sabe é que água e terra caminham juntas, entrelaçadas. O problema da água não será resolvido sem o correto manuseio da terra, inclusive quanto ao problema do plantio em larga escala.
Deus criou o mundo e tudo que nele existe, a partir do seu grande amor. Diz o salmista: “Ao Senhor pertence a terra” (Sl 24/23,1). A Ele pertence “a terra e tudo o que nela se encontra” (Dt 10,14). O Deus da vida nos fala a partir da Bíblia e também a partir da realidade. A Bíblia nos revela a Sabedoria de Deus, que nos fez criaturas junto a toda criação. “Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada”, nossa responsabilidade é a de “cultivar e guardar”, essa é uma “responsabilidade perante uma terra que é de Deus implica que o ser humano, dotado de inteligência, respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo” O papa Francisco reafirma tudo isso, na Encíclica Louvado Sejas e nos diz que tudo está interligado, que não há bem estar humano sem o uso responsável das coisas e sem reconhecer que todas as criaturas têm valor próprio diante de Deus.
O modelo atual de desenvolvimento não considera os bens comuns como necessários para vida e a Terra: “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la.” Você sabia que a lógica do agronegócio muda completamente a ideia da mãe terra e da irmã água como dons de Deus? Para o agronegócio a mãe terra é mercadoria, a irmã água é mercadoria, pois são utilizadas apenas para produzir acumulação de riqueza, e produzir o ano todo, como escravas, sem limites. A terra não tem descanso, a água vai sendo poluída, secada...
O agronegócio, além de explorar a terra e a água e torná-las mercadorias, faz com que as pessoas que trabalham na terra também sejam escravas. Sim, digo e repito: escravas! O agronegócio, na lógica capitalista, não respeita o ser humano. Toda vez que a terra é transformada em mercadoria, o ser humano também se transforma em mercadoria. Por isso, “em 30 anos, de 1985 a 2015, foram assassinados na luta pela terra no Brasil 1356 pessoas, uma média de 43,2 por ano” (MOREIRA, 2017, p. 88, em Tese de doutorado na UFMG).
E a mineração? A mineração está entre as atividades mais destrutivas do planeta. Na mineração em grande escala, enormes quantidades de terra e subsolo são processados e grandes quantidades de água são usadas e enormes quantidades de material tóxico são deixados para trás. Os efeitos podem durar várias gerações. Os impactos ambientais provocam destruição, mortes, e são mais comuns do que imaginamos. Em Minas Gerais, os crimes cometidos pelas mineradoras Samarco (Vale e BH Billinton) em Mariana, e pela Vale, em Brumadinho, são realidades que clamam por justiça socioambiental.
Quando uma empresa de mineração chega à sua comunidade, a conversa é legal com maravilhosas promessas de benefícios para todos, falam como a mineração moderna é muito melhor. Porém, escondem uma verdade cruel. Elas não dizem que muitas comunidades são forçadas a deixarem suas terras e seus modos de vida, como ocorreu com as famílias de agricultores da comunidade da Mata da Bananeira, em Patrocínio, que foram coagidas a saírem de suas terras pela então mineradora Vale Fertilizantes. As mineradoras não mencionam nem antes e nem depois de se instalarem a imensa destruição ambiental, como as das nascentes que secaram no município de Tapira, devido ao aprofundamento da cratera (buraco) de extração, na exploração de rocha fosfática, da hoje empresa estadunidense Mosaic Fertilizantes. Nem tampouco as mineradoras falam da contaminação de águas subterrâneas e superficiais, como acontece na região do Barreiro, em Araxá, com metais pesados, como o bário, na mineração de nióbio pela CBMM, causando muitos casos de pessoas com câncer.
A mineração é importante para muitas coisas do dia a dia, mas, da forma predatória como é feita, não respeita a natureza e as pessoas, ao contrário, violenta a dignidade humana e a dignidade de toda a biodiversidade. Sua riqueza fica concentrada nas mãos de poucos. A resistência à mineração está sendo cada vez mais feita a partir das próprias comunidades que buscam colocar limites maiores nas atividades de mineração. Os casos bem sucedidos de resistência são aqueles sustentados a partir das ações das próprias comunidades.
O Papa Francisco afirma: “Em qualquer discussão sobre um empreendimento, dever-se-ia pôr uma série de perguntas, para poder discernir se o mesmo levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral: Para que fim? Por qual motivo? Onde? Quando? De que maneira? A quem ajuda? Quais são os riscos? A que preço? Quem paga as despesas e como o fará? Neste exame, há questões que devem ter prioridade. Por exemplo, sabemos que a água é um recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o exercício de outros direitos humanos. Isto está, sem dúvida, acima de toda a análise de impacto ambiental duma região.”

Obs.: Acompanhe notícias, textos e vídeos sobre a XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais nos sites:



Obs.: Eis mais algumas fotografias, abaixo.

Momento de Oração dos/as missionários/as próximo ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na cidade de Romaria, MG, dia 06/11/2019.

Momento de Oração dos/as missionários/as próximo ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na cidade de Romaria, MG, dia 06/11/2019.

Continua a Semana de Missões da XXII Romaria em uma escola da cidade de Romaria, MG.

Missionários/as em reunião diante do Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja.


Missões da XXII Romaria das Águas e da Terra em Escola da cidade de Romaria, na região do Alto Paranaíba, MG, na Arquidiocese de Uberaba, MG, dia 06/11/2019. Fotos: Laiza Dutra.

Momento de Oração dos/as missionários/as próximo ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, na cidade de Romaria, MG, dia 06/11/2019.

Por uma Educação a partir da mãe Terra e da Irmã Água rumo à construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver, com estilo de vida simples e sóbrio.




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