Povo de Deus se organizando por meio da XXII Romaria das Águas e da Terra de MG: 1º Encontro da Cartilha.
Missão em uma Escola na Cidade de Romaria, MG, dia 05/11/2019. Fotos: CPT/MG. |
A Mãe Terra e a Irmã Água são dons de Deus, que não podem ser tratados como mercadorias por um grupo de pessoas e empresas. Todos nós temos o direito de ter acesso a estes dons. Sem água não podemos viver! Sem terra sadia não podemos viver! Temos consciência de que sem o verdadeiro cuidado com a mãe terra e com a irmã água, em vão será nossa luta. Temos que estar unidos, pois a luta será grande e a mudança só acontecerá com engajamento coletivo e verdadeiras atitudes proféticas. Se permanecermos unidos, nada poderá nos desanimar. Nosso desejo é lutar pela defesa do interesse de todos e todas. Sabemos que o sistema capitalista, presente em nossa região e no Brasil inteiro, é uma máquina de moer vidas. Existem pessoas que, sintonizadas com o sistema capitalista, visam uma produção cada vez mais mecanizada, matando as nascentes, secando as grotas, os córregos, as lagoas e nossos rios, envenenando a terra, acumulando latifúndios. A mãe terra está clamando para ser partilhada, livre de venenos. Irmã água está clamando para ser preservada!
Na Bíblia, no livro do Êxodo, especialmente no capítulo 18, Moisés estava enfrentando muitas dificuldades na condução do povo Rumo à Terra Prometida. Moisés estava levando toda a responsabilidade em suas costas. Ninguém pode achar que os problemas sociais são gerados por uma só pessoa, muito menos, pensar que a solução também virá de uma única pessoa. Não precisamos de heróis, mas sim de fazermos aliança em nossa luta e sermos organizados. O sogro de Moisés, chamado Jetro, entrou com a voz da experiência e dos longos anos vividos orientando-o a descentralizar a autoridade. Jetro propõe organizar o povo em grupos, formando assim uma grande Assembleia. Moisés ouviu o conselho de seu sogro! Seja na atitude de Jetro, sogro de Moisés, seja nas atitudes de Josué, ou mais ainda na forma como Jesus de Nazaré conduzia o povo, em todos, o que há de comum é a organização do povo como forma de fortalecimento.
O Deus da vida nos fala a partir da Bíblia e também a partir da realidade. A região da Arquidiocese de Uberaba e das Dioceses de Uberlândia, Patos de Minas e Ituiutaba – Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro - está sendo violentada pela multiplicação inconsequente dos agentes da agroindústria, de mineração, agronegócio com monoculturas da cana, do café e do capim, tudo com irrigação na base do hidronegócio. Apesar das boas práticas e uso sustentável da terra, da água e outros recursos naturais realizadas de maneira consciente por algumas entidades e pessoas nesses municípios, predominam graves problemas visíveis e muito mais ainda invisíveis que afetam a vida de todos na nossa região. Antigamente, esperava-se que a chuva chegasse para plantar. Tinha um tempo e uma duração previsível naturalmente. Tínhamos menos pessoas para alimentar e muitas áreas a serem incorporadas ao sistema produtivo. Praticava-se uma agricultura e pecuária extensiva. Ou seja, para aumentar a produção, aumentavam-se as áreas produtivas. O cerrado era ignorado como região boa para produção agrícola e pecuária. A preferência era pela Mata Atlântica. Depois, com os avanços das pesquisas descobriram a riqueza e possibilidades de produção no cerrado. Com isso, houve acentuada devastação do cerrado de forma que os empresários do agronegócio, além de utilizar essas e outras áreas de mata atlântica para produzir, passaram a plantar várias vezes por ano suas lavouras e também fazer uso desordenado da água, com as práticas da irrigação, captando água das lagoas, dos córregos, dos rios e do lençol freático via poços artesianos. Só que a captação desordenada além de baixar o nível da água subterrânea em função da redução das chuvas, beneficia apenas alguns proprietários, empresários, deixando consequentemente milhares de famílias camponesas em dificuldades. Assim, a miséria está se alastrando no campo e na cidade no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Existem pessoas sérias, órgãos, entidades e lideranças comprometidas que atuam para preservar e reverter a realidade das áreas degradadas. Mas, há muita fala, muito papel, pouca ação. Até mesmo no poder público estatal e alguns órgãos ambientais existem protagonistas dessa devastação socioambiental. Não fiscalizam e concedem licenças ambientais que na prática são usadas para se captar muito mais água do que o permitido legalmente. Somos testemunhas dos maus tratos impostos à mãe terra pela fome de lucro que destrói nascentes, seca córregos e polui ribeirões, deixando com sede os dois grandes rios do Triângulo Mineiro: o Rio Grande e o Rio Paranaíba, e seus afluentes. Além disso, em geral, as regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba são conhecidas como prósperas e ricas; no entanto, há uma gritante concentração de riquezas que produz uma relação de exploração e pobreza da maioria de sua população no campo e na cidade. Como sinal disso, mais de 20 mil famílias foram para ocupações em Uberlândia nos últimos anos. Nesse sentido, acolhendo o grito profético do Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, para cuidarmos de nossa Casa comum; celebrando a Campanha da Fraternidade sobre os Biomas Brasileiros e a Defesa da Vida, em 2017 e a Campanha da Fraternidade sobre Políticas Públicas em 2019, vivenciamos e celebramos a XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, uma caminhada que desperta a consciência dos e das agentes para a dimensão socioambiental da fé cristã. São promotores desta caminhada o trabalho da Cáritas Arquidiocesana de Uberaba, a atuação histórica do povo trabalhador da região, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e de Pastorais Sociais, junto com os Movimentos Sociais Populares no campo e na cidade, buscando a construção da Sociedade do Bem Viver e Conviver.
Momento de oração e celebração da Equipe missionária durante a XXII Romaria das Águas e da Terra de MG. |
Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, em Romaria, onde acontecerá a XXII Romaria das Águas e da Terra de MG, dia 10/11/2019. |
Entre os/as missionários/as estão pessoal das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), de Pastorais Sociais e indígenas Pataxó, inclusive. |
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