Prefeitura
de Ibirité, MG, tem 45 dias para arrumar terrenos para as Comunidades Ciganas da
cidade: prazo dado pela Mesa de Negociação do Governo de Minas.
O desembargador Audebert Delage, do TJMG, como
plantonista, suspendeu, dia 08 de junho de 2018, uma Liminar de Reintegração de
Posse impetrada pela prefeitura de Ibirité, MG, dia 27 de abril de 2017, contra
a Comunidade Cigana do bairro São Pedro, em Ibirité, MG, acolhendo Agravo de
Instrumento da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, processo n. 1.0000.18.059043-2/001.
O desembargador do TJMG Armando Freire, relator do processo, ratificou, ou
seja, confirmou a Suspensão da Liminar de Reintegração dia 14 de junho de 2018.
Tudo isso após luta da Rede de Apoio em conjunto com o Acampamento Cigano São
Pedro, de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, MG.
Seguindo a luta em prol dos direitos dos
Povos Ciganos, dia 16 de julho de 2018, realizamos na Cidade Administrativa, em
Belo Horizonte, MG, reunião da Mesa de Negociação do Governo de Minas com as
Ocupações urbanas e do campo e também comunidades tradicionais envolvidas em
conflitos socioambientais. A reunião foi convocada pelo Dr. Edmundo Dias Netto
Júnior, procurador do Ministério Público Federal (MPF) em MG. Tadeu David
coordenou a reunião. A pauta da reunião foi os Direitos do Acampamento Cigano
São Pedro em Ibirité, MG, com 12 famílias ciganas. Entretanto, como nos últimos
meses começamos a acompanhar também o Acampamento Cigano do bairro Cascata, em
Ibirité, com 35 famílias ciganas, esse Acampamento foi incluído nas
reivindicações. As comunidades ciganas de Ibirité estão em grande
vulnerabilidade social e firmes na luta pela conquista de terrenos para que
possam viver com dignidade.
Na reunião, o Dr. Edmundo Dias, do MPF,
explicou que quando o caso do Acampamento Cigano São Pedro, em Ibirité, chegou
ao MPF, por meio de apelo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do CEDEFES
(Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), já havia uma decisão judicial
de reintegração de posse e que o despejo poderia ser iminente. Disse que participou
de uma reunião com o Procurador de Ibirité, Wagner, juntamente com a Defensora
pública da DPE/MG, Dra. Cleide Nepomuceno, ao lado de representantes da CPT, do CEDEFES e
da Comissão Estadual de Povos Tradicionais, e que o procurador da prefeitura de
Ibirité fez alguns compromissos durante a reunião, dentre eles, protocolar um
pedido de suspensão da ordem de reintegração de posse, pois a Comunidade Cigana
São Pedro já se encontra há mais de sete anos no local – o que configura posse
antiga -, sem atendimento dos serviços públicos (rede de esgoto, água, energia
etc.). Ressaltou a necessidade da regularização fundiária do Acampamento Cigano
São Pedro e a criação dos equipamentos públicos necessários no local. Ressaltou
que a defensora pública, Dra. Cleide Nepomuceno, conseguiu suspender a
reintegração de posse, o que os motivou a tentar negociação com a Prefeitura
Municipal de Ibirité. Disse que foi levada ao prefeito de Ibirité, William
Parreira (PHS), a possibilidade da destinação de uma área na cidade para a
comunidade cigana, com moradia culturalmente adequada, para festas, área de
convivência, criação de animais, entre outras atividades culturais ciganas.
Acredita que se o município fizer isso, a cidade entrará na vanguarda pelo
respeito aos Povos Ciganos que estão presentes na cidade desde sua origem e vai
se tornar um exemplo a ser seguido por todo o país. Informou que, seguindo
estatísticas, Minas Gerais é o estado com o maior número de comunidades ciganas
no Brasil. Há em Minas Gerais, 62 cidades com Acampamentos Ciganos. No Brasil,
estima-se a existência de 1.000.000 de ciganos. Dr. Edmundo ponderou que é
preciso preservar a rica cultura dessas comunidades no estado e garantir os
direitos humanos dessas famílias.
Pela CPT, Frei Gilvander alertou que existe
uma injustiça muito grande da Prefeitura sendo feita com as duas comunidades
ciganas de Ibirité. Denunciou que a Prefeitura já levou vários empresários para
visitar a área ocupada pelos ciganos no bairro São Pedro, com a alegação de que
é preciso repassar a área para uma empresa gerar empregos na cidade. Argumento
medíocre esse, pois repassar área pública da municipalidade para empresa é
fazer opção pelo mercado e se posicionar contra os pobres e injustiçados. Frei
Gilvander disse que a Prefeitura ficou de apresentar um terreno adequado para
esta comunidade na reunião na Cidade Administrativa. O frei pediu uma reunião
para tratar dos direitos do Acampamento Cigano do bairro Cascata, em Ibirité, e
outra reunião para tratar dos direitos da Comunidade Cigana da Lagoa de São
Pedro, em Pedro Leopoldo, MG. Frei Gilvander pediu que, enquanto a prefeitura
de Ibirité não arrume um terreno adequado onde os ciganos possam viver em paz, a
prefeitura cuide do meio ambiente: o córrego poluído que está ao lado do
Acampamento Cigano São Pedro. Frei Gilvander propôs ainda que as Secretarias de
Educação, Cultura e Esporte realizem seminários e rodas de conversas nas escolas
sobre a cultura cigana com a participação de lideranças ciganas. Isso
contribuirá para superação de preconceitos e compreensão da beleza da milenar
cultura cigana.
João Pio de Souza, da Comissão Estadual de
Povos Tradicionais, ressaltou que as tratativas devem ser específicas para cada
tipo de comunidade tradicional e salientou sobre a necessidade de se discutir a
urgência de políticas públicas para a comunidade cigana, durante o processo de
regularização fundiária, que é mais demorado. Sugeriu a criação de um Comité
municipal para comunidades.
Muito comovido, Itamar Soares e Valdinalva,
casal de ciganos da comunidade calon do bairro São Pedro, em Ibirité, disseram
que os ciganos não estão tendo espaço e que a cultura deles está morrendo, pois
estão sempre sendo expulsos de vários locais. “Na cidade se arruma lugar para pôr
o lixo, mas não arruma lugar para vivermos em paz”, disse Valdinalva.
Agradeceram o apoio da Defensoria Pública de Minas, da CPT, do CEDEFES, do MPF,
de professores da UEMG, do Centro Universitário Izabella Hendrix e de outros
órgãos, que têm dado apoio à comunidade.
Daniel Monteiro, representante da prefeitura
de Ibirité na reunião, disse que a prefeitura de Ibirité sofre muitas pressões
contra os ciganos, pressão de vereadores, inclusive.
João Pio de Souza, coordenador da Comissão
Estadual dos Povos Tradicionais, ressaltou que as tratativas devem ser
específicas para cada tipo de comunidade tradicional e salientou sobre a
necessidade de se discutir a urgência de políticas públicas para a comunidade
cigana, durante o processo de regularização fundiária, que é mais demorado.
Sugeriu a criação de um Comitê Municipal de Povos e Comunidades Tradicionais. E
solicitou também às Comunidades Ciganas que busquem a identificação de autodefinição
de comunidade cigana junto à Comissão Estadual dos Povos Tradicionais, o que
viabilizará o acesso dessas famílias às políticas públicas do município.
Dr. Edmundo Dias, do MPF, sugeriu que a
Prefeitura vá à Comunidade Cigana do Cascata para levantar as necessidades de
saneamento básico urgente para as famílias, de forma igualitária à Comunidade
Cigana São Pedro.
A Mesa de Diálogo do Governo de Minas, sob
coordenação de Tadeu David, recomenda a criação de um Comitê Municipal de Povos
e Comunidades Tradicionais, neste primeiro momento para cuidar dos povos
ciganos, com a participação do Gabinete do Prefeito, Secretaria de Governo,
Secretaria de Desenvolvimento Social e representante das comunidades, MPF, DPE,
Universidades e outras entidades parceiras que os membros do Comitê julgarem
necessário.
Após muita discussão e reflexão, foram
acordados os seguintes Encaminhamentos:
1
- A Prefeitura de Ibirité terá 45 dias para fazer o levantamento dos imóveis do
município e apontar a possibilidade de ceder um ou dois terrenos para as
comunidades Ciganas São Pedro e Cascata. Dentro de 15 dias, Daniel Monteiro
informará à Mesa de Diálogo que já pediu ao cartório o inventário de bens do
município. Diante da resposta do município, o Comitê Municipal dos Povos
Tradicionais – a ser criado - agendará uma visita ao imóvel, com a presença de
representantes das comunidades Ciganas de Ibirité.
2
- A Mesa de Diálogo do Governo de Minas fará um contato com a COPASA e a CEMIG,
para verificar a possibilidade de instalação provisória de rede de água, esgoto
e energia no local ocupado.
3
- Daniel Monteiro, representante da Prefeitura.de Ibirité, se comprometeu a
levar à Prefeitura Municipal de Ibirité a possibilidade de se construir
banheiros provisórios nas duas comunidades ciganas.
Enfim, seguiremos na luta na certeza de que
só na luta coletiva se conquistam direitos.
Segue, abaixo, cópia da Ata da Reunião da
Mesa de Negociação do Governo de Minas, dia 16/7/2018.
Assinam essa Nota Pública:
CPT (Comissão Pastoral da Terra – www.cptmg.org.br );
CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira
da Silva – www.cedefes.org.br )
Belo Horizonte, MG, 19 de julho de 2018.
Obs.:
Eis, abaixo, vídeos reportagens sobre o Acampamento Cigano de São Pedro e o
Acampamento Cigano do Cascata, em Ibirité, MG.
1 - Acampamento Cigano de São Pedro, em Ibirité/MG: A Voz
da Mulher por respeito e direitos. 26/5/2018.
2 - Acampamento Cigano São Pedro: clamor por terra e
direitos, em Ibirité/MG. 25/5/2018.
3 - Acampamento Cigano do Bairro Cascata, em Ibirité, MG:
clamor por direitos. 1ª Parte. 07/7/2018
4 - O direito fundamental à terra - Acampamento Cigano do
Cascata/Ibirité/MG. 2ª Parte. 07/7/2018.
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