Retomada Indígena em
São Joaquim de Bicas, MG, segue em frente e se fortalece!
Reunião das lideranças indígenas Puri, Carajá e Pataxó em
São Joaquim de Bicas, MG, com representantes da FUNAI, CPT e CEDEFES, dia
05/6/2018. Foto: A. Baeta.
Foi em
Novembro de 2017 que as primeiras famílias indígenas, antigas moradoras da Região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), ocuparam parte de uma das fazendas reivindicadas
pelo megaempresário da área de mineração e especulador imobiliário, Eike
Batista. A localidade onde atualmente se encontra a Retomada Indígena, nome que
consideram mais adequado, pois se trata de uma ocupação de povo indígena, quer
dizer, autóctone, foi primeiramente ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) há mais de um ano, todavia em outra localidade da
fazenda, à beira do rio Paraopeba, na
divisa com o município de Mário Campos, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte (RMBH). Os indígenas estão dentro da Mata e próximo à calha principal
do rio Paraopeba, que na língua tupi, significa Rio Largo. De fato, o rio
Paraopeba irriga 35 municípios ao percorrer 510 quilômetros, nascendo no
município de Cristiano Otoni – onde sua nascente está secando – e desaguando no
rio São Francisco, em Felixlândia, na barragem de Três Marias. O rio Paraopeba
está clamando por revitalização, pois está sendo poluído de uma forma
assustadora, inclusive com produtos químicos. A presença dos indígenas na bacia
hidrográfica do rio Paraopeba, sem dúvida, será um fator que alimentará as forças
vivas em prol da preservação do rio.
Indígenas
desaldeados que moravam na RMBH e possuíam uma série de problemas ligados à
moradia, risco social, carência alimentar e dificuldade de acesso às políticas
públicas decidiram, então, em parceria com o MST, ocupar esta fazenda
improdutiva e obsoleta, grande propriedade fundiária que não cumpria sua função
social. Foi emocionante e inesquecível encontrar entre os parentes indígenas o
casal Sr. Gervázio, 91 anos, e Sra. Antônia, 88 anos, ambos do Povo Pataxó com suas
filhas e seus filhos na retomada indígena. Ao narrar sua história de luta e
resistência, o Sr. Gervázio, emocionado, diz que foi forçado na década de 1950
a deixar o território de seus parentes pataxó na Bahia, mas nunca esquece a Mãe
Terra. Está muito feliz por estar, no alto de seus 91 anos, retomando a vida no
meio da mata em harmonia com a natureza.
Esse
local ladeado de mata foi denominado pelas lideranças Puri, que se encontram de
forma permanente na retomada desde o seu início, como Aldeia “Uxô Mehtl’om”,
que, na língua Puri, significa ‘Terra Força’. Em Patxohã a Aldeia se chama Naô
Xohã. Importante passo foi dado dia 05 de junho de 2018 pela Coordenação
Regional da FUNAI, em MG-ES, ao realizar a etapa denominada “Qualificação”,
abrindo oficialmente o processo de diagnóstico e de análise a partir da demanda
perpetrada por famílias das etnias indígenas Puri, Pataxó e Carajá, que já se
encontram na Retomada do território da Fazenda em São Joaquim de Bicas.
Interessante
notar que em localidade vizinha a esta área de mata há uma vasta área de
mineração denominada Serra Azul, formada por uma
extensa reserva de minério de ferro, que corta os municípios de Brumadinho,
Igarapé, Itatiaiuçu, Itaúna, Mateus Leme e São Joaquim de Bicas. Absurdo
imaginar que o terreno vizinho e com a biodiversidade ainda conservada servia
como terreno de especulação e reserva desta mineração. Terreno este que é verdadeira
reserva da natureza e da biodiversidade ideal para a moradia definitiva de famílias
indígenas e das famílias camponesas sem terra que nela, na mãe terra, podem
produzir seus alimentos, garantindo a qualidade de vida de seus filhos e filhas.
Irmanados na luta junto à Comunidade da Retomada Indígena no município
de São Joaquim de Bicas, o CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da
Silva), o CIMI (Conselho Indigenista o Missionário) e a CPT (Comissão Pastoral
da Terra) reivindicam do Estado (TJMG e Governo de Minas com a Mesa de
Negociação do Governo com as Ocupações) que empreenda processo de negociação
sério e ético que contemple o reconhecimento da legitimidade da Retomada do
Povo Indígena nas terras que antes eram indígenas, mas que, não se sabe como,
passaram a ser propriedade de um dos megacorruptos do Brasil, o Eike Batista,
em São Joaquim de Bicas, MG. Se a fazenda reivindicada por Eike Batista não
cumpria sua função social e se há, segundo o censo do IBGE de 2010, mais de
7.000 indígenas em Belo Horizonte e região metropolitana, o justo e necessário
é que se reconheça a legitimidade dessa Retomada Indígena, em São Joaquim de
Bicas, e se efetue a Concessão de Uso da terra para a Comunidade indígena que
retomou essa terra desde novembro de 2017.
Reivindicamos,
ainda, o reconhecimento da legitimidade do Grande Acampamento de Sem Terra, do
MST, situado na parte da fazenda que já tinha sido devastada. Que o processo de
negociação seja urgente para um desfecho justo e pacífico desse grave conflito
agrário e social, evitando qualquer forma de violência e repressão,
reconhecendo o quanto antes o direito à terra e à dignidade dos povos indígenas
da RMBH. Os povos indígenas são, de fato,
guardiães da natureza e são quem mais tem autoridade para nos mostrar o caminho
a ser trilhado para construirmos uma sociedade que supere o capitalismo, essa
máquina de moer vidas, e nos garanta a construção de uma sociedade justa, solidária,
democrática e sustentável ecologicamente.
Assim
como o povo indígena Tapirapé ressurgiu em São Félix do Araguaia, no Mato
Grosso, povos indígenas estão ressurgindo na Região metropolitana de Belo
Horizonte. Que beleza!
Assinam essa Nota Pública:
CEDEFES
(Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva);
CPT/MG
(Comissão Pastoral da Terra);
CIMI
(Conselho Indigenista Missionário).
São
Joaquim de Bicas, MG, 11 de junho de 2018.
Obs.: Nota publicada em
vários sites e blogs, entre os quais, www.cedefes.org.br , www.cptmg.org.br, www.cptminas.blogspot.com.br , www.gilvander.org.br , www.freigilvander.blogspot.com.br
Acampamento do MST na mesma fazenda da Retomada Indígena
em São Joaquim de Bicas, MG, à beira do rio Paraopeba, dia 05/6/2018. Foto: A.
Baeta.
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